Tempestade dos mortos

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Capítulo 3


Aquela maldita sala é escura, quase não se pode ver nada ali além do feixe de luz que entra por uma minúscula janela na parte superior da parede.

O rapaz, que sentado no chão apenas move os dedos de forma aleatória, pode ouvir claramente os sons que vem lá de fora.

Os grunhidos e gemidos incessantes.

É irritante e cansativo ficar ali, mas ele não tem a menor ideia de pra onde ir.

Ele nem mesmo sabe onde está, tem uma mapa jogado no canto com o nome de uma cidade do interior, uma cidade que ele nunca ouviu falar, e mesmo se tivesse... fazia quase quatro anos que o mundo teve um fim, não se lembraria de um lugar daqueles.

Ele suspira, os olhos opacos mirando a porta à sua frente, a única coisa que o mantém a salvo ali.

Os dedos tatuados ainda se movem ao ritmo de uma música que ele gostava quando mais novo, quando ele podia apenas ligar o celular e colocar alguma banda meio emo para tocar.

Era tudo mais fácil naquela época, ir à escola, fazer um curso, cuidar da casa, do pai, falar com os amigos malucos. Era tudo muito, muito fácil.

E agora... bem, agora ele tem que passar a noite em claro encarando uma porta por medo de dormir e acordar sendo devorado por aquelas coisas.

Ele não tem certeza total de que esse era o pior caminho. Talvez morrer fosse a melhor resposta, já que a maioria das perguntas nunca seriam respondidas.

Por que?

Como?

Onde? Quando?

O que diabos aconteceu?

E principalmente...

Quem foi o filho da puta que causou isso?

Ele sabe bem que a humanidade já estava podre desde sempre, mas não esperava que ela fosse capaz de se destruir tão rápido. Não esta surpreso, mas não esperava tanto.

Mais um suspiro escapou de seus lábios ressecados. Ele tem sede, fome... teria que sair dali em algum momento.

Tudo que tem é aquele maldito mapa e sua mochila com alguns itens medicos.

A única coisa que conseguiu trazer ao fugir. A única coisa que ele sempre tinha com ele.

Ele se deixou rir baixo, sozinho.

O mundo acabou, mas ele continuou com aquilo. Aquela loucura de salvar vidas e toda essa besteira.

Era bem mais fácil o fazer quando se recebia por isso.

Não que ele recebesse, mal tinha iniciado a faculdade quando tudo começou... ou acabou, tanto faz.

Mas ele não gosta, de forma alguma, de ser a pessoa responsável pela vida dos outros. Afinal, ele é capaz de ajudar, então a escolha é dele, e a consciência também.

Maldita hora em que decidiu seguir medicina.

Ele sente o corpo enrijecer quando o estrondo alto da porta ecoa pelo cômodo.

É um morto chocando-se contra o material de metal. Um acidente, apenas isso.

Um acidente comum que é capaz de fazer todos os ossos do rapaz gelarem.

Ele não tem como se defender ali, ele não tem armas e se garantir na mão seria burrice. Ele nunca foi o tipo bom de briga apesar de tanto tempo naquele lugar.

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