13 de Julho, 1932 - 1° Dia de treinosAtenção pelotão, em forma!
Como uma colonia de formigas, todos nós estavamos vestidos e já alinhados para o início dos exercícios. Pude conversar com algumas pessoas no meio do caminho até aqui.
Comandante: "Pelotão, siga-me!"
O comandante correu até uma outra área do campo, alguns ficaram pra trás. Obviamente eu não fui besta de ter boiado na hora que mais mecessitava atenção (ou estava?).Comandante: "Mexam-se, oras! Pés rápidos salvam vidas! Se não quiserem se tornar adubo, podem meter sebo nas canelas."
Ele nos condiziu até um circuito cheio de lama, arame farpado e outros obstáculos.
Comandante: "Seu primeiro exercício vai ser passar por este circuito. Vocês deverão rastejar, pular, nadar e escalar para chegar ao objetivo... Aquele ponto ali!"
O ponto de chegada era uma bandeirola no outro lado da pista de obstáculos. Pude ver a tristeza no rosto de uns e determinação nos outros.
O primeiro obstáculo era a lama e arame farpado:Comandante: "Soldados devem aprender a rastejar silenciosamente para poder se infiltrar em território inimigo e passar por suas patrulhas."
Um dos cadetes levantou a mão:
Cadete: "Senhor, e se eu me prender no arame farpado?"
Ele parecia nervoso, e com motivo:
Comandante: "Ora bolas, nós temos enfermeiras aqui para que, hein recruta?"
Ele respondeu afinando a ponta de seu bigode, o cadete se calou.
Comandante:;"O QUE ESTÃO ESPERANDO, SEUS MOLENGAS!? MEXAM-SE E ATRAVESSEM O ARAME!"
Após o surto momentâneo, todo o pelotão se deslocou em direção ao circuito. Eu ouvi gritos desesperados de ajuda dos que se prendiam no arame, outros ficavam parados na lama com medo de seguir em frente.
Praticamente metade do pelotão passou, sendo maior parte desses com dificuldade. A outra metade ficou pra trás ou presos no arame.
O comandante deu um suspiro:Comandante: "Aqueles que não passaram irão fazer 100 flexões! E se errarem alguma delas, irão dar 70 voltas pelo campo! Entendido!?"
A cara de miséria era visível de todos aqueles que falharam, mas essa "punição" vai valer a pena (eu acho).
Seguimos para o próximo obstáculo, era uma barreira feita de madeira, terra, pedras e etc.
Enquanto eu pulava sobre o obstáculo, escuto alguém reclamar numa língua estranha:????: "Gah... Shibata! (Droga)!"
A pessoa de traços físicos asiáticos estava com o pé preso numa madeira. Levou um tempo pra entender a situação, mas logo fui ajudar.
Raissa: "Ei cara, você tá legal?" Eu disse enquanto ajudava a retirar a perna dele da madeira.
????: "Oburigado...!" Ele sorriu enquanto tentava dizer um português de forma arrastada.
Comandante: "EI SEUS MOLENGAS, PAREM DE CHORAR! ISSO NÃO E TÃO DIFÍCIL! VAI SALVAR SUAS VIDAS UM DIA!"
O maluco tá putasso.
Todos passaram e se alinharam mais uma vez. Estavamos sujos de lama e suor, mas no campo de batalha vai ser bem pior.
Comandante: Agora para o treino de pontaria... Todos aqui já sabem usar uma carabina, certo?
Todos: "SIM, SENHOR!"
Comandante: "Ótimo. Peguem suas armas e movam-se para aquela trincheira!"
Num piscar de olhos, todos correreram para a trincheira improvisada(e convenientemente colocada) e tomaram cobertura, como num combate real.
Comandante: "Antenção pelotão atirem nos alvos falsos. Em grupos de três, FOGO!"
Ai meus ouvidos. Iniciou-se uma sinfonia, composta de apenas um instrumento e a mesma nota:
RA TA TA TA!
O tiroteio parou. Os Alvos falso (pedaços de madeira com capacetes em cima) haviam sumido. Alguns ainda estavam lá.
Comandante: "Ótimo, mas os soldados inimigos não deixarão vocês mirarem por tanto tempo."
Quando olhei para o lado, vi aquele mesmo homem asiático. Ele estava confuso. Fui me oferecer para ajudá-lo com algo.
????: "Ore no... Raifu...(Meu... Rifle...)" Ele dizia enquanto mostrava a carabina.
Raissa: "Hã? A carabina?"
Quando examinei, pude notar que nem estava carregada.
Parece que agora nós treinaremos por nós mesmos, eu pensei. Então dá pra ajudar ele.O levei para um lugar com poucos cadetes e comecei a explicar p funcionamento da carabina para ele. Eu notei que ele sabia um pouco de português, então de quebra já ensinei alguns termos utilizados no campo de batalha:
Raissa: "Avançar!"
????: "Abansaru!"
Raissa: "Segurar fogo!"
????: "Seguraru fogo!"
Depois de um tempo, eu disse meu nome. Com um pouco de esforço ele pode dizer o dele(devia ter feito isso antes):
Kawamura: "Meu nome seru... Kawamura, porazer."
Enquanto conversamos, ele me mostrou algumas coisas que ele trouxe de sua terra, ele é um imigrante nipônico (japonês) de 20 anos. Uma espada, uma bandana com um sol nascente e uma foto de seus pais.
Kawamura: "Você... Me ensinar tiro... Watashi(eu) ensirar... Bushidō!"
Raissa: "Bushido?"
Kawamura: "A arute... Da esupada."
A arte da espada, justo eu? Foi a única coisa que pensei, mas não oude recusar. O olhar dele era de alguém grato, era uma troca equivalente.
Raissa: "Tudo bem, obrigado Kawamura!"
Kawamura: "Denada, Laiza-san!"
Ele se curvou para mim, eu fiz o mesmo. Mas batemos nossas cabeças por causa disso, e rimos.
Continua»»
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Vira-Volta Volta-vem | A Revolução
Narrativa StoricaRaissa é uma jovem garota que tentou mudar sua vida após ir para São Paulo, mas os tempos não são fáceis na década de 1930. Algo está por vir, e ela não espera por isso. Acompanhe semanalmente sua jornada no Brasil de Getúlio Vargas!