Mudança

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Capítulo 7

Mudança

          Meu quarto no manicômio fazia com que meu antigo dormitório na Escola do Divino parecesse uma suíte de luxo. O lugar era um dos antigos dormitórios para pacientes que, por algum motivo, ainda estava de pé. Não havia mobília nenhuma além da cama e as únicas janelas eram as abertas pelas rachaduras que surgiram com o tempo. Até mesmo meu conforto inicial de que pelo menos eu tinha uma cama novamente desapareceu após a primeira noite. O colchão estava tão cheio de buracos que eu estava começando a ficar com saudades da grama da Terra Morta.

          E não eram apenas as minhas noites que estavam puxadas. As refeições também eram bem controladas, com a Boneca como cozinheira. A comida dela era boa, mas não parecia que a guilda estava nadando em suprimentos para fazer uma festa por dia, então sem biscoitos.

          Essas eram só as dificuldades de todos na guilda, as minhas eram ainda maiores. Todo o dia eu tinha que passar parte da manhã e quase toda a tarde treinando com Dragão. E por treinar, eu quero dizer ficar carregando pedras de um lado para o outro e usar minha espada para quebrar antigas construções de madeira. Ele dizia que aquilo era para que eu treinasse meus músculos e movimento, algo sobre o esforço repetitivo fazer com que eu começasse a reduzir os movimentos inúteis. Na minha opinião, ele só estava usando aquilo como desculpa para me fazer limpar o lugar.

          Após minhas sessões de treino, eu tinha que passar por baterias de exames conduzidos pela Tigresa. O que, em teoria, deveria ser mais fácil do que brincar de demolidor o dia inteiro, mas, quando sua médica parece estar pronta para abusar de você a cada sentença que ela pronuncia, os seus nervos não conseguem muito descanso. Aparentemente, o objetivo dos exames era garantir que a minha produção de Miasma não saísse de controle, não sei como isso seria possível; e algum problema, que não me disseram qual, pudesse ocorrer. Após uma semana, eu sentia como se cada dia fosse ser meu último.

          Mas tirando isso, as coisas estavam muito mais calmas do que eu esperava, considerando que eu estava morando com uma guilda de criminosos. Claro, as companhias não eram as mais seguras do mundo, Coque sendo a mais normal do grupo, mas os outros não eram tão ruins. Boneca era mais assustadora do que um ser humano tem o direito de ser, quase me dando um ataque cardíaco toda vez que eu a via durante à noite, e Cavala era irritante na maior parte das vezes, mas não mais que uma criança de onze anos. Tigresa era a única que realmente me assustava, com sua aura de estar sempre pronta para o bote. Dragão... Eu não sabia o que pensar dele. Sempre com a mesma expressão, tirando as vezes que ele parecia estar se divertindo às minhas custas, era difícil acreditar que ele possuía emoções para começo de conversa.

          Mas algo que me deixava curioso era o membro restante, Sombra. Já fazia quase duas semanas desde que eu havia chegado e ele não havia aparecido nenhuma vez. Aparentemente, ele costumava passar bastante tempo fora, fazendo trabalhos individuais. Quando eu tentava perguntar sobre que tipo de pessoa ele era, as respostas eram ou que nós dois seriámos amigos, ou ele tentaria me matar enquanto eu dormia. Sinceramente, eu não ficaria surpreso se as duas fossem verdade.

          Mas o que me fez lembrar dessas duas últimas semanas? Bem, poderia se dizer que era uma reavaliação de via, no caso, de semana. Algo me dizia que eu não era uma pessoa hábil a fazer escolhas com pouco tempo para me decidir. O motivo poderia ser o fato de que eu ficava nervoso facilmente sobre pressão, que eu não tinha muita confiança em minhas capacidades ou talvez o fato de minhas escolhas terem me feito chegar a uma situação onde eu precisava carregar um bloco de pedra pesando quase trezentos quilos por uma distância de duzentos metros ou eu ficava sem jantar. Eu provavelmente morrerei sem chegar a uma resposta.

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora