Capítulo Oito

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Yuta sacode o meu corpo esperando que eu reaja. 

A voz dele é como a saída de um labirinto escuro e solitário. Eu preciso atravessá-la se desejo respirar novamente. 

Fugindo da metáfora; eu preciso que ele me tire daqui. Demonstro a minha vontade através de um abraço, escondendo, afundando, meu rosto em seu peito. 

— Vamos sair daqui. 

Ainda me abraçando ele me põe ao seu lado e segurando com força a sua camisa nós dois seguimos para um corredor que dá acesso a alguns degraus. 

Nunca me atrevi a ir nessa parte do colégio, nunca tive curiosidade ou motivos para conhecê-la. Mas me arrependo de não ter vindo há muito tempo, quando uma linda paisagem enche os meus olhos. A vista do terraço do colégio é a parte mais bonita daqui, sem dúvida nenhuma.

Afasto-me de Yuta para poder avistar melhor a cidade daqui de cima. As telas de proteção me dão segurança para me aproximar da "beirada".

O vento refrescante esvoaça os meus cabelos e seca os meus olhos. Os espinhos em minha garganta são retirados um a um com ajuda do cenário e tudo que o compõem. É um espaço único para fazer o que quiser, inclusive chorar sozinho. 

— Você sempre vem aqui em cima?

Olho para trás sob os meus ombros e vejo Yuta com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans observando os prédios e casas, assim como eu estava fazendo. 

— Sim, quando quero ficar sozinho.

É um espaço "proibido" pelo colégio porque eles acham que é perigoso alguma briga acontecer aqui em cima e não ter ninguém para ajudar. Não há muitas chances de algum louco jogar alguém pôr a grade ser alta, mas não é impossível. Eles devem querer prevenir esse tipo de "incidentes" também.

Ao lado da porta de entrada/saída tem outra porta mais estreita que parece ser de uma salinha como um depósito que eles não devem usar mais pois seria cansativo ter que trazer alguma coisa para cá com o tanto de escadas, que é o único caminho que dá acesso a esse lugar.

— E já trouxe alguém aqui? 

Viro-me totalmente para encará-lo e vê a sua reação. Assim saberei se ele está omitindo algo ou me contando a verdade. Apesar de que ele me tem que me contar nada se não quiser, eu só sou curiosa mesmo.

— Por que você quer saber?

Ele adora se esquivar das minhas perguntas fazendo outras por cima. Tenho a impressão que ele evita falar sobre si mesmo e não é só comigo e sim com a grande maioria das pessoas. Posso estar errada como na maioria das vezes, mas é a percepção que tenho até agora.

— Só curiosidade… não precisa responder se não quiser. Mas você sabe o que tem naquela sala?

Aponto para o lugar e quando ele se deu conta no que eu estava me referindo deu uma risadinha. Será que era naquele lugar que ele ficava com as meninas? Aqui é mais exposto e claro, lá é totalmente o oposto.

— Você tá melhor? Você estava muito estranha lá embaixo.

Se esquivando de novo…

Agora quem queria fugir da pergunta sou eu. Para poder explicar esse meu medo irracional de julgamento ele precisa saber mais da minha história, situações íntimas e traumáticas para mim que eu estou trabalhando nisso no meu blog. 

Não sei o que nós somos, se é colegas, conhecidos… mas sei que não temos uma ligação estável o suficiente para eu poder falar abertamente do meu passado. Que no caso é a mesma coisa que ele faz comigo. Ele quase nunca conta nada sobre si mesmo porque nós não temos ligação alguma.

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora