30 de abril, 1932Eu estava de folga, o Seu Nicolau finalmente contratou alguém pra trabalhar no meu lugar nesses dias (antes a padaria só fechava mesmo).
Fiz tudo que tinha que fazer: Compras, arrumar o apartamento e descansar.
Decidi dar uma volta pela cidade. Afinal, por que não? Minhas caminhadas sempre são do trabalho pra casa e vice versa.
Andei pelo centro, tinha bastante coisa lá. Vi alguns dos meus clientes favoritos, outros nem tão desejáveis.Nota do autor: Aquele advogado de quinta ficou encarando ela do outro lado da rua.
Passei num salão de cabeleireiro, só tinha homens. Mas, havia um conhecido meu lá:Raíssa: "André! Você por aqui?" Entrei lá toda animada.
André: "Raíssa? Quanto tempo!" Ele estava tendo seu cabelo cortado na hora. O cabeleireiro levou um susto e quase cortou fora a orelha dele com a navalha.
André é um amigo meu de infância, crescemos na mesma cidade. Mas ele é mais velho que eu, então foi embora de lá mais cedo.
Costumávamos brincar de lutinha, já que nossos pais eram ambos oficiais das forças armadas, então eles nos ensinaram os básicos de combate corpo a corpo. Minha mãe morria do coração ao me ver com os lábios sangrando junto de um olho roxo toda vez...Raíssa: "Tá se arrumando todo pra que?" Perguntei com um ar irônico.
André: "Fui aceito no teste da Força Aérea. Virei sargento piloto!" Ele respondeu bem animado.
Eu fiquei feliz por ele, e um pouco triste também. Meu pai me ensinou a lutar para me defender, mesmo sabendo que eu não poderia entrar no exército. Um pouco depois de André dizer a notícia, um velho riu no fundo do salão:
Velho: "Só isso, moleque? Hahahaha" ele tossiu muito depois de rir.
Raissa: "Aé? E quem você pensa que é, ô velhote?" Fiquei brava, André ficou na dele.
Velho: "Eu sou José Ferdinando Teixeira Augusto de Oliveira Souza da conceição, alto major comodoro brigadeiro da primeira legião, terceira multiplicação, almirante duplo, companhia da artilharia de vanguarda, você vai respeitar minha autoridade!"
. . .
O silêncio reinou no salão.
André: "B-bem... O comboio já já vai passar aqui para me buscar." Ele se levantou da caideira e depois pagou o barbeiro.
Raissa: "Estou feliz por você!" Eu me despedi dando um beijo na bochecha dele.
Depois disso, voltei pra casa. Já estava anoitecendo e eu estava bem cansada.
Chegando lá, me deitei na cama e fiquei olhando o teto.. . .
Raíssa: (Que silêncio agradável... Nada pode estragar esse momen-) meu pensamento foi interrompido pelas batidas na minha porta
Respirei fundo e suspirei, fechei meus olhos e disse para quem batia entrar.
Era o carteiro. Ele apenas deixou a carta por baixo da minha porta e se retirou.
Peguei para ler e notei que havia um selo do exército:Raissa: "É uma carta do pai!" Exclamei com alegria enquanto abria para ler seu conteúdo.
"13° Brigada do Exército Brasileiro de Santo André, 25 de Abril de 1932.
Querida filha,
Faz tempo que não escrevo para você ou sua mãe, me perdoe.
As coisas no quartel são difíceis, principalmente quando você gerencia tudo isso haha. Espero que esteja cuidando bem de sua vida.
Está se comportando bem? Não bateu em ninguém até agora? Você é forte, minha filha. Sei que pode cuidar de si mesma.
Eu tentei usar o telefone oara falar com você, mas essa droga não funciona. Maldita tecnologia alemã!
Já está na hora dos exercícios diários. Fique bem minha sargentinha, eu te amo.Continência do Tenente Brigadeiro Augusto Barbosa."
Ah esse coroa nunca muda... Guardei a carta e passei a escrever uma, e depois outra. Uma para cada um dos meus pais.
Continua»
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Vira-Volta Volta-vem | A Revolução
Historical FictionRaissa é uma jovem garota que tentou mudar sua vida após ir para São Paulo, mas os tempos não são fáceis na década de 1930. Algo está por vir, e ela não espera por isso. Acompanhe semanalmente sua jornada no Brasil de Getúlio Vargas!