Atacantes e Defensores

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Capítulo 13

Atacantes e Defensores

          Felizmente, os meus ferimentos não foram tão graves quanto os das minhas últimas batalhas, caso contrário eu estaria em maus lençóis sem a Tigresa por perto para realizar os tratamentos necessários. Cavala havia acabado em uma situação pior que a minha, no entanto. Aparentemente, aquele truque que ela usou para nos fazer fugir da Masmorra causa um grande estresse no corpo dela.

          Nós dois havíamos passado quase todo o resto do dia na enfermaria que Tigresa costumava trabalhar, com Coque cuidado de minhas bandagens — colocadas de improviso por ela quando havíamos acabado de chegar — e ajudando a irmã a se recuperar do desgaste.

          Aquelas horas sozinho, acompanhado apenas dos roncos da Cavala, me deram um bom tempo para pensar em meu reencontro com Veraprata. Havia sido exatamente como eu tinha imaginado que seria, especialmente na parte onde meu plano para matar ele acaba se virando contra mim após ele dizer as coisas certas. Até mesmo me lembrar do ocorrido me deixava com raiva. Ou pelo menos eu desejava que fosse apenas raiva.

          Quanto mais eu pensava no sorriso dele, nas suas palavras, mais meus joelhos começavam a doer. Era como se o quarto estivesse ficando mais frio, as luzes mais escuras. E então, não havia nada. Apenas um silêncio irritante, e a sensação das bandagens úmidas de suor se agarrando à minha pele. Eu não podia ficar daquele jeito. Se continuasse assim acabaria ficando maluco de vez e não pretendia dar esse gosto àquele canalha. Não, precisava estar bem são quando cortasse ele ao meio. Decidindo que ficar no quarto não ajudaria, resolvi me levantar, indo dar uma volta na cidade abandonada, agora coberta pela noite.

          Não demorou muito para que eu acabasse encontrando Sombra e Coque. A cidade era relativamente grande, mas como boa parte dela já havia desmoronado devido a negligência e a qualquer coisa que tivesse acontecido quando o Duque decidiu matar todos os moradores, não havia muito lugares que valessem a pena visitar. Eles estavam em uma construção que a guilda costumava usar para fazer refeições, já que era a com a cozinha em melhor estado. Minha aproximação chamou a atenção de Coque, que se levantou assim que me viu.

          — Senhor Brayan! Suas feridas estão melhores? Quer que eu reaplique os remédios? — Ela perguntou, seus olhos cheios de preocupação.

          — Não, não se preocupe. Eu estou bem — respondi balançando minha mão, forçando um sorriso fraco no rosto. Meu corpo estava bem, mas minha mente ainda estava em Veraprata.

          — Estávamos decidindo o que fazer agora que nossa presença foi descoberta — disse Sombra, sem cerimônias como sempre. — Não vai demorar muito para aquele Escolhido voltar à escola e reportar o ocorrido.

          — Eu pensei em abandonarmos a cidade antes que as forças deles venham atrás de nós, mas... — disse Coque com uma pista de vergonha na voz.

          — Nós não temos meios de nos comunicar com Dragão, Boneca ou Tigresa. Se abandonarmos a cidade sozinhos, eles podem acabar sendo cercados aqui, ou pior, nós podemos cruzar com os Escolhidos no caminho e eles não saberão aonde ir para nos ajudar — completou Sombra com um tom ríspido.

          — Espera, não temos como nos comunicar com eles? O Dragão não enviou uma mensagem para vocês enquanto me treinava algumas semanas atrás? — perguntei, me dirigindo a Coque.

          — Ah, não, o senhor Dragão não enviou nenhuma mensagem. Daquela vez ele veio pedir nossa ajuda pessoalmente — respondeu Coque como se aquilo fizesse mais sentido que receber uma mensagem, e agora a imagem do Dragão correndo a uma velocidade tão incrível com aquela expressão cansada estava gravada em minha memória.

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora