twenty six · cold.

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Por Hyu

Frio. Muito frio. Ainda não descemos da aeronave, e já parece que vou morrer congelada.

Depois de horas viajando, dormindo e comendo um pouco, por pura insistência do moreno ao meu lado, finalmente chegamos à Rússia. Que mais parecia a Antártida.

— Quem fez nossa mala? A pessoa sabia que estávamos indo para um iglu?! – Pergunto, exasperada.

— Não exagera. Tem roupas quentes nas malas, caso queira se trocar antes de descer. – Taehyung suspira ao meu lado.

— Não podia ter avisado que estávamos vindo para um lugar tão frio? Eu teria vindo com uma roupa mais quente. – Taehyung olha para mim com uma das sobrancelhas levantadas.

— O que foi? Achei que gostasse de frio. – Ele leva uma das mãos ao cabelo. — Caso não tenha roupas quentes o suficiente, peço ao Soho que compre mais cobertores. Não podemos levantar sinais de que estamos aqui, uma manchete com meu nome estampado atrairia... bem...

— Meu pai. Não, está tudo bem, eu... vou me trocar no banheiro para podermos descer. – O interrompi, notando seu visível desconforto para falar de meu projenitor.

Não o julgo. Lembrar de tudo isso me faz querer desistir, ir correndo até ele e aceitar qualquer condição imposta, apenas para que ele me deixe em paz.

Não gosto de ver Taehyung movendo o mundo para me manter segura, e ainda que seja admirável, não quero que seja mais um peso para ele.

Se passaram meses desde que começamos a trabalhar juntos, e mais meses de proximidade e conhecimento.

A falta de algo - ou alguém - que eu costumava sentir, simplesmente desaparece, mas quando ele se vai, isso volta.

— Hyu...? – ouço dois toques na porta do banheiro do avião particular, e reconheço a voz de Taehyung provavelmente curioso sobre minha demora.

— Ah. Eu já estou saindo. – Abro a porta, andando como um pinguim, toda empacotada para conseguir enfrentar esse frio.

Ele também mudou suas roupas, colocou uma calça social aparentemente flanelada por dentro, uma blusa de cor escura grossa, para o frio e um cachecol de mesma cor.

— Senhor, estamos prontos. – Um dos vários funcionários particulares de Taehyung chama nossa atenção, e descemos da aeronave.

Um carro preto com vidros fumê nos espera na área de pouso e entramos rapidamente nele, ainda não acostumados ao clima e por um segundo, as roupas parecem ineficazes.

Fazemos a curta viagem em silêncio, e em cerca de 20 minutos chegamos à um chalé de madeira, aparentemente bem aconchegante e quentinho.

Chalé, na verdade, é um eufemismo. É uma mansão digna de filmes, provavelmente, bem cara.

Quando me lembro de ter um celular, vejo que ele está sem bateria e isso me alivia por não poder me distrair ou receber algo de pessoas desagradáveis.

Eu poderia facilmente apenas desligá-lo ou ignorar as mensagens e o som das notificações, mas o medo que me aprisiona não me deixaria não conferir o celular de 20 em 20 minutos para verificar alguma ameaça.

Taehyung me leva até um dos quartos da casa, e as paredes brancas com molduras, aparentam as de um palácio.

— Esse é o seu, vou estar no quarto ao lado. – Ele deixa uma das malas ao lado da porta e me jogo na cama, sentindo o aquecedor me deixar menos congelada.

— O seu não fica muito longe, não é? – Pergunto buscando afirmação, e mesmo que ele já tenha dito que está ao lado, ainda sinto que precisaria de mais proximidade.

— É logo aqui, olha. – Ele me puxa para fora do quarto e há outra porta entreaberta ao lado do meu quarto. No máximo, 1 metro de distância.

— E... quanto tempo ficaremos aqui? Você avisou ao pessoal da empresa para onde estava indo? – Pergunto, voltando a me sentar na cama.

— Não sei. Quando não houver nenhuma ameaça na Coréia, podemos voltar. Não disse onde estávamos para ninguém, e quem veio conosco é de extrema confiança. Para os funcionários, estamos em uma tour pela América do Norte para reafirmar contratos. – Ele se senta ao meu lado.

— E como saberemos que não há mais riscos em Seul? – O olho de lado e me deito em seu peito.

— Deixei uma equipe de investigadores atrás do homem, com tudo que sabemos.

— Mas não sabemos de nada. – Retruco.

— Na verdade... – Ele se inclina para trás e me mantém junto ao seu corpo, nos deitando e fazendo com que eu permaneça deitada em seu peito. — Descobrimos algumas coisas.

— O quê? Como assim? Você não me disse nada, achei que não tínhamos saído do lugar. – Me refiro ao caso e um calafrio percorre meu corpo por não ter podido viver o luto da minha melhor amiga e ao me lembrar da cena encontrada em minha antiga casa.

— Descobrimos que ele tinha alugado um apartamento minúsculo em um bairro extremamente pobre, que teve contato com traficantes e passava os dias em um bar próximo ao prédio da empresa. Ele te viu saindo um dia de lá e pode ter começado a planejar essa "vingança" a partir desse dia. Encontramos papéis e informações pessoais suas e dele lá, ele estava te investigando.

— Quando foi que descobriram isso? – Engasgo, sem ter como absorver tudo.

— Há uns meses. Não queria ter preocupado você com isso antes porque estava processando tudo sobre sua amiga e... eu não aguentava mais te ver chorando. Não queria dar mais motivos. – Ele leva uma das mãos até meu cabelo, o acariciando com cuidado.

— Eu... obrigada. Por me ajudar a lidar com tudo isso, sabe? Tem sido difícil, mas fica mais leve com você.

— É um favor que faço a nós dois.

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— Isso não tem graça, Taehyung! – Protesto após ele abaixar pela milésima vez um livro que eu tentava ler.

— Graça não tem esse livro. Vai ficar lendo? – Ele cruza os braços e faz um biquinho.

Parece um adolescente birrento.

Se você deixar, vou. – Ele abaixa o amontoado de folhas novamente.

Respiro fundo e deixo o livro de lado, o colocando sobre a mesa de centro da sala.

— Certo. O que quer fazer? – Pergunto, estressada.

— Já viu neve de perto? – Ele sorri animado.

Está de noite, bem frio. Já jantamos mas ainda não tínhamos tomado banho.

Balanço a cabeça negativamente e ele se levanta, saindo da minha visão e logo depois voltando com dois casacos de neve e um olhar sugestivo.

— Vamos?

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boa leitura, gatinhxs 💖💖💖 amo vocês!

- Blue Wood | kthOnde histórias criam vida. Descubra agora