quarta-feira

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não sou daqui
não pertenço a esses móveis,
nem eles a mim
há um desprendimento
da minha alma que vaga acima de mim
e da minha mente
tão conturbada, tão poluída,
tão obstruída até o pescoço
de muito lixo, muito ouro
tudo misturado num
emaranhado de desespero e
cansaço.
a cabeça dói, e pressionar
a têmpora é trabalho inútil,
cantar é trabalho inútil
dormir é trabalho inútil,
pois no fim de todos os dias
ela estará latejando,
no seu ritmo rotineiro.
as mãos mexendo sem parar
é cansativo mexer tanto
essas mãos,
esses dedos se apertando,
se cruzando em meio a
suspiros,
se estalando,
se apertando,

param

por um segundo,
até cair no esquecimento
e tornarem a se revirar.

nos reviramos,
meus órgãos e eu,
em enjôos e noites
mal dormidas e
suspiros
bem, bem lentos e profundos
pois somos felizes,
somos gratos,
mas somos ansiosos.
é um traço traiçoeiro
da nossa personalidade
que não passa nem
com reza brava,
é um barulho de relógio
é um tempo infinito
eterno, que nunca acaba.

fotossínteseOnde histórias criam vida. Descubra agora