20. - The million dollar question.

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10 de novembro de 2021, quarta-feira.

Justin Bieber

A maioria das pessoas não se lembra de muitas coisas de quando eram crianças, mas eu lembro, costumo lembrar com uma riqueza de detalhes que me assusta — às vezes penso que imaginei tudo —, penso que quis isso mais do que tudo no mundo, por muito tempo, mas não é possível não... Honestamente não era exatamente uma época realmente feliz, mas era boa, na medida do possível, antes de tudo ser destruído. Mas tento não pensar muito sobre isso, no que já passou, no entanto, o que você faz quando seu passado define tudo que você é hoje?

Eu me lembro de quando minha mãe foi embora, ainda que meu pai diga que foi coisa da minha cabeça, afinal, eu era muito pequeno, não devia ter dois anos, e talvez ele esteja certo, mas eu tenho uma imagem muito nítida da minha cabeça daquela noite. Sei que chovia, pois, relâmpagos iluminavam o céu enquanto minha mãe estava em minha frente, agachada contra o berço, ela chorava enquanto me olhava, sussurrando:

"Me desculpa, me desculpa, me desculpa, eu não posso lidar com isso."

Mas ela também não poderia me levar, na realidade foi muito fácil me deixar para trás.

Então ela me deu um beijo na testa e saiu pela porta enquanto eu a chamava.

Ela teria sido uma mãe horrível. É claro, eu não a conheci bem, mas que tipo de monstro abandona o próprio filho? Eu não falo de adoção, uma série de motivos pode levar alguém a deixar —, não abandonar — uma criança em um abrigo, eu falo sobre pais vivos que escolhem de forma consciente deixar os seus filhos. Minha mãe é um monstro, um dos piores tipos, um que me deu a vida e escolheu não me amar. Por isso, o amor é subestimado, ele não é dado, ele é construído, tijolo por tijolo até que se forme completamente.

É por isso que tenho uma oposição tão defensiva aos que pregam o amor, porque afinal, a única coisa que o amor é mostrou e que ele machuca, principalmente quando é você que ama. Eu venho trabalhando nisso há longos anos, porém não penso que tenha me preparado de verdade para esse momento, porque vejamos bem, minha psicóloga me passou esse exercício desde sempre, se um dia você a encontrar andando na rua, o que você faz?

Eu sei o que eu deveria fazer.

Porém, isso não significa que eu iria, afinal de contas, como você lida com o fato que depois de dezenove anos sua mãe simplesmente surge na sua frente como se nada tivesse acontecido?

Eu a vi em uma barraquinha de Acertar o Alvo, não a reconheci de primeira, levou longos anos até que meu pai cedesse uma única foto sua, então não sei o que me paralisou primeiro, o fato de eu ter visto alguém que se parecesse com ela, ou o que veio depois: o fato dela em ver, acenar e dar a resposta da minha dúvida, era ela. Ela mesma, bem a minha frente, há metros de distância.

Então claramente, enquanto ela vinha na minha direção, eu fiquei chocado e imóvel.

Ela se posicionou na minha frente, olhou-me por um momento e sorriu.

Ela sorriu para mim. Docilmente. Eu não estava acreditando nisso.

— Justin, é você mesmo? — Ela perguntou, os olhos arregalados de surpresa. Isso só podia ser uma piada. Eu confirmei com a cabeça. — Nossa!

Ela abriu um sorriso.

— Você cresceu, cresceu muito. Faz tanto tempo que não vejo uma foto sua.

Eu não digo nada, ainda surpreso. Ela viu alguma foto minha? Meu pai nunca falou sobre ela, nunca disse aonde ela estava, então quando pude, procurei por ela e descobri que ela estava bem aqui, há uma hora e meia de avião, em Prescott no Arizona, que havia se casado e que tem dois filhos. Nunca fui atrás dela, nunca liguei, mandei uma carta ou bati a sua porta. Eu não sei porque fiz isso, suponho que uma parte minha queria ter certeza que ela estava viva, porque sinceramente descobrir o que ela fez depois que me deixou só me trouxe dor. Ela não se importa. Nunca se importou, ela só me deixou.

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