Sophie
— Que porra é essa? — Um garoto havia esbarrado em mim com um copo de bebida.
— Perdão! — Ele falou se afastando um pouco envergonhado.
— Droga! — Não fiquei irritada. Estávamos mais apertados do que tudo e por metro quadrado dividíamos espaço com mais oito ou nove pessoas. Me aproximei de Yume minha colega de quarto que ainda dançava e eu me perguntava em silêncio como sua maquiagem ainda estava intacta.
— Você tomou um banho! — Yume falou como se aquilo já não fosse obvio demais. Ela riu da minha situação.
— Esse é meu vestido preferido! — Fiz biquinho para ela, que sorriu usando as próprias mãos para secar meus braços encharcados.
— Todo vestido é seu favorito! — Ela continuou dançando enquanto tentava me ajudar de alguma forma. Essa música realmente era agitada, mas não o suficiente para me fazer esquecer que estava molhada e cheirando a álcool.
— Yume, vamos ao banheiro comigo? — Pedi. Japan ainda dançava o que indicava a mim que ela havia usado alguma coisa ou só estava animada demais. Eu sabia desde o momento que cogitei em vir, não era uma boa ideia. Eu teria que cuidar dela, como em todas as vezes. — Por favorzinho! — Ela sorriu e me puxou em direção ao banheiro.
— Dá última vez que alguém me falou isso uma de nós duas voltou para casa grávida! — Senti um pequeno arrepio correr pela minha espinha enquanto atravessávamos o mar de gente. Ela não soltou a minha mão enquanto gritava alguma coisa engraçada para me fazer rir. — Nunca sou eu! — Eu fiz ela parar e me encarar de frente.
— Você bêbada consegue falar mais merda do que sóbria! — Essa frase deveria ser dita ao contrário, mas eu a conhecia desde o primeiro dia que pisei aqui. Ela falava tanta merda, que nem se importava, pois geralmente sabíamos que era apenas a verdade. Entramos no banheiro e haviam duas garotas se pegando. — Desculpa, eu não... — Elas se separaram quando viu nós duas e isso foi um pouco constrangedor demais.
— Não está me reconhecendo, irmãzinha! — Cloe falou enquanto arrumava sua saia jeans rasgada e eu fiquei ainda mais envergonhada por não reconhecer minha irmã, que agora estava com os cabelos pretos como a noite. — Empaca foda! — Ela sorriu ao falar isso e eu nem se quer sabia que ela também se interessava por meninas. Sorri de volta a Cloe e me aproximei das duas devidamente recompostas.
— Eu só não imaginei que você estaria aqui! — Fazia mais ou menos quatro anos que não nos falávamos de verdade. Depois do penúltimo ano da escola nós nunca mais fomos as mesmas. Depois de Cloe voltar a ser loira e se tornar a raposinha mais popular do colégio, apenas nos afastamos. Ela se aproximou de mim como se fosse me dar um abraço, mas eu a impedi. — Eu acabei recebendo um banho de bebida! — Ela mostrou a língua e quando pude encarar de relance seus olhos, ainda eram os mesmos, mas já não tinham o mesmo brilho de antes.
— Que nojo! — Ela estava bêbada também, talvez eu também estive um pouco alta, apesar de prometer a mamãe que não extrapolaria nas festas da faculdade. — Senti a sua falta! — Sorri, mas ao mesmo senti por todas vezes que eu tentei me aproximar, mas ela negou. Sei que doía muito ter que lidar com todos os problemas de seus pais, mas eu estava ali.
— Você nunca mais me procurou! — Cloe me olhou um pouco sem graça e as meninas ali se entre olharam pelo clima que meu comentário causou. Ainda era uma situação estranha falar sobre meu pai biológico e toda aquela coisa que aconteceu no passado. Talvez o álcool em meu sangue me deixava assim mais verdadeira e completamente emotiva.