Capítulo Onze

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A minha confiança foi esvaindo a cada distância percorrida, até chegarmos em sua casa. A minha intuição dizia-me que eu não estou grávida, mas temo que ela esteja errada dessa vez, e eu acabe tendo uma grande decisão para tomar em minhas mãos.

Agarrada a mochila mantendo-a na frente do meu corpo o todo o tempo, eu saio do carro e vou até a porta da casa de Yuta espera-lo estacionar o veículo.

Nós dois estávamos muito silenciosos ao entrar na casa. O medo do resultado ser positivo engolia todas as piadas que eu poderia fazer para amenizar a situação.

Subimos as escadas e atravessamos o corredor que não me era nada estranho. Apesar do álcool daquele dia, os móveis e a decoração de tudo que os meus olhos conseguiram capturar estão bem guardados em minha cabeça.

Em suma, o banheiro integrado ao quarto de Yuta, onde estou agora, tentando lembrar das instruções que a moça da drogaria me deu.

Não estou preparada.

Tentando suprir coragem, eu busco na minha mochila a escova e pasta de dentes para poder finalmente tirar o gosto ruim da minha boca e me fazer ganhar mais tempo.

Estou sozinha, com meu reflexo fracassado no espelho.

Não uso mais aquele aparelho extrabucal, o qual as pessoas olhavam com nojo. Os óculos foram substituídos por lentes, com a orientação da Lia. Segundo ela, eu ficava muito mais bonita sem. De fato.

As roupas também mudaram. Agora eu tenho uma espécie de estilo. Meu cabelo nunca está bagunçado e meu rosto tem sempre algum traço de maquiagem. Eu me olho e vejo alguém que não sou. Na real eu pareço uma boneca fabricada para ser perfeita igual a todas as outras, esteticamente e até mesmo a personalidade.

"Os garotos não gostam de garotas mais inteligentes que eles."

Esse conselho me fez reduzir as minhas médias. A mudar de banca durante as aulas. A não ser mais a favorita de alguns professores. O meu novo comportamento atingiu a todos: os meus pais, os professores e os alunos que passaram a me tratar como gente.

Os meus pais no início não entenderam o motivo de eu não ser mais a garota dedicada e esforçada nos estudos como antes, porém eles pararam de questionar quando souberam que eu estava namorando o Hayato. Era claro para eles que eu estava mudando para me encaixar com os demais, a ser a namorada perfeita e que a grande maioria das garotas queriam ser.

Alguém como eu não está preparada para cuidar de um bebê. Ensinar coisas que nem mesmo eu sei. A maternidade funciona para quem sabe o que está fazendo e está preparada para dar um amor maior que todos os outros para uma única pessoa. Tem que ter responsabilidade e maturidade. Uma mãe problemática acaba criando uma criança problemática, que será um péssimo adulto. E eu não quero essa bagagem para mim.

Sem mais enrolações eu peguei a caixa do Clearblue com as mãos trêmulas e a rasguei já sentada na privada esperando a vontade de fazer xixi chegar. Tirei a tampa e o posicionei no lugar. Procurando na caixa por quanto tempo eu tenho que esperar.

Aqui diz três minutos. É bastante tempo, mas eu irei confiar no resultado que der.

Tampo o teste colocando em cima da pia e lavo as minhas mãos contabilizando os minutos no meu relógio, regulando a minha respiração.

Eu não posso estar...

Eu não posso estar...

Mentalizo essas palavras de olhos fechados segurando com força a bancada da pia, para tentar me tranquilizar um pouco. Eu sei que nenhum método é cem por cento porém nunca aconteceu nenhum acidente da camisinha estourar ou eu esquecer de tomar os anticoncepcionais. É uma grávidez quase impossível de acontecer. Se fossemos descuidados até entenderia, mas não éramos...

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora