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O dia passou bem rápido, para a minha infelicidade. Eu deveria estar animada para finalmente deitar na minha caminha e dormir o máximo que eu pudesse, porque vamos e convenhamos, ser staff não permite muito descanso. Ter que ficar de olho na alimentação, agenda do dia, roupas e mais mil coisas é muito mais do que qualquer ser humano de menos 30 anos consegue aguentar. Porém, trabalhar com o Stray Kids era uma completa bagunça. Mas no bom sentido! Os dias nunca eram iguais. Tinham as piadas sem graça, as dancinhas estranhas e abraços calorosos e agradecidos pelo trabalho feito. Fazia o cansaço valer a pena.

Mas agora, tudo o que eu queria é que os ponteiros do relógio se arrastassem para que eu não precisasse pensar na resposta daquele post-it pequenininho que estava espremido entre minhas mãos suadas. Eu odeio essa ansiedade.

Na minha cabeça, pensamentos altos ecoavam com "você tem que ir pro terraço saber o que ele quer, e se ele estiver precisando de ajuda?" e em contrapartida "você não pode ir lá, e se alguém encontrar vocês e pensar algo errado? seu emprego vai por água abaixo".

O caminho para o dormitório dos meninos foi silencioso já que a van que me levava era composta apenas pelo motorista e outra staff que estava mais interessada em ler um livro histórico. O silêncio chegava a ser agoniante para mim, não me leve a mal, sou uma pessoa muito falante. Decidi colocar os fones de ouvido e ouvir uma música aleatória no volume máximo. Eu só queria que meus pensamentos silenciassem e outra voz mais melodiosa que a minha substituísse essas perguntas idiotas. Até que eu chegasse ao meu destino, Lauv me distraiu de uma forma que nunca poderei agradecer.

🐺

Ao sair da van senti a brisa fria me abraçar. Desde que me mudei pra Coreia passei a sentir falta do calor escaldante do Brasil, algo que sempre reclamei. A gente só sabe o que tinha quando perde, é o que dizem. Subi no elevador conversando com algumas colegas que comentavam sobre o último episódio de um dorama que estava em transmissão na TV e, ao chegar ao andar, me ocupei em organizar as vestimentas para o dia seguinte. Quanto mais eu adiantasse trabalho, menos cansativo seria o dia seguinte. Enquanto analisava o figurino do Seungmin consegui ouvir ChangBin indagar ao fundo:

— São 22:15h e meu jantar ainda não chegou... — Comentava irritado com Felix, que ria. Dei um sobressalto, DEZ E QUINZE? Soltei a roupa nos cabides estendidos e corri para os fundos sem perceber que minha afobação acabou chamando a atenção de todos na sala. Ah, que seja, agora que decidi ir, o que for pra ser, vai ser.

Subi para o terraço correndo como se minha vida dependesse disso, talvez fosse a minha ansiedade para saber o que estava por vir ou o meu sedentarismo que estava me deixando sem ar, me fez não prestar atenção em meus cadarços desamarrados. Cheguei ao local praticamente com a língua para fora tentando alcançar o máximo de ar possível, mais um passo e a última coisa que vi foi o rosto de Chan assustado enquanto eu ia de encontro ao chão. Que ótimo! Eu precisava cair logo agora?

— Nari? Você tá bem? — Chan perguntava preocupado enquanto me ajudava a levantar.

— T-tá tudo bem... E-eu só preciso s-sentar um pouquinho. — Respondi sem ar e com o joelho dolorido devido ao impacto com o chão. Quem mandou ser desastrada e sedentária?

— Você quer que eu pegue uma água? Ou gelo para o machucado? — Chan ainda analisava meu joelho e eu apenas abanava o ar sinalizando que estava tudo certo. Realmente, tudo certo para uma estabanada que nem eu.

— Não precisa se incomodar não, tá tudo bem! — Falei. Chan me encarou por alguns segundos. — Mesmo? — Perguntou ainda incerto. — Mesmo! — Acenei com a cabeça e ele se sentou ao meu lado em um silêncio que não durou muito, já que em poucos segundos consegui ouvir uma risadinha que logo foi acompanhada por mim.

— Já é a segunda vez que você cai em poucos dias. Não sabia que você era tão boba. — Suas covinhas eram visíveis nesse momento.

— É a minha especialidade surpreender as pessoas. — Pisquei de um jeito desengonçado fazendo graça. Depois de finalmente normalizar a minha respiração tomei coragem para perguntar o que me assombrou o dia inteiro: — Por que me chamou aqui?

Chan ainda encarava o céu como se refletisse a pergunta, o que me deixava ainda mais apreensiva. Até que finalmente ele olhou pra mim.

— Não consigo produzir nada há um bom tempo... Isso tá me deixando meio maluco, com dúvidas estranhas na cabeça. — Um sorriso triste desenhava em seu rosto.

— Hm... — Pensei um pouco. — Fecha os olhos!

— O que? — Questionou.

— Fecha os olhos, Christopher! — Falei rindo e observei enquanto ele fechava os olhos um pouco envergonhado.

— O que você tá vendo ou sentindo agora? — Perguntei ainda tentando formular uma reflexão que fizesse sentido para confortar aqueles olhinhos tristes.

— Como se estivesse ouvindo um choro silencioso dentro de mim — Falou baixinho, como um segredo que só eu pudesse ouvir. — Mas eu me sinto abraçado agora, porque você tá ouvindo o que eu tenho pra dizer.

— Choro silencioso, esse seria um ótimo tema pra uma música... — Pensei alto encarando meu joelho ralado. Chan abriu os olhos e me encarou. — Por que você não faz uma carta para si mesmo? As vezes a resposta para nossas dificuldades estão dentro de nós mesmos. Seu choro silencioso pode ser algo em comum com outras pessoas pelo mundo. — Ainda incerta pelo que falava, dei um sorriso envergonhado.

— Eu não tinha pensado dessa forma. Pensei que dar uma caminhada resolveria, mas fiquei ainda mais angustiado. Não quis preocupar os meninos com isso, eu devo ser uma rocha pra eles, não a onda que os amedronta. — O desabafo de Chan demonstrava que por trás daquele líder incrível que cuidava tão bem de outros 7 caras, também precisava ser cuidado. Em um impulso, o abracei como se quisesse que todos os pensamentos positivos do mundo fossem transferidos pelos meus braços e coração. O senti me abraçando de volta e fungando um pouco, me desesperei um pouco por não saber mais o que dizer, mas Chan tomou a frente antes.

— Desculpa ter te chamado assim tão do nada, é que eu precisava tanto falar com alguém... não consegui pensar em ninguém além de você. — Falou enquanto me soltava do abraço.

— Tudo bem, mas... por que eu? — Perguntei ainda confusa.

— Seus olhos. — Respondeu de forma enigmática.

— Meus olhos? O que tem eles? São as lentes? — Minhas perguntas o fizeram soltar uma risada alta. — O que foi agora?

— Não posso acreditar que você seja tão boba. — Ele falava enquanto ria. Consegui ouvir passos na escada levava em direção ao terraço.

— O que vocês estão fazendo aqui? Não acredito que está me excluindo, Nari! Achei que eu fosse seu preferido. — Felix falava com um bico fofinho no rosto enquanto me abraçava de lado.

— YA, o que rolou que você tá com a calça rasgada? — HyunJin aponta para meu joelho sangrando.

— AAAAAAA — Han grita assustando todos. — O Chan tá tentando se livrar da Nari porque a gente deu o último brownie do Felix pra ela.

— VOCÊS O QUE? — Chan fala indignado.

E lá vamos nós. 

𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora