15- Eu preciso aceitar que não dá mais, pra separar as nossas vidas

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ANDY CADMAN

  Ontem foi um dia complicado. Assim que Drake foi embora, eu me permiti chorar como nunca antes, eu estava tão irritado comigo, e com os meus sentimentos que antes eram confusos. Tudo poderia ter acontecido tão facilmente se eu não tivesse tentado enganar a mim mesmo, e tentar me convencer de que não gostava dele como gostava de mim, sendo que a verdade é que eu sempre gostei dele.

Drake sempre teve um jeito rebelde, sendo atrevido desde o primeiro dia em que nos encontramos, e isso me despertou certo sentimento, é uma característica sua que se fosse em qualquer outra pessoa seria o motivo de eu odiá-lo, ele fez com que se tornasse o motivo pelo qual eu me encontro apaixonado pelos mínimos detalhes.

Queria ter descoberto antes...

    Naquela manhã eu precisei acordar cedo, pois ainda que estivesse muito indisposto para qualquer coisa, eu precisava comparecer a um médico em Charlottetown, para uma avaliação, e para que me recomendasse algo para a dor insuportável que eu estava sentindo, tanto que mal consegui dormir noite passada, eu estava destruído.

Segui para a estação de trem com o meu pai, mas ele precisava voltar para casa, e não sei se foi sorte ou azar eu ter me encontrado com Drake, ele também estava embarcando para Charlottetown...tirar as medidas do seu terno de casamento.

Ainda me doía saber que logo ele se casaria, mas eu certamente não tinha o direito de lhe dizer nada.

  Nos sentamos lado a lado, e eu podia sentir o calor do seu corpo, mesmo que existisse uma certa distância entre nós, e a cada mísero segundo, minha mente viajava alguns anos atrás,  quando dormimos juntos a primeira e a última vez, já que depois daquela noite, eu tomei a decisão mais difícil da minha vida, e que bagunçou todo um futuro que eu cogitei um dia, e que devido a ser tão incerto, tive medo de ir a diante.

  Seguimos em silêncio por uns minutos, e eu aproveitei para folhear algumas páginas de um livro que eu estava lendo por uma vez indeterminada, já que é o meu favorito desde que descobri as maravilhas da leitura. Por um momento tive minha atenção desviada das páginas, quando Drake pigarreou, chamando minha atenção.

── hmm?

── Passou três anos fora, e vai passar a viagem lendo ao invés de conversar comigo? ── choramingou me fazendo rir baixo.

── Apenas não quero focar na dor terrível que está bem no meio das minhas costas, e no meu braço ── estiquei minimamente o braço engessado, e ele assentiu, como se entendesse oque eu queria dizer.

── Ao menos leia um pouco para mim então ── pediu depois de um tempo, e eu fiz um breve aceno para que esperasse, enquanto procurava alguns trechos dos quais eu gostava.

── "O meu amor e os meus desejos permanecem inalterados.
Mas basta uma única palavra sua para que nunca mais lhe fale no assunto" ── Recitei um pequeno trecho, podendo sentir que ele oscilava o olhar entre as páginas do livro, e o meu rosto.

── Isso me lembra o Drake de um tempo atrás ── comentou, fazendo com que eu o olhasse por alguns segundos, mas logo voltei a atenção para o livro.

── "Se os seus sentimentos ainda são os mesmos de abril, diga-me. Minha versão e meu desejo ainda são os mesmos..." ── Continuei com outro trecho, soltando um suspiro longo, no mesmo instante em que eu o olhei novamente, e ele já me olhava.

Eu havia me esquecido a sensação de olhá-lo de tão perto, e como me causava desconcerto. Tudo que um dia eu me forcei a esconder, havia se libertado de repente.

Aquela frase não deveria ser do livro, e sim minhas para ele.

Se os seus sentimentos continuam os mesmos, me diga, Drake...me diga para que então eu te confesse como me sinto.

Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora