Capítulo Sete

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Nossos endereços são um pouco distantes e demorou em torno de trinta minutos para chegar em minha casa.

— Isso são horas de chegar mocinha? 

Meu pai estava parado no vão entre a porta e a calçada me esperando, mostrando-se bastante 'descolado' com um roupão azul. A falta de paciência nítida em seu rosto me alerta que eu não devo comentar nada sobre o fato dele estar desse jeito quase no meio da rua.  

— Eu perdi a noção do tempo, perdão. 

Continuo a andar e com muita sorte posso chegar até o meu quarto sem ser interrompida e interrogada. Eu não quero dar muitos detalhes sobre o meu término com o Hayato e da minha noite na casa de um cara que eu mal conheço. 

— Opa, opa, calminha. Pode me explicar que história é essa de que você tava num amigo, se antes de sair você contou que ia na casa do seu namorado?

Papai não me deu uma mísera chance de pôr os pés no primeiro degrau onde me levaria até o meu quarto. 

Mamãe! Ela é tão fofoqueira, deveria ter ficado apenas entre nós duas o que eu contei na chamada.

No mesmo instante em que penso o que responder, mamãe vem da cozinha e para perto do aquário olhando para mim e para o meu pai. Pela falta de consideração dela em ter me dedurado, eu vou contar menos que um resumo. 

— Eu e o Hayato terminamos e eu não quero falar sobre isso. 

Subo as escadas quase correndo com o falatório rolando lá embaixo. Esquivo-me de todas as perguntas como um vampiro (em The Vampire Diaries) foge do sol sem o anel que os protege. Amanhã quem sabe eu estou mais disposta em responder algumas dúvidas deles, pois sei que se preocupam, mas não quero que eles me bajulem ou tentem me fazer sentir melhor como se eu fosse de vidro. Nós três nunca passamos por uma situação como essa. Dos últimos dois anos para cá, tudo foi uma grande novidade. Eles acompanharam de pertinho as minhas mudanças, mesmo me amando de qualquer jeito.

Jogo-me na cama com esperança de que depois de tudo eu possa pegar no sono rápido. 

E foi o que aconteceu.

→ → →

Acordei satisfeita com o tempo que adormeci, agradecida por não ter durado muito tempo acordada ontem a noite. Seria terrível se as lembranças me corressem como um filme tenebroso da minha vida, acrescentado cenários que me dão medo, como por exemplo: o que virá acontecer amanhã, no colégio. 

O maior desejo de Lia era ser assumida e eu era o seu único empecilho, não há dúvidas que os dois irão aparecer amanhã de caras lavadas e cínicas mostrando a todos que são casal. Ninguém irá se compadecer de mim porque é assim que as coisas naquele lugar são, Lia pode ser julgada mas não tanto quanto eu serei, afinal agora não tenho ninguém com status para poder limpar a minha imagem. Para aquelas pessoas a única coisa que importa é a sua popularidade, obviamente positiva, não precisa exatamente ser classe média alta, basta ser bonito (a) e andar com as pessoas "certas." É assim que as coisas funcionam e eu estou amedrontada de que tudo volte a ser como antes.

Esfrego os meus olhos bocejando e quando viro para pegar o meu celular na escrivaninha, vejo uma bandeja de comida. Dou um sorriso torto por receber algo assim e por pensar que pode ser um agrado da minha mãe pelo que eu contei ontem.

Levanto e recuso-me a sentir o gélido piso de granito, calçando as minhas pantufas de coelhinhos. Para olhar mais de perto a bandeja de café da manhã. Nela tem três bowl com morangos, mirtilos e bananas cortadas em rodelas com leite em pó por cima, do jeito que eu gosto. Sobre um pratinho tem duas torradas com geleia de framboesa e no outro pratinho tem três panquecas com mel. Um café da manhã americano quase completo. 

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora