16- E nessa loucura de dizer que não te quero

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ANDY CADMAN

No dia seguinte, mal conseguia parar de pensar naquele beijo que havia me deixado instável em um nível absurdo, e por mais que Drake tenha saído, dando a entender que não queria que aquilo tivesse acontecido, ele voltou menos de dois minutos depois, pois prometeu que me acompanharia até em casa, e assim fez, me deixando na porta da casa do meu pai, e sem ao menos se despedir, saiu para sua casa.

Não conseguia separar aquela situação como bom ou ruim, em parte foi os dois. Bom porque depois de todo esse tempo desde que descobri que gosto muito dele, eu havia finalmente o beijado, e ruim porque ele me afastou, mesmo tendo retribuído o beijo intensamente, ele se arrependeu...

Drake conseguia ser bem confuso, e isso acabara por me deixar confuso também.

   Estava meio inquieto, sentado no sofá da sala, quando meu pai apareceu, sentando-se ao meu lado, e fazendo com que a minha atenção caísse sobre ele. Eu sabia oque ele queria, mas que óbvio que era saber de mim, como estou, e pelo oque estou passando.

── O que te preocupa? ── perguntou baixinho, alisando meu braço direito. ── Pode me contar ──

Por longos minutos eu pensei se deveria conversar com ele, se depois de tanto tempo, eu deveria finalmente ter coragem para falar tudo oque aconteceu, esperando que as consequências viessem.

Eu realmente precisava de alguns conselhos, aqueles que só alguém sábio e vivido pode dar, e ninguém se encaixava melhor nesse papel do que o meu pai, que apesar de ainda estar com a mente um pouco confusa, ainda era o mesmo.

── Quando mais novo, me apaixonei por alguém, mesmo sabendo que o que tínhamos era errado ── iniciei, meio receoso. ── Tudo acontecia intensamente, cada emoção...── sorri ladino. ── Mas então, em um dia muito nublado, eu resolvi que seria melhor se acabassemos com isso ──

Foi necessário alguns segundos para que eu continuasse, e em nenhum momento havia olhado diretamente nos olhos do meu pai, talvez por medo.

── E então fui para a guerra, achando que esqueceria esse que um dia amei ── suspirei baixo, tomando coragem para elevar meu olhar para o homem à minha frente. ── Esse alguém... é um garoto. Descobri que os meus sentimentos não mudaram, e logo ele vai se casar com outra pessoa ──

E o silêncio veio, me deixando com medo do que viria a seguir, eu realmente não sabia oque esperar do meu pai, não tinha idéia do que fazer, de como agir, estava apenas torcendo para que aquele não fosse o meu dia de morrer, e então ele se pronunciou.

Inicialmente não usou palavras, e sim colocou sua mão sobre a minha, parecendo assentir para ele mesmo, enquanto pensava em uma forma de começar a falar.

── Eu também quero contar uma coisa ── confessou, e eu assenti como sinal de que estava ouvindo.

── Pode falar

── Quando bem mais novo, eu me apaixonei por alguém, era tudo intenso, bonito, e errado, ninguém queria que ficássemos juntos ── começou, me deixando confuso. ── Fomos separados e obrigados a nos casar com pessoas que nem conhecíamos, e então nossos filhos nasceram, cresceram, e se apaixonaram ── continuou, e eu precisei de um tempo para processar tudo. ── E a história se repete, mas nossos filhos não estão juntos por medo, e não porque os pais separaram eles ──
── Pai, desculpe-me, mas não estou conseguindo te entender ── disse confuso, e ele riu.

Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora