Amadeus e Valafern

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            O grupo de Amaldiçoados havia sido derrotado, não se podia discutir esse fato. Mesmo tendo chegado perto mais de uma vez, Brayan tinha se mostrado mais forte do que qualquer um deles poderia lidar sem tentar matá-lo. Talvez, em outra situação, eu sentiria um pouco de orgulho, mas, agora, a única coisa que tomava minha mente era a amargura de minha falha.

Quando eu havia me distanciado tanto de meu objetivo? Após tantos anos, tanto esforço para me tornar alguém capaz de ajudar aquele que deveria ser meu irmão, como ele se tornou um monstro tão grande antes que eu pudesse fazer qualquer coisa? Talvez se tivesse sido mais direta, se eu tivesse estado mais ao seu lado. Desde quando entramos na Escola do Divino. Aquela havia sido a primeira vez que tínhamos nos visto.

Peguei minha espada, respirando fundo. Ele estava desarmado, mas isso não seria problema. Mesmo antes, ele nunca havia tido uma arma de verdade. Quando treinamos juntos, era como se fosse uma joia escondida dentro de uma grossa camada de rocha. Tanta determinação. Tanta ânsia por ficar forte. Se ele tivesse recebido a sua Bênção. Se os Anciões lhe tivessem concedido poder. Nós estaríamos juntos. Eu poderia tê-lo protegido.

Brayan se virou para mim, provavelmente notando que me preparava para ser seu próximo oponente. Seu olhar era tão diferente. Tão frio. Tão hostil. Minha mãe havia me contado do que tinha ocorrido com ele, como ele seria cercado por quem queria machucá-lo. Quanto tempo ele estava sofrendo sem que pudesse ver? Eu me esforcei tanto. Tanto. Então por quê? Por que eu não estava lá quando ele precisou de mim? Era minha culpa?

Dei um passo em sua direção, segurando minha arma com ambas as mãos, criando uma cópia dela para flutuar à minha direita. E, então, uma a esquerda. Ele simplesmente apertou seus punhos, preparando-se para me enfrentar com nada além de suas mãos. Talvez eu tenha me esforçado demais. Talvez eu devesse ter permanecido na escola. Talvez pensar que poderia mantê-lo seguro garantindo que o resto o Miasma no mundo estivesse sob controle tenha sido muita inocência.

Nós começamos a andar em direção um ao outro. Ele não estava sério, não ainda. A pressão do Miasma vindo dele ainda estava baixa. Ele não queria nos esmagar, não ainda. Ele queria se vingar? Ou talvez apenas se provar. Como na torre, era fácil de perceber o quanto ele havia acumulado dentro de si. Perdoe-me. Sinto muito por ter sido uma irmã ruim até agora. Mas eu não iria falhar mais. Daquele momento em diante, eu não iria mais estar longe.

Mas, antes que pudesse estar ao seu lado, eu precisava buscá-lo. De dentro da criatura usando sua pele. Que se atrevia e usar o rosto de alguém muito melhor do que ele. Muitas pessoas tinham se sacrificado para que algo tão banal quanto Miasma tomasse ele de nós. E isso não poderia ser permitido.

— Devolva meu irmão.

Com essas palavras, ativei o poder de minha espada, movendo o ar ao meu redor e disparando na direção do Rei Negro. A ponta de minha lâmina mirando em seu ombro direito. Ele esperou até o último segundo para desviar, dobrando seu joelho esquerdo e inclinando seu corpo. O fio de minha espada passou raspando pela armadura cobrindo seu braço, fazendo barulho, porém inofensiva. Ele, então, se aproveitou da abertura para tentar me socar na região de meu estômago.

Usando minha espada, fiz com que o vento me carregasse para trás, pulando para longe do alcance de seu ataque. Isso era o suficiente para provar que a pessoa a minha frente não era meu irmão. Se fosse ele, seu poder teria feito o ataque me acertar antes que pudesse reagir. Mas meu oponente não tinha o poder de meu irmão. Tudo o que ele podia fazer era fortalecer seus ataques. E, enquanto não conseguisse me atingir, ele não poderia fazer nada.

Fiz com que a cópia da direita avançasse contra ele, tentado acertá-lo na região coberta de seu elmo. Ele respondeu erguendo seu braço esquerdo, aparando o golpe com a armadura. Com um passo largo para frente, ele tentou cobrir a distância entre nós. Preparando-me para a barragem de ataques que estavam por vir, ergui minha espada, mantendo-a de pé rente ao meu tronco. E então começou.

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora