Capítulo Treze

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Com bastante cautela eu bati três vezes na porta que tem uma plaquinha de acrílico escrito "direção" e o nome completo do diretor logo em baixo num tom prateado. 

A presença de Hayato não me passa segurança nenhuma, o drama é totalmente desconfortável e ele aqui, comigo alimenta mais esse monstro caótico da angústia.

Com apenas um "entra" vindo de dentro da sala do diretor foi o bastante para que eu movesse a maçaneta para baixo e abrisse a porta. 

O famoso "careca", apelido carinhoso dado por Yuta, estava um pouco mais calvo do que a última vez que o vi. Ele não costuma ficar circulando pelos corredores para poder manter a ordem. Para essa função tem alguns monitores que às vezes — como hoje — não servem para nada. Os alunos saíram de suas salas para ver a confusão que estava acontecendo e imagino que graças a fofoca dos garotos que estavam jogando basquete na quadra. Para ajudar eles são inúteis, porém para espalhar notícias eles conseguem fazer isso bem.

Batucando a ponta da caneta (muito chique) dourada na mesa, o diretor deu uma conferida em nós dois. Senti-me subjugada apenas com o seu olhar. Premedito que o que tem a nos dizer não é algo que eu queira ouvir.

Akira Takahashi aboliu a caneta sobre a parte de vidro temperado escuro da mesa de madeira. Apoiou um cotovelo sobre ela, com a mão acariciando o próprio queixo, acenou com a mão direita para as duas cadeiras giratórias a sua frente. 

Hayato e eu nos acomodamos em silêncio, esperando que o Akira pudesse começar a nos repreender ou seja lá o que ele esteja planejando nos dizer. 

— O quê vocês fizeram é muito grave. 

Ele rompeu o silêncio assim que percebeu que a gente não iria abrir a boca até ele tocar no assunto. 

"Grave"?? O que Takashi fez nem se compara com o que Hayato fez com ele. Abusadores não merecem segundas chances. Se não fosse crime eu mesma daria um fim nele. Só assim para caras doentes como ele parar de cometer essas atrocidades.

— Não é pior do que o que ele fez. 

Defendo meu ponto de vista. Eu sei que tenho razão. Hayato se excedeu um pouco mas acredito que qualquer pessoa normal que visse a ex-namorada sendo arrastada por um homem, prestes a ser estuprada agiria como ele agiu. A consideração que ele não teve quando me traiu, teve naquela atitude. Infelizmente ou não, não é em todos os casos que uma atitude pode ser apagada por outra.

— O quê ele fez exatamente? São muitos boatos sendo dito ao mesmo tempo. É difícil saber a verdadeira história.

O diretor olhou para mim com expectativa de que eu contasse a minha versão do que aconteceu, porém Hayato tomou a frente e falou:

— Ele estava carregando ela à força pra algum lugar pra… abusar dela. Eu não me arrependo do que eu fiz, faria novamente se pudesse.

Hayato me defendendo, não é uma cena incomum. Nenhum cara que ousou fazer piadas sobre a maneira como eu me portava ou me vestia ficou impune. Altos, baixos, magros ou fortes, não intimidava Hayato. Os seus treinos intensos de lacrosse o fizeram virar quase um lutador de MMA ambulante. Todas as vezes que usou da força para me proteger sempre me deixaram emocionada e com um sentimento bom de ser protegida, entretanto diferente de todas as vezes, hoje eu não me sinto assim. A sensação de segurança que eu sentia sumiu quando ele confessou sem saber que eu estava ouvindo o seu caso com Lia. Eu estou grata, sim, mas como eu estaria por qualquer outro ser humano normal que me ajudasse naquela situação. 

Essa coisa que eu sentia antes, sumir significa um avanço no meu objetivo. Pensar em Hayato e não sentir nada: Melancolia, raiva ou saudades. Pura e simples apatia.

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora