1. Southwestern, ame ou odeie

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• Hanna

Na minha humilde opinião, o romance já matou mais pessoas que o câncer. Ok, talvez o romance não tenha realmente matado ninguém até hoje, mas já consumiu e debilitou muitas vidas. Acabou com mais esperanças e com certeza já vendeu mais remédios que o câncer. Alguns desses remédios se encontram na mesa de um bar. E acho também que arrancou mais lágrimas. Também na mesa de um bar. O que eu quero dizer é que se você nunca sofreu por amor, provavelmente é você quem está fazendo alguém sofrer. Confie em mim, é melhor ficar desse lado.

Eu estava no estacionamento da Universidade de Manchester quando percebi algo sobre a minha vida. Algo transformador, pela primeira vez. Eu e meu pai viemos trazer Collin, meu irmão, para assinar os papéis da matrícula. Estávamos todos muito animados, o verão estava quase acabando, mas o sol ainda estava bem alto no céu, e os alunos estavam aglomerados no gramado, conversando. Parecia a cena de um filme, aposto que você também suspirava quando via esses cortes na televisão. Eu também. Mas quando enfim cheguei aqui e dei uma olhada ao redor, tudo parecia extremamente... normal.

E a verdade desabou sobre mim.

Nasci e cresci na mesma cidade e na mesma casa. Em Bristol. Nunca conheci minha mãe, ela morreu ao me dar a luz, mas meu pai soube criar eu e meu irmão muito bem, mesmo que tivesse exagerado um pouco na parte de tentar ser o meu melhor amigo para compensar a falta de uma figura materna. Sempre uma boa educação e bons modos, e uma rotina a seguir desde que me entendo por gente, mas nada rígido. Gostava da rotina, gostava de listas e de colocar "check" ao lado de cada tarefa.

Acordo todo dia na mesma cama. Tomo banho. Me visto. Escovo os dentes. É sempre o mesmo caminho para o colégio. Panquecas todo domingo, quebra-cabeça todos os sábados. Uma taça de vinho no jantar, uma vez por semana. Quadro de atividades e post-it's na geladeira. E eu sei que isso é a coisa mais normal do mundo para a maioria das pessoas. Era uma vida boa. Mas tenho quase dezoito anos e tenho medo que a vida seja só isso. Sem histórias para contar, sem frase de efeito na lápide.

Eu ia começar o último ano do ensino médio e praticamente já estava com o pé em Manchester assim como meu irmão. Como chamam hoje em dia? Legado? Foi aqui que meus pais se conheceram e se apaixonaram, e meu velho fala sobre eu e Collin virmos estudar aqui desde que me entendo por gente. E já que eu já tinha um destino certo para o ano que vem, não queria desperdiçar todos esses meses presa em Bristol, para depois ficar presa à UM. Então me lembrei de um post que eu tinha visto no Instagram sobre um novo internato em Brighton. Não era uma cidade muito melhor se compararmos com Bristol, mas eu pensei que poderia colecionar algumas histórias. E tinha praia.

Estavam oferecendo três bolsas de estudo no total. A reforma estava acabando e as aulas iam começar em um mês. Pareceu uma ótima ideia na época, então como eu ia imaginar que o famigerado romance ia estragar o meu planejado e perfeito último ano? Um internato construído por cima das ruínas de um colégio fracassado? Era de se esperar que os alunos também estivessem fadados a histórias tão trágicas quanto. É o fantasma da Madson, galera, sempre rondando os corredores do renomado projeto de Eric Conley. Eu, Becky, Bruna, Clarice... Fadadas.

Meu nome é Hanna, e esse é, basicamente, mais um relato de uma relação completamente conturbada desse lugar. A garota que eu amo acabou de dar o fora daqui para ir atrás de alguém que perdeu, bem como ela planejou, e me deixou sozinha com um bilhete ridículo.

Mas vamos voltar ao dia em que decidi que precisava respirar novos ares.

– Vou mandar a inscrição – Digo para o meu pai depois que Collin sai em busca da secretaria de admissões.

– Da Manchester? Eu sei – Ele sorriu, ainda de braços cruzados, observando as pessoas, assim como eu estava fazendo – Mas ainda tem um ano para mandar o formulário, pode ficar tranquila.

Até que te encontrei (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora