Cap 33

20 1 0
                                    

- O que foi?- Pergunta Carlos quando entra no quarto de Sophia. Ela apenas se senta na cama e nega com a cabeça

- Não é nada. Só estou cansada- Sophia fala e Carlos se senta na ponta da cama

- Vamos lá. Você estava bem até esses dias, mas hoje você acordou tão quietinha- Ele fala e a observa passar as mãos nos cabelos

- Eu não sei o que acontece- Sophia fala rindo- Eu sempre falo para você, mesmo que eu não queira.- Ela fala e suspira.- É só que... Eu estou cansada. É como se as coisas tivessem caído para mim hoje. As mortes. As minhas lembranças...- Ela fala e Carlos faz uma cara de confuso, e Sophia fala após soltar um riso irônico- Esqueci de falar. Meu pai foi o culpado disso, minha família, na verdade. O nome que ele deu, era o do meu avô. De início, o projeto era dele, mas depois, ele passou para meu pai e para o irmão dele, o pai daquele menino que chegou na nossa antiga casa, quando eu estava quase para matar Aline. Nossos pais nos usavam como experimentos. Antes de nós, era a irmã dele, estou com tanta saudades dela- Sophia fala a última parte com um sorriso triste.- Por culpa dos nossos pais, ela se matou. Ela era tão nova- Ela fala, com algumas lágrimas escorrendo por seus olhos.- Ela estava tão cansada.- Sophia fala e respira fundo. Carlos se levanta e fecha a porta do quarto. Ele já tinha percebido que ela não gostava que os outros a vissem chorar

- Sophia- Ele fala e se senta do lado dela, a abraçando de lado

- Os experimentos começaram em mim e no meu primo quando tínhamos sete anos. Sete- Sophia fala dando ênfase na idade.- Eu lembro de ter doido tanto. E aquilo foi um trauma muito forte, tão forte, que nós dois não lembrávamos disso. Só recordamos elas após um acontecimento. Isso, tudo isso, não é nem a metade da minha vida... Eu tinha um irmão mais velho, Carlos- Sophia fala olhando para ele, e mordendo os lábios para prender o choro- Eu gostava tanto dele. Eu gosto tanto dos meus irmãos, e me destrói não saber como eles estão. Me destrói eles estarem com meus pais, com o homem que acabou com a minha vida. Meus dois irmãos mais novos, eles são gêmeos, idênticos- Fala Sophia com um sorriso, como se estivesse se lembrando de algo.- Eu era a única que sabia quem era quem. Eles têm só oito anos. Só oito anos. E eu juro, juro pela minha vida que se meu pai tiver encostado um dedo neles para machuca-los, eu o mato, eu juro que o mato- Sophia fala com ódio

- Me fala do seu irmão mais velho, se você conseguir

- Nós passávamos mais tempo juntos do que com nossos pais, assim com meus irmãos mais novos e eu. Eu lembro que quando ele tinha dez anos, ele foi morar com uma tia, irmã do meu pai- Sophia fala e Carlos percebe o medo dela, o medo de que talvez ele tenha sofrido o mesmo que ela.- Eu sou três anos mais nova que ele, mas era como se ele fosse a pessoa três anos mais nova. Eu me lembro, que quando um de nós quatro tínhamos um pesadelo, ficávamos todos na mesma cama, acordados até a pessoa que teve o pesadelo, dormir. E você não tem noção de quantas horas nós ficamos acordados quando algum dos gêmeos tinha um pesadelo. Eu me lembro de ter doido tanto quando minha mãe falou que meu pai levou ele para morar com a minha tia. Eu nem consegui me despedir dele. Nós não nos vemos desde que eu tinha sete anos. Ele foi morar com minha tia um tempo antes dos experimentos começarem. Desconfio que tenha sido porque meu pai sabia que ele poderia tentar impedi-lo. E esses dias, eu tive um pesadelo, e eu estou com tanto medo dele ter morrido.

- Vai ficar tudo bem, Sophia

- Eu fico me perguntando, por que minha mãe teve quatro filhos? Se ela não queria cuidar, por que ela nos teve? Se fosse para ela ter bebê e não cuidar, então era melhor que não tivesse engravidado, porque ter pais que não te dão atenção é tão ruim.- Sophia fala, dando ênfase no "tão".- E isso, tudo isso, foi apenas o início da minha vida. Depois disso, foi a morte do Miguel, depois, foi quando pegaram a Amanda de refém, e eu senti meu mundo quase desabar. Então, sua irmã morreu pela minha irmã- Sophia fala e vê Carlos engolir em seco- Depois, foi a morte de Hugo, a traição da Aline. Então, eu e Camilli quase morremos afogadas por minha culpa

- Não foi sua culp...- Carlos começa a falar mas a garota o interrompe

- Sim, foi minha culpa. Se eu tivesse pensado de outro jeito, se eu tivesse abaixado as janelas depois que eles jogaram a bomba em nós. Talvez, se eu tivesse pego outro carro, se não fosse eu dirigindo- Sophia fala e Carlos percebe que ela tem um problema, talvez por ter amadurecido rápido de mais. Sophia pensa que poderia evitar tudo. Que ela poderia ter evitado tudo. Que havia outro jeito. Mas se isso aconteceu, era para acontecer. Pelo menos, era o que Carlos pensava- Sabe por que eu não quis que Camilli entrasse no meu carro na última vez? Porque estava com medo de que acontecesse algo com ela. E eu estava certa. Eu percebi isso hoje. Eu não tenho medo da morte, Carlos. Eu me jogo nela. Eu penso, se eu morrer, eu morri, ponto final. Eu quase bati meu carro no do cara que estava atrás de mim, por pura vontade- Fala Sophia e respira fundo

- Nós temos problemas, Sophia. Cada um lida com eles de um jeito. Você pode lidar com eles assim, com a adrenalina. Alguns, lidam contando para alguém. Ninguém é igual a ninguém.- Fala Carlos enquanto pousa a mão no topo da cabeça de Sophia.- Pode ser que você não entenda isso agora, mas isso é normal. Eu tenho que ir agora, mas se quiser alguém para conversar de novo, eu estou aqui- Carlos fala sorrindo e sai, fechando a porta atrás de si.

Quando ele sai, Sophia desaba em lágrimas, soltando alguns sorrisos de vez enquanto.

- Ainda quer furar a orelha?- Carlos aparece um tempo depois, na batente da porta do quarto e Sophia assente com um sorriso- Vem logo antes que eu mude de ideia- Ele fala e Sophia falta sair saltitando por ai

no fim do mundo 1 (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora