𝑬𝑭𝑭𝑶𝑹𝑻𝑳𝑬𝑺𝑺𝒀, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯

발문

Uma das avenidas mais famosas da grande Seoul se encontrava extremamente movimentada naquela noite de quinta-feira. Não que não fosse sempre assim, mas hoje a pequena cafeteria de esquina estava atraindo mais clientes que o normal.
As paredes pintadas de um bege claro carregavam algumas polaroides de adolescentes que insistiam em decorá-la sempre que era finalizado algum encontro de grupos de escola. Alguns rostos mais velhos também se encontravam em locais mais escondidos, passando olhos rápidos em grandes frases de livros que eu sequer conhecia. Nomes extremamente requisitados e intelectuais. Eu corria de um lado para o outro, tentando atender os pedidos da forma mais rápida que conseguia. Trajava um avental marrom com alguns detalhes em dourado, com um crachá que carregava meu nome e a sinalização de que era uma estudante trabalhando em meio período. Meu cabelos, agora mais curtos, estavam presos em uma presilha branca em formato de borboleta, impedindo que os fios caíssem sobre meus óculos durante a escrita rápida de pedidos dos clientes.

O clima ameno me lembrava que, um dia, minha vida já foi menos corrida.

Nos últimos tempos, eu senti como se fosse uma passageira da minha própria vida, os acontecimentos eram como uma paisagem passando de forma extremamente rápida do lado de fora da janela de um trem, e talvez, nem houvesse um condutor nesse trem. Eu só deixei levar e me adequar à parada final. De alguma forma, isso deu certo.

Hoje, já no terceiro período do curso de design e trabalhando meio período como garçonete nesta cafeteria, onde nenhum dia era como os outros, comecei a sentir que estava conseguindo me sentir pertencente a algo de novo. Clientes de todos os tipos passavam por aqui, desde os mais cheios de vida até aqueles que já se sentem cansados dela. O que às vezes rendia boas conversas, ótimos conselhos e incessantes reflexões.

E então, haviam aqueles dias que eu esperava que uma pessoa específica entrasse pela porta, que possui um pequeno sino para indicar a entrada de um novo freguês. Só às vezes, eu imaginava que os céus iriam ler meu coração e pensamentos mais secretos, mandando de volta aquele que um dia fez o sangue correr mais rápido em minhas veias, tornou os dias mais ensolarados.

Mas não, isso nunca aconteceu, o que me decepcionava um pouco. Acredite, procurar por alguém que nunca vai vir, é como querer esquecer alguém que você nunca conheceu. Sem sentido.

Me pegava sorrindo quando estudantes pediam para que algum álbum daqueles garotos totalmente bagunceiros tocasse na cafeteria. Eu sentia falta deles, mas não me era dado o direito de sanar a saudade. E eu respeitaria isso, pelo bem deles. Me contentei em acompanhar de longe, orgulhosa pelo reconhecimento que recebiam.

Naquela noite de quinta-feira, uma caixa depositada em frente ao apartamento humilde em que passei a residir sozinha, me chamou atenção. Dentro dele, um CD demo com um cartão escrito: "Waiting For Us (Demo) - CB97". O mundo pareceu parar no vasto universo.
Corri até meu quarto procurando meu notebook e ligando-o rapidamente, ansiosa pelo conteúdo do CD. Depois de inseri-lo no aparelho, aquela voz que eu não ouvia há um bom tempo, se pôs a falar:

"Hm, oi.
Eu não sei bem como começar a falar isso mas, passei um bom tempo tentando encontrar uma forma de te contatar, mas você sumiu e eu não tive a chance de sequer dizer que senti a sua falta durante todo esse tempo. A Yumi me ajudou passando o seu endereço mas me fez prometer que não ia aparecer pessoalmente, e acredite, eu precisei arranjar forças pra isso agora.
Não quero que esse áudio fique muito longo, então vou direto ao ponto.
Um EP vai ser lançado em poucos meses mas, quis que a inspiração da música a ouvisse primeiro. Quero que saiba que cada palavra é pra você, cada acorde no violão foi pensado durante as madrugadas que não pude dormir porque me senti um covarde por te deixar ir assim. Waiting for us é pra você e meu coração ainda é seu.
Sempre que me ouvir falar sobre é amor, é sobre você que estarei falando. Sobre nós.
Espero que goste da música, amo você."

A voz para e se iniciam acordes lentos de violão e, logo depois, sua voz um pouco embargada mas sincera de sentimentos. Sem perceber, eu já soluçava ouvindo o desenvolver da música denominada waiting for us. A música que ele fez pra mim! Eu não conseguia acreditar.
Três minutos e quarenta e três segundos depois, eu respiro fundo enquanto tiro o fone de ouvido e sorrio descrente. Estar apaixonada por Christopher Bang não era algo que eu pudesse controlar. Nós éramos pra sempre, mesmo que separados, vivos em memórias que o mundo nunca poderia corromper.

Amá-lo é inegavelmente fácil e permanente.

FIM?