18- Disfarçando as evidências

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ANDY CADMAN

   Meus olhos se abriram lentamente no momento em que um pequeno filete de luz adentrou pela janela da cabana, acabando por atingir meu rosto pálido. Eu havia dormido perfeitamente bem, apesar de estar em um local desconfortável, pois a noite anterior foi tudo que eu mais podia desejar.

Lembrava-me perfeitamente de cada detalhe, de como Drake conseguia ser tão cuidadoso em cada segundo, suas mãos passeando por cada centímetro do meu corpo, como se quisesse guardar tudo em suas mais profundas e intensas memórias. Era recíproco. Se pudesse eu guardaria cada segundo da noite anterior. As imagens de Drake com o rosto suado, mesmo que fosse um dia frio. A forma em que seus lábios se deslizavam pela pele do meu pescoço. Tudo isso insistia em passar na minha mente logo cedo.

   Ao similar tudo ao meu redor, redirecionei minhas orbes para aquele que seguia deitado ao meu lado, e por longos minutos, um sorriso doce morou em meus lábios. Ele conseguia ser tão lindo até mesmo dormindo, a pele clara, os lábios rosados, os fios de cabelo negros caindo sobre seu rosto, dando aquele ar angelical.

Eu definitivamente estava apaixonado.

  Lentamente levei uma das mãos até o seu rosto, afastando uma mecha de cabelo, e a depositando atrás da sua orelha, tendo assim a visão completa do seu rosto. E por um tempo eu fiquei assim, apenas admirando aquele de quem escondi meus sentimentos por alguns anos, aquele que mesmo que me odiasse, continuaria sendo quem eu mais desejo.

  Passados quase trinta minutos, suas pálpebras levantaram lentamente, deixando com que agora eu pudesse também admirar seus lindos olhos verdes, como um lindo campo.

Esperei até que ele de fato acordasse, enquanto meus dedos se deslizavam pela costa alheia. Ele sorriu brevemente, se espreguiçando sobre o cobertor em que estávamos, e depois voltou a me olhar, tocando meu rosto com uma das suas mãos macias.

── Bom dia! ── com a voz rouca, obviamente por ter acabado de acordar, oque foi até mesmo fofo.

── Bom dia, meu amor ── proferi, admirando o lindo sorriso que nasceu em seus lábios no mesmo momento da minha fala.

Ele ainda me deixaria completamente louco.

── Já evoluímos tanto assim? ── ao que se inclinou, deitando metade do seu corpo acima do meu. ── Eu gosto disso ──

Emaranhei meus dedos em seus fios de cabelo escuro, olhando no fundo dos seus olhos.

── Não. Ainda não. Estamos a um passo somente ── as palavras saíram sussurradas, e eu já não conseguia mais me segurar, meu coração denunciava como ficava perto dele. ── Casa comigo, Drake? ──

E ele ficou em silêncio por um minuto.
Dois.
Três.
Quatro.
E no quinto minuto eu já estava perdendo todas as esperanças, mas ele repentinamente sorriu, fazendo meu peito se aliviar.

── Sim! Eu aceito, meu Deus...── e ele me beijou, tão intenso, sempre compartilhando aquele sentimento que agora poderia ser denominado amor. Línguas adentrando bocas alheias. ── Mas sabe que a igreja não permite casamentos homossexuais, certo? ──

── Eu sei, mas casaremos do nosso jeito, não precisamos ir na igreja pra colocar um anel um no dedo do outro, e nos beijarmos, certo? ── ele assentiu, e me beijou mais uma vez. Depois de novo.

── Já posso dizer a todos? ── a pergunta que eu mais temia chegou. ── Andy...eu quero que saiba, se todos se virarem contra nós, teremos um ao outro, e jamais vamos nos separar, enfrentaremos isso juntos ──

Ele se sentou, e segurou em minhas mãos, puxando para que eu me sentasse também, mas em momento algum ele separou nossas mãos que estavam juntas, nem desviou o olhar do meu.

Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora