Meus novos companheiros tinham-se saído melhor do que eu esperava, conseguindo não apenas arrancar a garra do Rei como também quase domá-lo. Porém, como era de se esperar de alguém carregando a lamúria de centenas de condenados, os mundanos mostram-se incapazes de resistir ao rugido da besta. Até mesmo eu, o grande Imperador Necromante do Divino, quase me rendi ao seu chamado bestial. Quase, mas minha pessoa ainda era muito grande para render-se a uma entidade tão terrena.
O grande Dragão Dormente também mostrou-se acima da população comum, conseguindo desferir um golpe certeiro e expor parte da carne contida pela casca de ferro negro. Sim, pois até mesmo o grande Rei Negro era um mortal de carne e sangue. E nem mesmo ele poderia esconder-se agora que sua famigerada Garra Negra havia sido jogada de lado. O fato de que ele conseguia medir forças com o grande Dragão era preocupante, sim, mas pouco a força física importava quando posta contra as palavras dos condenados.
— Muito bem, meus companheiros. Permitam-me...
O Rei Negro então acertou um soco no peito do grande Dragão, o impacto trovoando pelo campo e interrompendo minha grande entrada. Um pouco rude, mas, considerando que eu haveria de ter mais chances de brilhar, poderia perdoá-lo por esse deslize. Dessa vez. O Dragão agora de volta ao nosso meio, tendo sido enviado pela força do impacto.
Não querendo ser interrompido novamente, me apressei a tomar a frente. Seria um deslize meu se não conseguisse me impor agora que havia tomado o palco. E, com todas as peças em seus devidos lugares, era o momento de mostrar aos presentes a força do mestre dos condenados.
— Oh, Grande Rei. Sua força é óbvia. Mas seu reinado já é longo e doloroso, choros daqueles cujas as vidas foram tomadas enchem o ar ao seu redor e clamam por justiça! Ajoelhe-se perante o Imperador! Humilhe-se e peça perdão aos que o condenam! Essa é a piedade que lhe ofereço!
Sim, aquele havia sido um bom discurso, digno de capturar a atenção e os corações dos presentes. Certamente até mesmo o Rei haveria de ficar emocionado, mas, ao invés de seguir seus desejos e assumir a posição dos humildes, ele virou-se, voltando a andar em direção à minha mãe.
Com o coração pesado, eu sabia que aquilo não poderia ficar impune. Mesmo que ambos fôssemos nobres em nossos títulos, até mesmo reis deveriam prestar respeito aos seus imperadores. E ignorar a piedade de seus superiores era o pior pecado que alguém havia de cometer. Pois sim, punições severas tinham de ser executadas.
Movendo minhas mãos, tomei controle das maldições que cercavam o Rei. Mesmo que seu rugido abafasse as outras vozes, ele não era capaz de fazê-las desaparecer. Gritos antigos e cruéis, determinados a cercá-lo por toda sua vida. Sim, ele era o alvo da ira dos condenados, e eu seria aquele a fazer essa ira manifestar-se. Os corpos dos soldados mortos ainda se espalhavam pelo pátio. Não eram os melhores recipientes, mas serviriam para trazer justiça.
Movendo as maldições, guiando-as aos seus destinos, fiz com que cada uma das vozes mais fortes assumisse um corpo. Demorou alguns instantes para que seu propósito ficasse claro, mas, quando entenderam a oportunidade que havia lhes concedido, um a um, os cadáveres ergueram-se, suas espadas em punhos firmes. Sim, um exército de doze, mais do que o suficiente para mostrar ao Rei que nem mesmo ele estava além de seus pecados.
O som das armaduras erguendo-se também foi o suficiente para tomar sua atenção, como deveria ter sido desde o começo. Virando-se para encarar aqueles que havia injustiçado. Enquanto ele teria feito pouco caso deles com sua garra, desarmado, não haveria uma luta tão fácil.
Um dos corpos avançou contra o Rei, erguendo sua espada enquanto preparava-se para desferir um golpe certeiro. Porém, mesmo com toda sua fúria, seu corpo ainda estava quebrado, e seus movimentos eram lentos e desengonçados. Fato do qual o Rei se utilizou para desviar da lâmina com um simples passo para direita, e completando seu contra-ataque com um golpe das costas de seu punho direito indo de encontro ao rosto do soldado. Sangue e dentes voaram quando o punho deixou sua marca fundo na carne. Seria o suficiente para matar uma pessoa, mas não para apaziguar a maldição que agora habitava o corpo.
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Estrela Morta
AdventureESTRELA MORTA História por Nero Ilustrações por Trutanos Revisão por Tany Isuzu Distribuição: My Light Novel - www.mylightnovel.com.br Sinopse: Brayan Valafern é um dos vários estudantes da Escola do Divino que treinam para se tornarem um Escolhido...