3. A solidão é um luxo

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• Hanna •

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• Hanna •

No dia seguinte, Elizabeth já comparece às aulas com seu humor habitual, o que quer dizer que a bronca deu resultado. Fico aliviada quando ela escolhe um lugar bem longe de mim. Não a suporto, e ontem foi a gota d'água. Ela não teve nem a decência de me agradecer por ter anotado o conteúdo, apenas colou um post-it na minha cabeceira com os dizeres "Valeu, Caipira". Engraçado, ela é bem tagarela quando quer, mas para isso deve ter achado que seria bom poupar saliva. E a noite ela fez um monólogo sobre seu horário de banho ser bem específico, então eu estava proibida de frequentar o quarto em determinados intervalos de tempo.

Tento ficar o mínimo de tempo por lá, e já que ela praticamente não sai, depois do almoço vou para a sala de televisão, agradecida por encontrar o cômodo vazio. Encontro um serviço de streaming onde posso ver de The Office e aperto o play.

É estranho me sentir tão sozinha. Em casa, eu sempre fui cercada de pessoas, e sempre tinha algo para fazer, lugares para ir. Alguém para conversar. Aqui ainda não tenho nada. Conheci Bruna, mas não tenho certeza se já posso me aproximar e considerar uma amizade. Não sei nem se ela quer ser minha amiga, e não quero invadir seu espaço no nosso segundo dia aqui. Então pego o telefone e ligo para Benjamin. Achei que ia demorar mais um pouco para que eu sentisse sua falta, e claro que achei que estaria conhecendo minha nova colega de quarto e nos tornando amigas, assim não teria tempo para sentir falta de casa. Mas ela veio, avassaladora. Cedo demais, minha ansiedade atacou.

– Uau – Ele diz assim que atende, e eu dou pause no programa – Já? A aventura não está indo bem?

– Cala a boca – Eu rio – Só não está... saindo como eu planejei – Murmurei – Minha colega de quarto é insuportável. Eu a odeio.

– O que? Você nunca odeia ninguém.

– Eu sei, mas ela está facilitando muito a minha entrada para o mundo sombrio do ódio. A garota é uma pentelha, Benji, e ainda não fiz nenhum amigo porque estou tendo crises de ansiedade. Acho que vou voltar pra casa.

– De jeito nenhum – Benjamin é firme – Não pode deixar esses detalhes te atrapalharem. Você é uma força da natureza, Hanna. É só o segundo dia, aposto que as coisas vão começar a melhorar. E sobre sua colega de quarto ranzinza, ignore, aposto que ela só quer atenção.

– Ah cara, eu te amo – Dou uma risada, feliz por Benjamin ter aliviado um pouco o peso nos meus ombros.

– Eu sei, cara.

Partimos para assuntos mais banais depois disso, sobre o primeiro dia dele na escola sem mim, sobre Olivia ter finalmente assumido o crush em Henry e partido para cima, sobre meu pai e o chili terrivelmente apimentado do jantar que ele embalou para Benjamin ontem. São esses assuntos, assuntos de casa, que me fazem relaxar. É quando Elizabeth entra na sala e bufa ao meu ver, mas não dá o braço a torcer e se senta no outro sofá. Mas então ela se levanta, vem até mim, pega o controle do meu colo e volta ao seu lugar. Então tira a minha série e começa a procurar outra coisa. Eu fico de boca aberta e me despeço de Benjamin sem nem ouvir sua resposta.

Até que te encontrei (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora