Toronto - Canadá, 12 de novembro de 1892
ANDY CADMAN
Não fazia mais do que um mês que eu havia resolvido me mudar para Toronto, e respirar um novo ar, longe de tudo aquilo que têm me feito mal durante os últimos meses, e até mesmo longe de algumas pessoas que me faziam lembrar um alguém bem específico, um alguém que eu demorei para admitir que estava amando, e quando admiti foi o sentimento mais real que eu já senti, e o mais doloroso no processo do esquecimento.
Tudo começou, ou melhor, tudo terminou naquela maldita viagem que o Drake fez para Charlottetown com Louise, a viagem que eu infelizmente não pude ir por ter que resolver assuntos em Summerside, a viagem que me fez questionar se eu seria feliz algum dia, ao lado da pessoa que eu amo.
Drake havia ido comprar coisas para a nossa pequena comemoração de casamento. Estávamos planejando há algumas poucas semanas, e depois de comprar tudo que era necessário, ele iria resolver um assunto para o seu pai, e retornar em duas semanas, como o nosso combinado.
Eu só não esperava que tudo desse errado dessa vez também.
Passadas duas semanas desde que foram, eu fiquei o dia ansioso para recebê-los de volta. Aspen e Alec vieram até mais cedo para ficar mais tempo comigo e o papai, e também demostraram interesse em conhecer Drake melhor, já que a primeira e última conversa entre eles foi no dia em que estive em sua clínica, quando Drake e Louise ainda estavam noivos.
Foi um dia inteiro os esperando, mas não tive notícias, nem mesmo uma carta de um deles dizendo que precisaram ficar mais tempo, ou qualquer coisa do tipo, somente a saudade que eu estava do meu futuro marido.
No segundo dia de atraso eu comecei a pintar uma tela para tentar esquecer tudo isso, e pensar sempre no melhor, mas somente coisas horríveis passavam pela minha mente.
E a terrível primeira semana sem qualquer notícias. Comecei a arrumar algumas coisas para ir a Charlottetown, não podia mais esperar sentado sem ter qualquer notícia deles, poderia ter acontecido.
No final do último dia da primeira semana, Louise chegou sozinha, com um curativo em sua testa, arranhões por todo o seu corpo, olhos lacrimejando, e sem qualquer sinal do Drake ao seu lado. Preocupado e nervoso, eu preferi acreditar que ele havia pegado caminho direto para a casa dos pais, afinal, já era noite, ele deveria estar cansado independente do que quer que tenha acontecido.
Louise não parava de chorar, se quer conseguia dizer frases inteiras. Papai a levou para se sentar no sofá, e trouxe um copo de água para ela, que estava completamente devastada, deixando a todos muito preocupados.
Depois de alguns minutos, ela finalmente conseguiu dizer o que tinha acontecido, e talvez eu não estivesse psicologicamente preparado.
──...e quando eu percebi o trem já havia saído dos trilhos ── ela disse entre soluços, enxugando as lágrimas que caíam incessantemente. ── Eu sinto muito, primo, mas o Drake foi um dos muitos que não conseguiu sobreviver ──
E naquele momento todo o resto do mundo pareceu perder totalmente o sentido, e tudo que de fato importava era saber se eu estava tendo o pior dos pesadelos, ou estava de fato vivendo o meu pior pesadelo, apesar de que, nem nos meus piores sonhos mais distantes eu conseguiria imaginar algo assim.
Não ouvi o barulho de vidro se quebrando quando eu deixei cair o copo que estava em minha mão, na verdade, a partir daquele momento todo o som ao meu redor havia se tornado agudo, e somente a enorme agonia crescia em meu peito, e ia se espalhando por toda parte.
Até chegar no coração.
Quando eu consegui entender o que estava acontecendo, a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto, seguida de várias outras.
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Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]
Romance*OBRA CONCLUÍDA* Era o começo de 1890, na ilha do príncipe Eduardo -Canadá- quando as famílias Cadman e Mackenzie resolveram tentar quebrar toda richa criada anos atrás, pelos seus ancestrais, mas ainda sim não se suportavam, mantinham sempre distân...