Coréia do Sul, janeiro de 2020.
Por Hyu.
9:34.
Espera, 9:34?Droga, eu tô atrasada!
Acordei trinta e quatro minutos atrasada. Isso não seria nada, caso meu chefe não fosse um pé no saco e eu não morasse tão longe do trabalho.
Ele já deve estar contando os segundos pra poder me repreender na frente de todos os funcionários e me chamar pra sala dele, e depois disso, todos ouvirem a forma calma que ele fala.
Enquanto eu tomava o banho mais rápido do mundo e arrumava minha roupa, o mesmo sentimento de todos os dias me tomou novamente.
Algo parecia estar faltando, era sempre assim.
Eu sentia falta. Uma falta que me consumia sempre que eu parava dois segundos para pensar.Mas o que seria? Como eu poderia sentir falta de algo que não sei, ou que não conheço? Eu preciso disso agora, mas eu ainda não sei o que é.
Meu celular me tirou dos meus devaneios, e quando abro a tela, além de ver que já eram 10:09, agradeci aos céus por não ser tão tarde e vejo também uma mensagem de uma das minhas colegas de trabalho.
Akira ☁
Ei
Cadê você?!
Tô te encobrindo, mas o Clark tá te procurando! Chega logo!Não respondo e corro até o elevador, entrando em meu carro e indo rápido para lá.
Vinte minutos depois eu chego na empresa.
Maldito trânsito.
— Hyu! – Akira grita ao me ver na porta do prédio.
— Oi, ele percebeu? – Digo apreensiva.
— Acho que não, mas sobe lo-
— Senhorita Miru. – Fecho os olhos com força ao perceber meu chefe atrás de nós. — Pensei que já estivesse em sua sala.
— Bom dia, senhor. Me atrasei um pouco ao sair e peguei muito trânsito. – Bom, não era mentira.
— Deixe suas coisas em sua sala e vá até meu escritório. Ouviu? Sem mais atrasos, Miru Hyu.
Respirei fundo passando por ele e deixando minhas coisas em minha sala, arrumando um pouco a mesa de trabalho antes de ir até o escritório do meu chefe.
O senhor Jinjuo era um bom homem. Fora do ambiente de trabalho, lógico. Porque aqui, tudo que importa são horários e ordens a serem seguidas.
— Senhor Jinjuo? – Bati duas vezes na porta e a abri, encontrando-o de frente para a porta e analisando papéis.
— Dois atrasos em um mês. Você não é nova aqui, sabe como eu trabalho e não tolero terceiros erros, Hyu. Esse é seu terceiro atraso.
— Foi um acidente, senhor. Esse mês tem sido complicado para mim.
A expressão dele que não se altera em momento algum, rola os olhos em direção aos meus e sorri sarcástico.
— Eu não ligo pra como seu mês tem sido, você está aqui pela sua vida profissional e não pessoal. Os problemas que você tem fora desta empresa não me dizem respeito, e deles, eu não quero saber. Saiba que o único motivo pelo qual não vou te demitir é porque sei que seu trabalho é sem igual e que seu empenho ultrapassa o de todos esses funcionários juntos. Mas se esse empenho não se estende a chegar no horário certo, você não poderá trabalhar conosco. Essa é sua última chance, senhorita Miru, e caso não consiga apenas acordar no horário, você já pode sair da minha empresa, ouviu? – Seu tom de voz não poderia ser mais alto.
— Sim, senhor. – Respondo simplista.
— Agora saia daqui. Temos uma reunião às 15:00, consegue chegar no horário ou tem algo mais interessante para fazer? – Sua voz se tornara baixa no mesmo segundo em que ele gritava.
Obedeço sua ordem e volto a minha sala o mais rápido possível. Os olhares dos meus colegas de trabalho oscilavam entre raiva, inveja e choque.
Inveja de receber um esporro alto assim?
Fiz meu máximo para agilizar papéis de venda e compra da empresa enquanto tentava não deixar que o sentimento de falta me corroesse, caso contrário faria tudo errado.
O tempo passou voando, quando minha hora de pausa chegou eu mal acreditei, parecia um sonho.
Sorri por ver que Akira já me esperava com um lugar reservado para nós.
— Jinjuo foi até delicado com você, não gostei. – Ela reclama antes de sequer me dizer oi.
— Boa tarde, Akira. Como vai? Ah, que bom! Estou bem também. – Começamos a rir, ela é inacreditável.
— Boa tarde, garota? Você tem uma reunião com o cara, não tem? Como a tarde pode ser boa?
Continuo rindo um pouco e como o bolinho que tinha comprado, utilizando minha pausa para algo produtivo.
— Bem, a reunião é pequena, não me torture assim.
— Grandes coisas, né? É logo depois da pausa, tá pronta?
Balanço a cabeça negativamente e sorri, olhando para a embalagem abaixo de mim. De repente aquele sentimento bateu novamente. Aquilo que me corroía mais e mais só vinha crescendo dentro de mim.
— Hyu... de novo isso? – Akira já sabia de tudo, ela tentava me entender mesmo não conseguindo.
— Isso é tão estranho! Eu não consigo suportar isso, como é possível? Sentir falta de algo desconhecido.
— E se for alguém? – Ela pergunta, me fazendo virar bruscamente para ela.
— Como assim alguém?
— Você pode sentir falta de alguém, não de algo.
— E isso facilita super, né? Ótimo, alguém. Como eu vou sentir falta de alguém que eu não conheço?
— Você estava cogitando ser algo, qual a diferença?
— É que quando é uma coisa, eu posso substituir, uma pessoa não. – Era exatamente isso que me transtornava.
Coisas são substituíveis, podem ser trocadas por nível de importância parecido, mas pessoas não.
Não dá pra substituir alguém importante, e por mais que supere, ela ainda vai estar ali.
Mas... de quem eu preciso?
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- Blue Wood | kth
Fanfic- Promete que nunca vamos nos perder? - O pergunto, tentando absorver tudo. - Prometo. Nada nunca vai me afastar de você. - Ele tira do bolso a pequena placa de madeira azul, que abrigava nossas iniciais. - Você guardou isso? - Pergunto surpresa e l...