jogo perdido

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o jogo já estava perdido
o jogo já estava perdido desde o encontro de olhares
desde as caminhadas sob noites estreladas
desde as canções sobre as luas e as poesias sobre o universo
o jogo nunca esteve sequer perto de ser ganho, por mais que houvesse sorrisos que abriam janelas
por mais que o sol batesse forte diante o meu peito
por mais que todo o calor queimasse a pele e meu corpo frágil entrasse em combustão,
carbonizada, me dei conta de que nunca, houve qualquer chance de vitória
noites estreladas não contam as histórias das noites escuras e esburacadas
pois desde o primeiro contato, não estive inteira
não estive inteira antes mesmo do maior e definitivo golpe, o maior amor de todos e a maior decepção que transpassou o coração pulsante,
sangrando... não estava inteira.
e ainda assim, entreguei a parte que restava por inteiro.
saio entregando meus restos por inteiro, saio perdendo partes de mim e por algum motivo
nunca saio vazia,
mas cheia de mulambos dentro do corpo, cacos de mim e do caos que é tocar o fogo.
os fogos, de olhos intensos e promessas grandiosas,
me elevam aos céus, me tornam preciosa, quente
finita.
danças sob luares que pretensiavam eternidades,
findas nas linhas do meu corpo,
danças eternas de uma noite.
você nunca foi meu,
e eu nunca fui sua.
sequer fui minha,
e para falar a verdade,
cada vez que fingi ser qualquer dessas coisas,
parti.
colho meus estilhaços dispersos pelo espaço,
pois sou muitos deles,
intensos, verdadeiros, honestos, complexos e
machucados.
deus, quantos deles para capturar,
juntar, colar...
você sabe o que é quebrar?
você sabe o que é se ver partir tantas vezes?
tantas vezes cortada,
e no fundo nós sabemos que não,
eu não mereço essa dor.
eu nunca mereci.
o problema é que eu amo amar,
me doar, pertencer
decorar músicas e detalhes ínfimos
que fazem a diferença,
sua cor preferida, seus olhos ofuscantes
seu sorriso gentil,
há, mesmo, gentileza no seu rir?
até onde vai meus olhos artistas,
desenhando quadros lindos
que brincam com as memórias,
um espetáculo do que pode ter sido.
e se eu te criei?
vocês dois,
que incomodam meu relaxar como
faças pontiagudas castigando a costela,
a saudade que me inunda feito cobertor,
me cobre por inteira,
é de vocês,
ou de uma criação?
o jogo já estava perdido,
o amor já estava perdido,
desde as primeiras estrofes,
manchadas as primeiras linhas
perdidas as primeiras palavras,
maculada toda uma poesia
com todos os desejos que nunca
permitiram que o autor do roteiro fosse parcial.
nos criei?
criei minhas histórias de amor?
as colori, as fiz, as montei, as desempenhei
amei por todos os personagens,
amei sozinha.
novamente, sozinha.
sou azul da cor do mar.
sou azul profundo, águas profundas de oceanos profundos
cercam milhas e milhas de território a perder de vista
a perder navios, a perder marinheiros
sou uma ilha toda minha, com água a contornar todo meu entorno
águas profundas de ondas fatais...
escolhi vocês pela toxicidade,
pelo toque azedo que deixava na boca antes
do doce,
pelos soluços rasgando a garganta antes do abraço terno,
a montanha russa que era receber o inferno
para depois ganhar os céus.
fragmentada,
os criei,
brinquei de montanha russa e
ainda quis me perguntar porquê não deu certo?
o jogo já estava perdido
desde o primeiro segundo.

fotossínteseOnde histórias criam vida. Descubra agora