Capítulo Seis

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Não, eu não acho que eu esteja me humilhando ao pedir uma explicação aos traidores. Eu não conseguiria dormir a noite inventando possibilidades e motivos deles terem me traído, mostrando que na verdade nunca tiveram um pingo de respeito e consideração por mim. 

A traição não foi unilateral, eu não perdi apenas um namorado, eu perdi também uma amiga. Ambos carregam o mesmo peso da culpa e se ele teve a chance de me contar o seu lado, ela também terá.  

— Seria idiotice da minha parte pedir que você me perdoasse porque no seu lugar eu também não conseguiria — ela deu uma pausa de alguns segundos ainda de cabeça baixa, com as marcas evidentes das minhas mãos em suas bochechas. —  Antes de eu me aproximar de você… eu era apaixonada pelo Hayato. Entrei no grupo de líderes de torcida só pra ficar perto dele. Mas nunca tive coragem de contar pra ele porque acreditava que eu seria mais uma. Na época o Hayato era um grande mulherengo e você sabe disso. Então um dia ele apareceu com você, dizendo pra todos que era sua namorada. Eu me senti mal porque sabia que poderia ter tido alguma chance com ele se não tivesse mantido meus sentimentos só pra mim. Eu… confesso que senti inveja de você, muita inveja na verdade. E queria saber qual era o seu segredo, o que fez o Hayato se apaixonar por você e desistir da vida de solteiro que aparentemente ele gostava muito. Não me orgulho disso mas… foi por esse motivo que eu me aproximei de você, mas acredite por favor, que com o tempo eu realmente me tornei a sua amiga. Você era doce e um pouco ingênua, ah e divertida também — ela riu como se estivesse lembrando dos nossos inúmeros momentos. — Hayato e eu nos aproximamos por acaso, por conta dos jogos, há dois meses atrás. Eu tentei resistir ao amor adormecido que ainda tinha por ele, mas quando ele me contou que sentia o mesmo por mim, eu não consegui evitar por muito tempo. Insisti para que nós dois te contássemos a verdade, mas ele sempre se recusou por medo de magoar você. E bem, agora ele sabe que era inviável que isso acontecesse.

Lia abraçava a si mesma, talvez envergonhada, talvez com medo de que eu batesse nela novamente, mas do que adiantaria? Não mudaria absolutamente nada e eu estou com meu psicológico esgotado e só quero sair daqui para fingir que nada disso aconteceu.  

— No colégio evitem esbarrar comigo ou eu não irei ser tão racional quanto estou sendo agora. E nunca mais mencionem o meu nome. Vocês morreram pra mim. 

Encarei-os uma última vez; ambos permaneciam com o olhar estático em alguma coisa no chão.

Bati com força a porta da frente e desci os três degraus da varanda da casa. Ergui meu celular e vi que a chamada com Yuta não tinha sido desligada por ele. 

Ir para a casa não é uma alternativa, eu me afundaria sozinha no meu quarto e me fundiria a minha cama. Eu preciso dele… eu preciso de qualquer pessoa que me abrace e diga que tudo está bem quando na verdade não está, mas que de alguma maneira isso me ajude a respirar. 

— Yuta… tem como a gente se encontrar? — perguntei atenta aos meus earpods.

— Onde você está? 

Isso foi mais rápido do que eu esperava. Mas ele seria um sem coração, depois de ter ouvido tudo não fazer nada. Um abraço pode significar muito para mim no momento. E ele é minha única alternativa.

— Bairro Akihabara. Você conhece?

— Tô indo pra aí.

Yuta desligou a chamada e eu guardei os meus pertences dentro do minha tiracolo. Já está escurecendo e a rua continua movimentada por veículos. Eu espero que ninguém mexa comigo só porque eu estou parada numa esquina. Já tenho problemas de mais e não quero lidar com mais um.

→ → →

Dez minutos passaram e nada ou alguém que me lembre Yuta apareceu. Não tenho ideia do que iremos fazer quando ele me encontrar. Apesar de ter muita vontade de beber agora, depois do nosso último encontro — indesejado — acho difícil ele me apoiar em noite de puro álcool. 

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora