Sophie
— Eu não sabia que seu nome em brasileiro soa como Sophiezinha! — Isabela brincou no meio de nosso almoço. — Pequena Sophie, chega mais! — Nós duas estávamos um pouco mais afastada de todos nossos amigos, mas sentia uma leve impressão que ela estava tentando impressionar eles. Chamar a atenção, fazer parte.
— Isabela, sem idiotice, por favor! — Pedi de maneira irritada por sua breve maneira de me puxar para perto, enquanto eu levava um almôndega a minha boca. Ela simplesmente caiu e eu fiquei a encarando ainda mais irritada por sua risadinha abafada.
— O que foi? — Respirei fundo para realmente não ter que a responder. — Não está animada para o baile? — Voltei ao meu almoço. Ainda em silêncio, apesar do refeitório estar uma grande baderna. — As pessoas só estão falando disso, por aqui... sobre o baile de inverno. — Isabela estava se esforçando. A encarei com cautela e apenas enxerguei uma criança frágil. — Me diz, o que houve?
— Estou com um sentimento ruim, mas não se preocupe, já irá passar... — Nesse instante eu já sabia que pensamentos assim, eram consequências da minha ansiedade. Esse pressentimento que algo ruim estava acontecendo, era apenas a minha cabeça querendo me pregar uma peça. — Uma sensação que algo ruim está acontecendo ou que irá acontecer... — Tentei explicar querendo ser compreendida, mas minha irmã apenas me olhou com cara de confusa. — Nunca sentiu isso? — Ajuntei nossos pratos, em apenas um.
— Não! — Isabela rebateu. — Isso é coisa de gente doida! — Ela sussurrou em uma tentativa nula de me fazer rir.
— Por que não se senta com seus amigos? — Demonstrei minha irritação. — Dá um tempo!
— Eles não são meus amigos, mas se você quiser que eu saia de perto, eu fico longe do seu espaço! — Isabela falou de forma calma. Estava com culpa por ter sido tão grosseira, ela era apenas uma adolescente.
— Não! Espera! — Pedi a impedindo de se retirar.
— Estou caindo fora!! — Minha irmã rebateu. A encarei e pude observar Alex se aproximar por detrás dela. — Só queria um lugar para dormir essa noite, eu juro que não conto para maluca com nome de planta! — Achei uma grande audácia ela falar assim, mas confesso que achei engraçado esse tipo de referencia.
— Você é genial! — Alex tocou o ombro de minha irmã, enquanto me encarava.
— Todo mundo fala isso! — Isabela falou de forma convencia a ele. Pegou nossos pratos e os levou até o balcão. Sorri meio agradecida por ela ter levado o meu, sem nem sequer eu ter pedido.
— Oi Alex! — Pedi para ele se sentar ao meu lado. — Como estão suas aulas? — E ele se sentou com um leve sorriso, apesar do olhar cabisbaixo.
— Terríveis! — Assenti, pois cuidar de crianças ricas, era o pior castigo que alguém poderia ter. Eles se achavam os donos do mundo e talvez realmente fossem, para isso era preciso apenas ser feita uma ligação e tinham o que queriam. — Algumas crianças só querem ficar no celular, elas não gostam mais de fazer esportes!
— Acho que um acampamento sem o uso de celular, não era apenas uma regra chata, mas sim para nos proteger também, parar um pouco de olhar para essa tela e encarar ao redor. — Senti um arrepio ao imaginar o meu pai falando exatamente isso, logo em seguida comentar o quanto o seu tempo era tudo mais incrível. Talvez eu já tenha chegado nessa fase da vida. — Crescer é entender as decisões dos adultos? — Fiz uma pergunta retórica, mas mesmo assim continuei o encarando. Nós dois sabíamos a resposta.