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Bucky chega no restaurante Red depois de faltar dois dias seguidos sem ao menos dar uma explicação. Ele espera que não seja demitido.

Ele passa por Yelena na recepção e apenas sorrir esperando passar batido, mas ela o chama.

- Onde você se meteu? - pergunta diretamente.

- Eu estava com uns problemas e não consegui resolver tão rápido quanto eu achava - enrola.

- Vai ter que se explicar melhor.

- Eu sinto muito, tá? Isso não vai acontecer outra vez.

- Não pra mim. Pra Nat - Ela aponta para o interior do restaurante onde Natasha fica - ela está esperando por você.

Bucky teme ter se ferrado. Ele rendeu sua última dose de metanfetamina e apagou quando jogou pra dentro de sua veia. Na segunda tentativa, porque primeiramente ele errou onde enfiou a agulha e desperdiçou uma dose, onde se não entra direto pela veia, causa uma dor insuportável e nada de efeito tranquilizador.

Bucky apagou e só acordou no outro dia transtornado ainda sentindo seu braço formigar. Mas se deu conta de que ainda tinha um emprego e precisava voltar.

Sentando de frente para Natasha em sua sala, ele encara a ruiva com um pouco de receio. Ela é séria e olhando por cima dos óculos para a tela do computador em vez de brigar logo com ele, o deixa mais nervoso ainda.

- Você ainda trabalha aqui, Bucky? - Natasha tira os óculos e olha para ele.

- Sim senhora - ele afirma com a cabeça.

- E por curiosidade... É você quem decide os dias que vem trabalhar?

Bucky sente o corte e engole o seco. Natasha vai brigar muito, isso se não demití-lo de uma vez.

- Não senhora - ele responde sério.

- Não queria dizer isso, mas eu fui contra todos os protocolos do meu estabelecimento para contratar você em vez de uma pessoa sem antecedentes criminais e sabe por quê?

Bucky nega com a cabeça.

- Porque eu não julgo as pessoas pelos seus piores pecados. Eu dou chances e gosto de me surpreender positivamente ao em vez de me arrepender.

Bucky se sente confortável com esse benefício da dúvida dado por Natasha. Ela confia nele e ele não gostaria de decepcioná-la.

- Certo, eu entendo. Eu tive uns problemas com meu irmão recém vivo - mente mesmo assim.

Qualquer coisa é melhor que a verdade.

- Steve Rogers é seu irmão? - Natasha pergunta supresa.

- É sim.

- Difícil de competir, hien?

- Você não sabe o quanto.

- Mas falando sobre você, me responda, Bucky. Você é um cozinheiro?

- Sou sim.

- E quer ser um cozinheiro para sempre?

Bucky ainda não entende onde ela quer chegar.

- Não gosta da ideia de se tornar um chefe de cozinha? Ter seu próprio restaurante e próprios empregados?

- É tentador, mas não é como se eu pudesse fazer isso.

- Sabe o que eu vejo em você, Bucky?

- Não diga potencial.

- Potencial - ela se levanta, anda para frente da mesa e senta nela, mais próximo de Bucky - você parece ter o que é preciso para vencer, mas não vejo força de vontade da sua parte para fazer isso.

Bucky recebeu a lição de moral com sucesso.

- Senhorita Natasha. Eu quero pedir desculpas pela minha falta de responsabilidade e garantir que isso não se repetirá outra vez.

- Não espero menos que isso, Barnes. Agora volte ao trabalho.

Na cozinha Bucky pensa sobre o que Natasha disse. Percebe que está sendo estúpido, comentando o mesmo erro que há algum tempo. Ele sabe onde esse caminho vai levar e ele não gosta nada disso.

Se autodestruir sempre foi sua válvula de escape para fugir dos problemas. Ele briga porque Tommy o irrita e o faz sentir incapaz, bebe porque fracassou em alguma coisa, usa drogas porque seu coração foi partido mais uma vez.

Bucky vive em um ciclo vicioso de altos e baixos e não consegue sair porque não sabe lidar com isso e procurar ajuda não é uma opção. Bucky faz e pensa depois. Se arrepende das escolhas que tomou, das chances que perdeu e do lugar onde chegou.

Mas por um momento Bucky tem um lampejo de luz sobre sua cabeça. Ele vai lutar para não se deixar levar pelas emoções e sentimentos ruins que o levam a procurar ajuda na autodestruição. Ter uma recaída não significa perder todo o progresso. Ele vai se tornar uma pessoa melhor e a primeira coisa que vai fazer para isso é se afastar das coisas que o fazem sentir inferior, afinal ele não quer ser um fracassado para sempre.

Tchau Tommy, tchau ressaca, tchau idiotas bêbados e com certeza tchau Sam.

———————

- Não me deixaram voltar para a minha posição no exército.

Steve fala meio triste e decepcionado consigo mesmo. Ele está jantando em sua casa com Sam, mas seu prato ainda está intacto. Sam pega na mão de Steve para mostrar apoio.

- Meu bem, você vai poder voltar na hora certa. Não se preocupe com isso - Sam olha para ele e sorri.

Steve levanta os olhos trêmulos e olha de volta para Sam dando um sorriso pequeno.

- O que aconteceu comigo-

Steve começa e Sam fica contente por finalmente seu namorado estar se abrindo sobre o que aconteceu no Afeganistão.

- Eu só vou melhor se voltar ao trabalho. Sinto falta dos meus soldados.

A alegria de Sam se esvai pelos seu poros. Steve continua fechado.

- Steve, eles ainda vão estar lá quando você voltar. Agora por favor, come um pouco - insiste.

Ao invés de pegar o garfo, Steve se levanta rápido da mesa de jantar.

- Para onde você vai? - Sam pergunta olhando Steve andar até a porta da sala - Ei!

Sam se levanta e o segue.

- Steve!

Antes que possa dizer qualquer coisa, Steve abre a porta e sai. Sam sabe para onde ele escapa quase todas as noites. Para o cemitério onde há uma lápide com o nome de Tony Stark seu parceiro de missão. Sem buracos no chão. O lugar está vazio. Não há um corpo.

Isso é deprimente. Sam tem certeza que o que Steve sente é culpa, não apenas luto ou perda, mas uma culpa tremenda onde roubou todos os seus sentidos. Mas ele não sabe o motivo dessa culpa. Sam não sabe o que aconteceu com Tony no Afeganistão porque Steve não fala e mais ninguém pergunta sobre os detalhes.

Sam não aguenta mais os segredos, não aguenta viver sem saber o que está havendo com seu próprio namorado. Sam não aguenta não poder controlar essa situação, não controlar o que sente ou o que deseja. Não aguenta pensar 24 horas que cometeu um erro mandando embora a única pessoa que trazia algum tipo de conforto para ele. Ele não aguenta não encontrar meios para consertar essa situação.

Sam olha para o relógio e são 10 da noite. Steve não voltará talvez até as 3 da madrugada então Sam arranca com o carro para fora de sua garagem. Ele dirige o mais rápido possível para escapar da realidade cruel onde ele se sente preso. Ele sabe extremamente onde tem que ir, sabe exatamente quem ele quer ver.

O namorado do meu irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora