Capítulo 3

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Maraisa

Passar a noite aqui dentro foi a pior coisa que já aconteceu na minha vida, deduzi que seria hoje que meu advogado iria me buscar, não consegui fechar meu olho, era uma mistura de sentimentos, medo, ansiedade era os principais deles, a possibilidade de não sair daqui estava me consumindo, as palavras dessa mulher que esta dormindo tranquilamente em sua cama não saiam da minha cabeça, o que ela quis dizer com "Nunca se envolva com um Maximus" o que será que ela já viu, ou ouviu sobre agora, minha família, o que eles fizeram com ela, são perguntas que eu nunca vou saber.

Eu já não aguento mais ficar deitada nessa cama olhando para o teto, eu não estou mais suportando sentir esse cheiro horrível, já vi pessoas saindo de uma cela, já vi pessoas entrando em outra, quem vive uma vida longe dessa realidade não faz nem ideia de como é estar aqui dentro, não faz ideia dos rostos, das vozes que te assustam, é um mundo gigante dentro de outro mundo;

- Carla Maraisa, levanta e estende seus braços juntos.

- Realmente é necessário isso?

- Quem está presa aqui é você, não eu, então cala a boca e faz o que eu estou mandando.

Grosseria deve ser só com isso que eles se movem aqui dentro, e eu não julgo com certeza eu iria me mover com base a isso aqui dentro também.

- Poderia me dizer pelo menos para aonde você está me levando?

- Estou te levando para o seu julgamento, vamos saber quantos anos você vai vestir laranja, vai combinar com o seu cabelo.

A risada debochada daquela mulher me arrepiava inteira, a raiva estava crescendo dentro de mim, e eu já nem sabia o porquê tinha esse sentimento crescendo dentro de mim.

O caminho até o tribunal não foi muito longo, assim que passei por aquelas portas gigantes, e olhei em minha volta e vi muitos policiais, vi muitas pessoas com ternos, mulheres em cima dos saltos altos, todas muito elegantes, as pessoas passavam por mim como se não me enxergassem, para eles eu era um ser insignificante ali, e era exatamente assim que eu me sentia.

Observei um homem alto bem alinhado com seu terno preto e sua gravata vermelha andando em minha direção, ele me encarava e eu comecei a me sentir acuada, quando ele para em minha frente;

- Maraisa, venha comigo que o seu julgamento já vai começar, precisamos conversar.

Eu não fazia ideia de quem aquele homem era, eu olhei para a policia ao meu lado e eles encararam o homem em minha frente, a mulher fardada segurou o meu braço e começamos seguir o homem que estava em minha frente até chegar em uma sala onde ele entrou e me colocaram para dentro e os dois policiais que antes estavam do meu lado ficaram do lado de fora da sala, e então me vi sozinha com aquele homem desconhecido em minha frente, agora sentado em uma poltrona com vários papeis em cima de uma mesinha de centro, e uma outra poltrona do lado oposto, era um escritório sem nada, além do ar condicionado instalado na parede, as poltronas, a mesinha e alguns quadros de pessoas em tribunais pendurados na parede, a decoração era realmente algo que faltava naquele quadrado;

- Maraisa poderia sentar, por favor, e parar de ficar reparando na sala, não vou te fazer mal, não precisa ficar calculando a sua fuga.

- Eu não estava... Pensando nisso.

- Eu sou o Miguel, nos falamos pelo telefone, eu serei seu advogado até tudo isso acabar.

- Que será hoje, não é?

Ele me encarou por um breve momento, se encostou na poltrona vermelha, enfiou a mão dentro do paletó e tirou dali um cantil prata, e bebeu o liquido que deveria ter ali dentro, o fechou novamente e o guardou, respirou fundo e voltou a encarar os papeis em sua frente;

- Maraisa, eu irei ser rápido, o seu caso não tem como ser revertido, você foi presa em flagrante, não teve nada que eu pudesse fazer, o final será certo, você irá ser presa a não ser que você entregue para eles quem eles querem e diga que foi obrigada a fazer isso, mas eu acho que você sabe de quem estamos falando, e sabe muito bem que não devemos subestimar quem são eles, então eu sugiro que você aceite sua sentença quieta, e se o juiz te perguntar alguma coisa a respeito da droga você irá dizer que comprou de alguém da rua, e que estava levando para Marrocos para se divertir com amigos que iria se encontrar lá, e se perguntarem se você reconheceria quem te vendeu você nega. Maraisa, não fale nada que ira te comprometer com os daqui de fora, você já se envolveu de mais com eles, é melhor ter eles como aliados como inimigos.

- Eu vou ser presa?

- Vai.

De tudo o que ele me falou eu só conseguia processar o fato de que eu irei ser presa, eu via minha vida toda passando pela minha cabeça, eu não conseguia segurar as lagrimas, elas desciam sozinha.

- Onde esta Patrício?

- Eu não sei onde esta ninguém, eu nunca vou saber, eu sou só o advogado Maraisa, e você é só a "mula" que foi pega, a quantidade de tempo que for determinado para você será a quantidade de tempo em que você não irá ver mais ninguém que relaciona a eles, você entendeu o que eu te falei antes?

- Não falar nada.

- Não falar nada que vai te prejudicar aqui fora.

- Melhor eles como aliados como inimigo.

Eu estava no modo automático, eu não estava mais sentindo nada, além de frustração, uma frustração comigo mesma, uma frustração de ter jogado toda minha vida no lixo, por alguém que agora não iria me ver por anos, e que eu nem sei se irá sentir minha falta.

O caminho até o salão onde seria feito o julgamento parecia eterno, parecia que eu estava andando em uma esteira e que eu nunca chegava na porta, eu estava caminhando para o meu futuro, e não é um futuro nada promissor. Só me dei conta que eu já estava na sala quando eu vi um homem de capa preta subindo em uma escadinha e ficando atrás de uma bancada, eu me sentia em uma série, eu encarei aquele martelinho que tanto vi em filmes e quando eu era pequena o meu maior sonho era bater um daqueles, e agora eu estava prestes a ver um bater bem em minha frente, mas comigo sendo julgada, ele iria bater para definir meu futuro, um futuro nada bom.

Juiz começou a ler o meu caso, ele lia meu nome completo, nome dos meus pais completo, meus pais, eu espero que eles estejam bem longe daqui, espero que eles não estejam aqui para ver o futuro da sua "Borboletinha", que falta eles me fazem, que vergonha que eu estou, eles não mereciam uma filha como eu;

- Carla Maraisa pega em flagrante com uma grande quantidade de Chronos em sua mala, estava prestes a embarcar em um avião com destino a Marrocos, o advogado da acusada tem alguma subjeção?

- Não meritíssimo, minha cliente realmente carregava a droga apenas para o próprio uso, não sabia que a quantidade que carregava se classificava como tráfico, minha cliente está ciente do caso dela e irá responder perante a lei.

- Então declaro que a réu Carla Maraisa está sentenciada durante três anos por tráfico de drogas sem direito a fiança e trabalho comunitário para diminuir a sua pena, irá cumprir sua pena na penitenciaria feminina Sant'Clara em São Paulo.

E aquele som se fez presente, o martelo bateu, a lagrima escorreu, meu coração se fosse possível diminuiu de tamanho, uma dor dentro de mim, uma dor inexplicável, eu estava sofrendo, e eu acho que eu nunca irei tirar esse sentimento dentro de mim nem quando tudo isso acabar. 

Continua...

Prisão Sem GradeOnde histórias criam vida. Descubra agora