Sophie
— É a primeira vez que eu faço isso! — Estávamos paradas na praia quase vazia, em uma noite fria. Três amigas, que vieram um trauma juntas. Isso devidamente poderia ter nos aproximado de forma estranhamente sobrenatural, mas de alguma forma viver isso nos trouxe um bloqueio.— Eu nem sequer deveria! — Apanhei o cigarro de maconha das mãos de Bella e o levei a boca. Era a primeira vez que eu puxava aquela fumaça e a absorvia, como se fosse oxigênio. Não tossi, de alguma forma já sabia como fazer aquilo.
— Fica fria! — Bella me acalmou colocando sua mão em minhas costas. Eu fiquei parada aterrando minha mão esquerda na areia e olhando em direção ao mar, profundamente escuro. — Está sentindo alguma coisa? — Neguei com a cabeça.
— Então, dá mais um puxe aqui! — Cloe se voltou a mim e eu nem tinha percebido quando ela tinha o apanhado de minhas mãos. Fiz o que ela pediu, de forma mais intensa agora. Eu queria sentir o que todos eles sentiam.
— Eu não sabia que você fumava, Bella! — Minha irmã puxou assunto com nossa amiga e eu estava encantada com o barulho das ondas do mar, com a areia que escorria em meus dedos e como o céu estava escuro, quase sem estrelas. Por um momento tudo era lindo e calmo, não havia pensamentos em minha cabeça.
— Eu gosto de fazer isso de maneira recreativa... — Ela riu fazendo espirais com os dedos em minhas costas. — É realmente bom para relaxar... — De alguma forma eu estava entrando naquele espiral.
— Estou ficando tonta! — Elas riram. — Deve estar fazendo o efeito? — Me tranquilizei apesar de sentir o meu coração palpitar sem parar. Olhei ao redor e de alguma forma tudo estava se mexendo, como se o movimento das ondas do mar, estivessem no ar.
— Sim! — Bella me certificou que tudo estava bem. Senti carinho em seu olhar e isso me tranquilizou de alguma forma.
— Apenas curta isso! — Assenti a Cloe. Deixei o som das ondas me embalarem. Era possível ouvir o melhor da vida, era incrivelmente possível silenciar os próprios pensamentos. Eu nunca tinha estado chapada desta forma, era diferente de estar bêbada, eu poderia dizer que estava gostando, não tanto quanto as garotas ao meu lado, que riam sem parar. Talvez não estivesse vivendo um momento devastador de solidão, como achava, mas sim, um momento de solitude, um momento de descoberta, de transição, de movimento.
— Não ria tão alto! — Pedi a elas. Precisava de silêncio. Precisava do som do mar. Precisava desse momento. — Escuta esse barulho do mar. — Indiquei a elas com cuidado, como se tudo fosse frágil. — Dá uma sensação de paz, não dá? — Elas concordaram comigo e o silêncio reinou novamente.
— Eu estou feliz por vocês estarem aqui! — Cloe falou com o coração. Seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados por toda emoção a mais ou menos uma hora atrás. Bella a abraçou com carinho e eu apenas sorri.
Era estranho saber, que mesmo depois de tudo o que aconteceu, eu ainda sentir um imenso carinho por ela. Acreditava que tínhamos uma grande conexão, algo que nos unia, sabia que não era apenas ter o mesmo genitor, mas algo relacionado a nossas almas.
Eu não fazia ideia o motivo para tudo dar tão errado. Como uma super estrela em ascensão, caindo em direção a terra e fazendo o maior estrago. Isso literalmente resumia a minha jornada nesse planeta. E quão vasto era o universo, e quão gigante era o mundo, e mesmo tão gigante, eu vim parar aqui. Justo aqui. Com a vida mais fodida, que qualquer pessoa possa imaginar.
Depois do segundo ano do ensino médio, tudo mudou... e como mudou...
— Acho que Sophie está em uma viagem ruim... — Cloe comentou em meio sua tagarelice junto com Bella. Meu nome ser pronunciado chamou minha atenção, mas meu olhar estava totalmente vidrado na imensidão do céu.