passarinho

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te coloquei numa cama
acolchoada, quentinha
te colei no peito
com força
comprei um pouco do mundo
e te presenteei
chorei, porque quis te dar tudo
e de fato, te dei tudo de mim
te fiz carinho, verifiquei várias vezes
se estava feliz
mas seus olhos estavam longe

meu amor é uma prisão
que você precisa muito fugir
realmente há essa necessidade
de correr do quentinho,
do gostoso.
você me deixa tão solta
e quer que eu te largue solto de mim
mais que Caetano Veloso
mais que passarinho
mais que vento
eu vôo por aí, pra qualquer lugar

que não seja com você.

às vezes o espaço é
extenso demais e
separa e
afasta.
às vezes o espaço
é tanto que pede mais
da minha ausência
da falta de mim
seus mais belos cantos
é quando não estou...
a melhor semana são as
que não tem meu nome no calendário.
seu silêncio é ensurdecedor.

é corajoso partir?
às vezes, na vida
são necessários atos de coragem
de arregaçar as mangas
prender os cabelos e
ir a luta.
mas, também
um bom jogador sabe
a hora de aceitar a derrota.

você me pede um tempo
antes de voar, mas
eu sou o tempo
eu sou as pausas, os intervalos
eu sou as vírgulas
os fins de semana
os segundos antes do
outro minuto chegar
eu sou uma linda tela de segundo plano
com um design sensorial...

eu sou um lindo adorno
irritante, às vezes.
um chaveiro antigo que
te deixa angustiado,
balançando inquietante
na chave, no cadeado
da sua gaiola.

a porta sempre esteve aberta...
a porta sempre estará aberta
para nós dois, querido passarinho.

fotossínteseOnde histórias criam vida. Descubra agora