coloca-me sobre a mesa
desdenha-me
sinto falta de quando não te conhecia
sinto falta de não saber os trilhos
os caminhos
quem eu seria,
se não tivesse cedido?
quem eu seria
se não me culpasse
por cada detalhe que compôs
o fracasso da sua peça
por que eu me culpo?
desde que entrei na sua vida
desaprendeu?
desanimou?
como eu pude causar isso a alguém?
tola, pensei ter a aura
rosa, quente, tarde
mas te transformei cinza?
baguncei seu quarto,
criei paredes no seu lugar
te bloqueei
te privei
sem querer
por que?
por que tão pesada?
por que dói tanto?
por que me importo tanto?
do que estou
tentando me distrair,
se cada segundo do tempo
penso em tudo
com grande enfoque
desespero
coração acelerado e
mãos trêmulas...
eu estaria ali para você,
mas observo com pesar
desabando no banheiro
enquanto desintegro no
chão
que talvez,
com certeza,
não faria,
não fez o mesmo.
eu fiz o mesmo?
eu estava lá, comigo
me abraçando enquanto
tremia
tremia como o terremoto
meu mundo trêmulo sob meus olhos
será que você acha
que eu sou desinteressada?
ou será que você acha
que estou assim por você?
me abraço,
vulnerável,
o peito aberto, o sangue escorrendo
nada estanca!
corro a cobrir, soterrar, enterrar e
nada estanca,
não é sobre você,
não é sobre ninguém,
é sobre mãos trêmulas corpo em frenesi
banheiro pequeno respiração errática
passos zonzos cabeça tonta
boca seca olhos marejados
mil pensamentos desordenados
dedos apontados falta de ar
e ali,
bem ali,
na porra do canto da sala
estão seus olhos pretos amendoados
vagos, vazios, evasivos
desvia mil olhares,
desvia cada vez mais,
está do meu lado mas
seu corpo está do outro lado da
sala
quer distância
quer que eu mude de curso?
por que você está no cenário mais importante da minha semana?
por que você impregna a poesia
que vai atestar o quão louca
sou para minha psicóloga?
queria nunca ter te conhecido.
repito palavras que disse ao outro,
queria nunca ter te conhecido.
queria que não houvesse tantos
significados...
