Demi
— Não! — Eu poderia negar pela eternidade a vinda desse garoto para cidade onde morávamos. — Isso não é justo! — Wilmer rebatia aos meus argumentos, ele não concordava em mais um vez mentir para ela, ele tinha razão, não era justo, mas eu não conseguiria.
— Eu não posso falar a ela sobre o que aconteceu. — Eu não queria reconhecer que minha menina, poderia estar usando drogas, mas pior ainda seria reconhecer que ela estaria se relacionando com um abusador e isso me doeria mais. — Eu não posso deixar ela tão vulnerável! — Havia perdido a minha castidade em um abuso, eu estava consciente, eu dizia não, mas não era ouvida. Eu poderia voltar a ele, para finalmente tomar o controle das coisas e eu acredito que Sophie esteja passando pela mesma situação. Poderia encarar meu esposo e dizer a ele o quanto tudo era confuso, poderia explicar como estava me sentindo e como o passado retornava e me jogava contra a parede, mas não adiantava. — Wilmer, você não entende.
— Não? — Neguei, mesmo que ele ainda me encarava incrédulo. — Temos duas opções, encarar a verdade e magoar ela agora ou encobrir uma mentira e magoar ela depois. — Levei minhas mãos a cabeça, ainda me sentia encurralada, eternamente presa nesse maldito passado. — É muito simples. — Senti suas mãos se aproximarem de minhas costas, mas afastei o seu toque. Não era simples, nunca foi.
— Não podemos falar a verdade agora, ele está vindo. Yume falou, ele irá fazer uma surpresa a ela. Teremos que fingir. Céus! — Eu me levantei de pressa da cama, toda essa pequena discussão sobre nossa filha, estava me deixando com náuseas.
— Demi pare de mentir, encare a verdade, seja honesta com todos a sua volta, seja honesta com você! — Eu me lembro de quando ele me dizia isso. Me lembro de como essas mesmas palavras ricocheteavam em meus ouvidos quando estava internada em uma clinica de reabilitação. Talvez eu nunca aprendi a ser honesta, principalmente comigo mesma.
— Eu não posso ser com ela! — Eu não posso ser, porque sabia das consequências, sabia o quão ela se perguntaria se era culpada, se deveria ter bebido ou usado coisas ilegais aquela noite. Eu apenas queria proteger aquela menina, como queria ser protegida aos dezesseis. — Como ela irá reagir ao saber que isso aconteceu? — Wilmer suspirou fundo, talvez por ter se lembrado.
— Nunca saberemos, até você ser honesta! — Eu não me importava com seus rótulos sobre mim.
— Se ela for apaixonada por ele? — Mudei de assunto. — Ele está na cidade!
— Ele deveria ir a prisão! — Wilmer gritou e eu não o via assim a anos. Tão nervoso e irritado. — Para de ser uma mãe protetora e seja verdadeira! — Ele se aconchegou a cama. — Eu irei falar com ela! — Wilmer indicou que iria levantar.
— Não! — Mas eu o impedi de prosseguir. Segurei em seus braços e me sentei sobre suas pernas. — Eu não permito isso! — O encarei de perto e senti a sua respiração ofegante. Ele me encarava como se soubesse sobre tudo e quando se está morando a quase vinte anos com alguém, você praticamente consegue ler seus pensamentos.
— Pare de mentir Demetria! — Ainda o olhava. Ainda o via além de seus olhos. Respirei fundo e me afastei com cuidado.
— Você sabe! — Senti as minhas mãos tremerem e o mundo desabar sobre meus pés.
— Sempre soube! — Ele parecia chateado, como se tudo que construirmos se resumisse a cinzas nesse momento. — Estamos falando da mesma coisa? — Fiquei em silêncio, me acomodando ao seu lado na cama. — Da casa? — Assenti. Estava cabisbaixa, eu não queria que ele perdesse sua confiança em mim. Eu não queria decepcionar o homem que esteve ao meu lado todo o tempo, aquele que mesmo quando desistiu de mim, ainda estava lá para quando eu precisasse. — Eu não sou um mentiroso, mas também poderia ser um homem orgulhoso. Eu entendo porque não conseguiu desapegar, eu entendo tudo o que te prende aquela casa, mas eu entendo porque não confiou em mim.