Capítulo 8: A Guerra não perdoa erros.

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...

O soldado puxou o gatilho.

Dessa vez não houve ninguém para me salvar.

Dessa vez não teve nenhum golpe de sorte.

Só o calor intenso no meu abdômen perfurado por uma bala.
Meus olhos arregalaram e minha visão borrava, minha boca secou e eu sentia um gosto amargo. Notei que meu sangue não só escorria, ele jorrava.
Nenhuma palavra saiu da minha boca. Eu não ouvia mais nada.

Será este... O fim...?

Vejo toda a minha vida passar num piscar de olhos: minhas memórias da infância; Mãe e pai; meus amigos e meus amores; tudo.
Depois de tanto esforço, tantas lágrimas, medo e felicidades... E eu nem pude...

Tudo escureceu.

12 de Julho, 1932

Frio, muito frio. Acordei ao som de uma corneta desafinada.

Raissa: "Ai minha cabeça... Estou viva?" ainda tonta, pesava alto.

Olhei para minha direita, examinei meus arredores bem vagamente: chão gramado, camas improvisadas, enfermeiros sem roupa de enfermagem. Estou numa barraca de enfermaria.

Maycon: "Ah você finalmente acordou, Raissa." Disse enquanto entrava na barraca.

Ele ficou do lado da minha maca e explicou o que aconteceu:

Maycon: "Você foi baleada e ficou em coma por alguns dias. Por sorte não acertou nenhuma área vital, mas ainda vai levar um tempo pra se recuperar completamente."

Raissa: "Quanto tempo..?"

Maycon: "Uma semana, mas não se preocupe. Você pode se mover pelo menos."

Raissa: "Q-Que bom... Posso ir pra casa então?"

Maycon: "Desculpa, mas não"

Raissa: "Hã? Como é?" Fiquei indignada.

Maycon: "A partir do momento que os oficiais do exército te viram armada na rua, você se tornou inimiga do Estado por engano. Bem vinda ao campo de treinamento do M.M.D.C."

Raissa: "M.M.D.C? Não me diga... EU SOU UMA REVOLUCIONÁRIA AGORA!?"

Eu entrei em choque por alguns momentos, mas logo me acalmei.

Raissa: "Eu só preciso sobreviver o conflito pra ter minha vida normal de volta, certo?"

Maycon: "Uhn... Creio que sim." Ele parecia meio apreensivo ao dizer isso.

Raissa: "O treino já começou?" Já ia me levantando.

Maycon: "Siga à esquerda da barraca, o campo é lá."

Raissa: "Aliás, onde estamos?"

Maycon: "Nosso QG em Ribeirão Preto, interior."

Raissa: "Ok, valeu Maiko!" Eu sai correndo para o local apontado.

Maycon: "É Maycon!" Ele não gostou muito.

Cheguei no campo de treino, vários recrutas estavam enfileirados. Eu me enfiei na linha da frente.
O cara que parecia ser o comandante daquela divisão estava interrogando cada um dos cadetes:

Comandante: "Se vocês quiserem sair vivos dessa guerra, terão que lutar! Sun Tzu* disse isso, e ele ficaria decepcionado vendo a carinha de medo de cada um de vocês!"
Ele dizia enquanto ficava cara a cara com alguns dos soldado, parecia que iria agredi-los a qualquer momento.

Nota: Sun Tzu - foi um general, estrategista e filósofo chinês e principal nome relacionado a escola militar de filosofia chinesa. Ele é mais conhecido por seu tratado militar, A Arte da Guerra, composto por 13 capítulos de estratégias militares.

O general ficou cara a cara comigo. O silêncio estava de matar enquanto seus olhos autoritários queimavam minha alma:

Comandante: "Você, mocinha... O que faz aqui?" Ele disse baixo.

Fiquei pensativa sobre o que dizer, já que eu cheguei aqui de gaiato. Minhas duas opções eram mentir ou mentir mais ainda.

Raissa: "E-Eu... Bem.. Eu..."
Eu estava gagejando, mas me veio a cabeça o seguinte pensamento:

"Por que você luta, Raissa?"

Todos estavam me olhando de modo como se eu fosse a bastarda ali, mas as palavras logo se organizaram e eu disse:

Raissa: "Vim aqui para lutar. Se acha que vou ficar sentada tomando café com leite enquanto a ditadura acaba com meu direito de ser cidadã, achou errado, meu compatriota."

Todos logo começaram a sussurrar de fundo. Eu estava com as mãos suando frio, mas fui sincera ao menos.

...

Comandante: "Pois bem. Diga seu nome, jovem." Ele disse enquanto se virava de costas e se afastava do pelotão.

Raissa: "Raissa Barbosa & Silva!" Disse com espírito confiante.

O comandante parou num certa distância e olhou para o pelotão.

Comandante: "Para as estações de preparação. Vistam suas fardas e amarrem bem suas botas! Seu treino começa hoje!"

Todos correram em direção às barracas, eu os segui sem saber muito o que fazer.

...

Numa cabana de madeira, na extremidade do campo:

Maycon: "Realmente, ela veio... Você estava realmente certa sobre a Raissa, General."

A general estava numa poltrona, virada de costas para Maycon. Ela se virou, revelando a sua identidade:

Simone: "Nunca duvidei dessa caipira..." Ela disse com um sorriso no rosto.

Continua»»»




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