다섯

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— Seus olhos. — Respondeu de forma enigmática.

— Meus olhos? O que tem eles? São as lentes? — Minhas perguntas o fizeram soltar uma risada alta. — O que foi agora?

— Não posso acreditar que você seja tão boba. — Ele falava enquanto ria.

Como se fosse o som mais lindo do mundo, sua risada ecoava em minha cabeça, dando voltas que me deixavam inebriada.

— Tenho um segredo pra te falar. — Chan sussurrou aproximando seu rosto do meu. Assenti tonta demais para falar alguma coisa.

— Eu gosto... — Falou pausadamente.

— Você gosta...? — Perguntei ansiosa para ouvir o que vinha a seguir. — Chan? — Sua boca mexia, mas nenhum som era emitido. — Eu não consigo te ouvir! — Exasperada, percebi tudo ao nosso redor ficar escuro e o corpo do garoto se afastar cada vez mais de mim enquanto eu gritava seu nome.

Acordei de supetão percebendo que tudo não passava de um sonho. Tateei a cômoda ao lado da cama em busca do meu telefone questionando mentalmente que horas seriam. Arregalei os olhos vendo que já passavam das oito da manhã, pulei da cama já calçando um tênis qualquer e correndo para o banheiro escovar os dentes. Enquanto junto meus pertences na bolsa, a porta do dormitório se abre revelando uma Yumi cheia de sacolas de compras de supermercado e café. Ela me olha confusa quando percebe minha correria dentro do quarto que dividíamos.

— Que correria é essa? — Yumi tira o casaco e me encara colocando as sacolas em cima da pequena mesa no canto.

— Como você pode estar tão calma? Hoje tenho que acompanhar o Minho em uma entrevista e ajudar o Felix no cabelereiro — Ouço Yumi gargalhando — O que foi?

— Garota, hoje é nossa folga. — Eu a olho desacreditada. Como eu não lembrei da minha própria folga? — Comprei nosso café e algumas coisas que estavam faltando e adivinha? O vinho estava na promoção. — Yumi fazia uma dancinha estranha de comemoração, sorri lembrando do Hyunjin cantando ice americano e balançando os quadris.

— Você tá cansada de saber que eu não bebo. — Tiro o tênis que, por causa da pressa, havia sido colocado em pés trocados, e entro no banheiro para escovar meus dentes, mas dessa vez, com paz de espírito.

— Nari, você precisa ser menos careta. Vinho é sinônimo de gente chique, o que custa tomar só uma taça? — Me encara com olhos pidões.

— Não quero falar de nada alcoólico antes das três da tarde. — Falo pegando o café que Yumi havia comprado. Ah, o gostinho de caramelo escorrendo na boca, o gosto do paraíso. — Aliás, já que hoje é nossa folga, o que vamos fazer o dia todo?

— Eu apoio uma maratona de Harry Potter, ou você pode me contar por que sussurrou o nome do Christopher a noite toda, fica a seu critério. — Sorriu maliciosa. Seu comentário me causa um engasgo, e uma sessão de tosses sofridas se inicia.

— Não sei do que você tá falando... — Falo me recuperando do susto. Droga, eu sussurrei o nome dele mesmo?

— Não foge do assunto, Maria! O que aconteceu ontem que você saiu correndo no meio do dormitório? — Yumi me encara curiosa.

— Não usa o meu nome brasileiro pra me intimidar! — Yumi gargalha. — Não aconteceu nada do que você tá pensando. Eu apenas estava fazendo o meu trabalho ajudando um idol que precisava conversar um pouco. — Minha capacidade de criar argumentos está cada vez melhor.

— Eu acreditaria se fosse qualquer outro idol, mas quando se trata de Christopher Bang... Me conta, ele tava usando camisa na hora da conversa? Alguns staffs falaram que ele ama andar quase pelado no dormitório, achei um exagero, mas pagaria pra ver. — Yumi fala em tom sonhador e eu a encaro sem expressão. — O que foi?

— Às vezes me pergunto como você passou pelo processo de seleção da JYP sendo uma maníaca desse jeito. — Jogo um pano de prato em sua direção. — E sim, ele estava bem vestido. Ele só queria conversar, só isso.

— Ok, senhora Bang. — Zomba. — E o seu joelho? — Yumi analisa meu joelho ralado.

— Tá tudo bem com ele, o sofrimento é só durante o banho. — O machucado é uma lembrança do momento compartilhado no dia anterior e a pergunta que me assombrou a noite toda: "ele confia em mim por causa dos meus olhos?"
Minha mente se sentia dividida entre fazer uma interpretação romântica ou racional da tal frase. Será que eu estava confundindo amizade com outra coisa? Melhor eu aproveitar minha folga.

Quebra de tempo

Já passavam das duas da manhã e Yumi se encontrava desmaiada no sofá depois de beber toda a taça de vinho e chorado horrores com a morte de Cedrico. Eu mexia no twitter acompanhando os acontecimentos dos últimos dias, já que eu passava a maior parte longe do telefone e só o pegava a noite para me comunicar com minha mãe e minha avó. Estava prestes a voltar minha atenção para o diálogo entre Harry e Luna quando meu celular vibrou com uma nova mensagem. Estranhei, meus contatos são muito restritos: família e trabalho.


desconhecido

ainda está acordada?

/ 02:45 /

eu

quem é?

/ 02: 46 /

desconhecido

ah desculpe, não me identifiquei
é o Chan

/ 02:48 /

eu

Chan?
como conseguiu meu número?

/ 02: 49 /

chan

posso te contar se você abrir a porta do prédio pra mim

tá bem frio aqui embaixo...

/ 02:51 /


Bloqueei o celular, calcei minhas pantufas e peguei dois casacos grossos no armário. Desci pelo elevador, graças a Deus dessa vez não havia escadas para a desastrada fazer um show. Tentei digitar a senha para liberação de entrada quando percebi que as luzes dos dígitos não se acendiam, concluí o porquê de Chan não conseguir entrar de volta no prédio dos dormitórios. Peguei as chaves no bolso da minha calça do pijama e abri a porta, encontrando o rapaz todo de preto esfregando as mãos tentando se esquentar.

— Err, boa noite?

𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora