Demi
— Tudo bem, mamãe. Eu acho que já chega, duas garrafas são mais que suficientes! — Sophie me impediu de pegar a terceira garrafa. Talvez nossa conversa tenha se tornado um gatilho para mim. Eu encarei minha menina mais velha e fechei os olhos com um suspiro. Nunca quis ser para eles o que aquele que me deu este sobrenome era para mim, mas era inevitável. Um ciclo.
— Você tem razão. Me desculpe. — Era difícil não manter o controle, era complicado ser apaixonada pela sensação de esquecer tudo. Ela se aproximou de mim e tocou as minhas costas em forma de apoio. Sophie já não era aquela garotinha que abraçava forte, mas sim uma mulher que se mantinha firme e com postura, apesar de ainda ser carinhosa. Eu deveria aceitar suas mudanças, e eu deveria encarar as minhas.
— Eu estive pensando sobre Adam e eu não deveria dar outra chance a ele, mas eu sinto que poderia o ouvir melhor. Ele tem uma história, ele tem um motivo. — Sophie me encarava com seus olhos ainda cheios de esperança sobre sua relação com seu pai e isso me causava náuseas. Eu não queria ser a pessoa que colocava os seus pés no chão, mas ela iria cair e se machucar novamente.
— Você está cansada de saber a minha opinião sobre esse assunto. — Eu não falei de maneira brava, apesar de estar totalmente irritada, ao mesmo tempo que conversava com ela, eu tinha que lutar contra meus próprios pensamentos, contra o meu próprio impulso. — Filha, você já não é mais uma garotinha, eu não posso decidir por você, mas prefiro que você fique longe dele. Essa situação só irá machucar você.
— Eu sei, na verdade, eu sei! — Fiquei sem entender. Ela queria ser machucada? Sophie estava tão acostumada com a dor de ser rejeitada que ela precisava disso de novo? A encarei buscando por respostas.
— Então! — Mudei de assunto assim que percebi que ela não queria mais falar sobre Adam. Sophie se levantou e me pareceu cabisbaixa, por não a apoiar, mas eu não poderia fazer isso. — Você gostou do macarrão com queijo? — Me aproximei da pia junto a ela que colocava nossos pratos dentro da máquina de lavar louças.
— Sim, está muito bom! — Sophie se virou a mim. — Posso te fazer uma pergunta? — Eu assenti e ela pensou um pouco. — Por que Lucy não vem morar de verdade com a gente? Desde quando Aber faleceu, ela está se distanciando muito de nossa família. — Essa não era a sua pergunta de verdade. Eu não entendia porque ela não falou o que estava pensando. Ela não me parecia assustada, mas eu poderia imaginar que estava.
— Ela tem preferido ficar sozinha. Eu li algo sobre a solidão da terceira idade, deve ser essa fase. — Lucy tinha entrado nessa faixa etária a pouco tempo, mas eu deveria me preocupar mais. Eu era sua única família próxima agora. — Eu tento conversar com ela e até ofereci um quarto a ela, mas sua preferencia é pela casa de três cômodos ao fundo, eu não posso colocar uma arma em sua cabeça e obrigar. — Fiz minha menina sorrir pela minha forma de falar. Eu não queria fazer ela se incomodar com os meus problemas, não queria que ela voltasse ao passado por me ver bebendo. — Acho que é uma forma de superar o luto.
— Ela está tão sozinha! — Sophie sussurrou de forma pensativa.
— Todos somos sozinhos. — Toquei a sua mão. — Isabela mesma disse isso esses dias e veja como aquela garota estava certa. No fim é apenas você, não existe outro alguém.
— Mãe, você não está sozinha, eu sei que você se sente, mas olhe ao redor. Apenas olhe ao redor. — Sophie me interrompeu. Eu poderia acreditar em suas palavras, eu poderia enxergar todas essas pessoas que se importam comigo, mas minha maior luta era interna. — Eu estou aqui! — A puxei para um abraço, como não fazíamos a dias. Eu precisava dela.