joia rara

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me colocou em seu dedo
e contemplou com satisfação
encheu os olhos com o brilho
tocou meu entornos, todos
os detalhes cintilantes e pontiagudos
olhou-me com admiração
"que joia linda, que joia rara"
me usou para ir a todos os lugares
me expunha como se todos meus segredos fossem seus
para revelar
me deixou nua sob sua pele
fria sob seu toque
radiante sob seus cuidados
fui bela?
encaixava no seu corpo
com suavidade;
levava no âmago o
calor do seu sangue correndo afoito
o suor escorrendo
os pelos eriçados
eu estava lá, me atingiu
pequena, frágil
tudo me afetava
absorvia cada célula
fria, quente, rígida, volátil
me adaptei a todos os fenômenos
me tornei todos eles
e em suas mãos
virei fogo, tempestade, furacão, oceano infinito
e os olhares de ressaca haveriam de ser
mais profundos que qualquer literatura pudesse descrever
pois era pequena e bela por fora
mas havia mais dentro
muito mais
e de repente,
a joia pesava em suas mãos
incomodava suas juntas
marcava seus dedos...
brincava com ela, passando de um lado para o outro
quem sabe se usá-la de vez quando?
quem sabe se deixá-la, só um pouquinho, sobre a mesa...
adorno complicado.
deixa-me no topo das quinas,
deixa-me nos cantos dos móveis,
deixa-me no bolso,
esquece-me,
logo estou perdida
em algum espaço no chão
confundida com bijuteria
camuflada com o mármore frio
um dia vai pensar
"costumava ter um anel bonito de cor única que me encaixava perfeito nos dedos, onde deixei?"
perdeu-se,
pesado demais.

fotossínteseOnde histórias criam vida. Descubra agora