cap 19

20 3 0
                                    

Pego um dos carros que estava do lado de fora da casa e vou até a casa de minha tia Alicia, mãe do Davi.

Entro na casa de dois andares. Vou até um quarto de porta vermelha e encontro meu primo lá

- Como sabia que eu estava aqui?- pergunta Davi de costas para mim

- Posso não ter uma memória muito boa, mas me lembro que esse era o quarto da sua irmã. Hoje fazem nove anos que ela morreu. - Eu falo olhando uma foto de uma garota de doze anos- Semana que vem ela faria vinte e um anos- Falo acariciando a moldura da foto

- Ela morreu por culpa dos nossos pais- Ele fala e olha para mim, e percebo os olhos lacrimejados.- Eu encontrei uma carta, uma carta de suicídio.- Ele fala segurando o choro. Ele pega um papel de cima de uma escrivaninha que imagino ser a carta

"Para meu irmão, Davi, e para minha irmã de consideração, Sophia

Eu não sei como fazer isso, como escrever essa carta. Mas de uma coisa eu sei. Eu tentei, juro que tentei. Mas não consigo. Não aguento mais as sessões. Não aguento mais aquela tortura. Não aguento mais aquelas injeções, aquela dor que sinto sempre que a injetavam em mim. Não sei o que sinto enquanto estava transformada, mas o que vinha depois era horrível. O que mais me doeu, foi descobrir que nasci para sofrer, para esse experimento ridículo. Estou com medo de que esse seja o motivo de vocês terem nascido também. Mas não posso. Sou covarde, não aguento mais isso- a carta descreve e percebo lágrimas caindo pelos meus olhos- Eu gostaria de estar por vocês. Pelo primeiro amor de vocês. Pelo primeiro beijo. Para separar a briga de vocês. Para fazer vocês serem amigos de novo.

Me lembro de que a briga começou por minha causa. Quanto tinham apenas três anos, vocês dois queriam atenção. A maioria das suas brigas naquela época era por isso, pela minha atenção. A dois dias, você Sophia, bateu no Davi por ele estar te pirraçando, e devo dizer Davi, achei muito merecido.

Vou dar essa carta para minha mãe, e quando tiverem uma certa idade, quero que ela entregue para vocês. Por enquanto, quero que ela faça um resumo, tirando as partes "pesadas", como o início. Como meu último desejo, quero que deixem essas brigas idiotas que vocês fazem desde que tinham três anos, que vocês nunca podiam ficar no mesmo ambiente se não quiséssemos que vocês se batessem. É isso, amo vocês, e sinto muito mesmo.

Ass. Clara, sua irmã."

- O que tinha escondido?- Pergunto para Davi que está com lágrimas escorrendo pelo rosto, como eu- Eu conheço ela. Tem mais coisa, não tem? Éramos novos, mas me lembro que ela adorava jogos que tínhamos que pensar, coisas escondidas

- Falava da CPEI, onde ela ficava, o que fazia- Ele fala após respirar fundo

- Tenho que te contar uma coisa, não vai dar para para falar detalhadamente porque só tenho mais quarenta e sete minutos antes de virem atrás de mim e quero ficar um pouco mais aqui- Falo após olhar no relógio e ele assente. Dou uma resumida sobre o que aconteceu no último dia. Meu pai usando o nome do meu avô na CPEI. Ele manipulando o dono de lá para "inovar".- Eu não acho que a intenção dele era inovar a humanidade.

- Eu também não. Se ele não quisesse que tudo isso acontece, não teria nos prendido. Nem pareceria que estávamos mortos naquelas gravações- Ele fala e eu concordo

- Carlos falou que é possível eles não virem aqui só porque não querem

- Concordo com ele, se quisessem nos ajudar, já teriam nos ajudado. Eles devem saber que estamos aqui- Ele fala e eu concordo

- Sua mãe não falou da carta da Clara né?- Pergunto após um tempo e ele nega- Acha que ela está com nossos pais?

- Não sei, mas acho que é possível.- Ele fala e damos um suspiro cansado. Vejo seus olhos começarem a lacrimejarem, por uma mistura de raiva e de tristeza. Sento na cama ao lado de Davi e o abraço- Último desejo dela?- Ele pergunta e eu assinto. Ele se encosta em mim e deita sua cabeça no meu ombro- Estou com tanto ódio deles, dos nossos pais. Gostaria de saber o que motivou eles a isso. Eles sequer sabem que foram o motivo da Clara se matar? ela tinha só doze anos- ele fala e percebo um tom irritado, começando a chorar novamente. Éramos tão apegados com ela

- Estou aqui, estou com você. Não vou falar que está tudo bem, porque não está. Nem vou falar que vai ficar tudo bem, porque não sei. Mas eu estou aqui para você.- Falo e faço um carinho em sua cabeça- Se lembra do que Clara nos fez prometer?

- Não importa o quanto nos odiamos, vamos sempre estar à disposição um do outro para ajudar- Falamos juntos e damos um sorriso fraco. 

Ficamos assim até dar a hora de eu ir embora

- Quer que eu te leve até onde está ficando?- Pergunto e ele nega- Tudo bem. Não faça nada irresponsável- Falo e ele assente. Entro no carro e vou para casa.

...

- Achei que teria que buscar você- fala Hugo quando chego

- Falei que voltaria em uma hora- Falo e forço um sorriso- Vou subir e dormir. Já está anoitecendo mesmo- Falo após ver o sol se pondo. 

Subo até o quarto e quando coloco minha mochila no canto. Vejo a câmera que peguei alguns dias atrás cair no chão. Deixo isso para amanhã e me deito na cama, colocando os walkie talkie numa mesinha que ficava ao lado da cama

- Sério- pergunta alguém do outro lado da linha e dou um sorriso

- Bom, falei sério quando disse que estaria sempre aqui por você- Falo e escuto uma risada do outro da linha

- Já vou voltar para casa. Tchau

- Tchau- Falo me despedindo e coloco na mesinha novamente.

Me acomodo na cama e vejo uma pessoa entrando no quarto e vindo para a cama

- Já vai dormir também?- pergunto e Amanda assente.

Ela fica de costas para mim e eu a abraço, e não demora muito, eu pego no sono

no fim do mundo 1 (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora