Sophie
Andar de ônibus me rendiam todos os dias algumas histórias. Hoje seria diferente se não fosse por uma senhora que simplesmente caiu no chão e fingiu um desmaio, acho que ela ficou envergonhada por ter caído e então se formou esse caos. Eu não fiquei irritada por ter que descer, muito pelo contrário, achei engraçado, ninguém acreditaria em mim.
Estava a apenas alguns quarteirões do meu antigo serviço e estava indo em sua direção depois de duas semanas sem pisar ali. Estava com vergonha de dizer que havia sido mandada embora por conta da confusão com meus irmãos, foi um palco tão banal, que ninguém se lembra mais disso. Então eu matava o meu trabalho, isso era devidamente estranho e confuso, não haviam motivos para mentir, mas eu mentia, era bem mais fácil esconder a verdade.
— Sophie! — Amélia falou de maneira animada quando me viu entrar pela porta e o sino tocar, me recordei ao mesmo tempo o quão odiava esse som.
— Resolvi passar para te dar um abraço... me despedir... — A olhei, estava um pouco sem graça por estar ali, mas a garota do interior tinha um sorriso ao me ver.
Eu estava ensaiando esse dia a a todo esse tempo, mas a principal verdade era que não tinha lugar para ir. Yume havia finalmente se mudado para um apartamento minúsculo, onde vários estudantes de várias universidades dividiam as despesas, mas ainda estava buscando estágio na sua área de atuação, a casa de Josh não permite mulheres, nem visitas, Lola estava trabalhando, Henry estava tão atarefado com a faculdade que mal tinha tempo para se sentar e relaxar, parecia que apenas eu estava estagnada no mesmo lugar, como se não houvesse um propósito, nenhum caminho para seguir.
— É bom te ver, querida! — Amélia indicou para eu me sentar no lugar vago no balcão. — Tenho novidades! — E assim fiz, apesar de saber que alguém acharia ruim, eu estar ali atrapalhando o trabalho dela.
— Então me conta! — Respondi com curiosidade, totalmente animada por uma fofoquinha logo de manhã.
— Fui escolhida! Eu vou fazer um papel simples, mas eu vou realizar o meu sonho! — Vi um brilho diferente nos olhos dela, algo apaixonante. — Você, seus pais, me ajudaram e eu serei eternamente grata a isso! – Sorri de forma genuína. Era tão importante para ela. Amélia tinha um sorriso grande e um olhar doce estampados em seu rosto. Eu estava tão feliz por ela.
— Oh, Amélia! — A puxei para um abraço sem me importar com o balcão que nos separava, sem me preocupar se ela estava gostando ou não. — Você merece tanto! — Segurei em suas mãos e voltei a encarar seu olhar de gratidão.
— Sophie, eu acho que ter te conhecido me favoreceu a isso, eu nunca teria conseguido se não fosse sua família! — Sorri, sem graça.
— Você teria conseguido sim! – Era um mérito dela, não nosso. Soltei suas mãos. — As vezes tudo que precisa é um pouco mais de segurança, o que meu pai fez foi apenas perguntar sobre os próximos testes! — Talvez estivesse falando isso em voz alta porque fosse exatamente o que eu precisava ouvir.
— Obrigada, Sophie! — Ela sussurrou ao voltar ao trabalho de forma habitual, me sentei novamente e brinquei com meu colar, tão aparente, tão preciso, tão solitário. Amélia me encarava enquanto eu procurava alguma pista em absolutamente nada. — Preciso te contar mais uma coisa, Adam sempre pergunta por você, ele até me pediu o seu número de telefone, mas eu não dei. Até me ofereceu dinheiro!
— Ele não muda nunca! — Parei de tocar em meu colar, pois sabia que ela estava falando isso por eu estar tão vidrada nele. — Sempre achando que consegue comprar tudo! — Eu sentia a falta dele e torcia para de alguma forma ele aparecesse pela porta, era como se implorasse para que Adam chegue e me faça se sentir especial novamente.