um pouco

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te peço que me deixe só

não nos faça sérios,
não nos torne amor
não nos chame "nós".

nos deixe volátil, imprevisível
no descompromisso da
irrealidade,
fingindo não estar entregue
brincando de não sentir
dançando aquela música recorrente
sem nos prender nos braços um do outro.

nos deixe no rodapé da página,
nas entrelinhas que ninguém enxerga
nas letras miúdas, escondidos nas
palavras daquela história que não é romance
debaixo dos lençóis brancos
daquele quarto que não tem coisa
alguma escrita na porta

que eu deixo, de vez em quando
encostar o rosto no meu cabelo
enterrar seus lábios naquele lugar do meu pescoço
e me permito
deixar meu corpo cair sobre o seu

sem dormir.

sem distrações que confundem
as coisas e embaralham
os pensamentos,
sem expectativas dos dias seguintes
ou promessas mentirosas.

fotossínteseOnde histórias criam vida. Descubra agora