Sombras Densas

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          A escada para o porão da casa de tortura não era muito mais do que um buraco no chão que estava escondido atrás de uma mobília pesada. Era algo bem fácil de esconder, mas, devido ao seu tamanho, só era possível uma pessoa descer de cada vez e a escuridão lá embaixo parecia tão densa que eu podia jurar que ela era sólida.

           — Começando a questionar sua escolha de ir lá embaixo? — perguntou Tigresa enquanto mexia em alguns frascos de sua pochete.

           — Não exatamente, mas não gosto da aparência deste porão — respondi, tentado enxergar alguma coisa no fim da escada.

           — Bem, esta é uma casa de tortura. Ambientação é parte importante do processo. — Ela deu uma pequena risada enquanto se aproximava de mim com alguns frascos. — Essas misturas vão ser nossa única fonte de luz lá embaixo, então é melhor pegar algumas.

           Peguei os quatro frascos e dei uma olhada em um deles. Ele era feito de um vidro mais grosso do que os outros, provavelmente para que não quebrasse facilmente. O líquido dentro dele também parecia especialmente viscoso, se grudando as paredes de vidro.

           — Dê uma sacudida forte e o líquido vai começar a brilhar. Não é tão forte quanto uma tocha, mas é mais fácil de usar. Mas cada um dura só uma hora, então é melhor só usar ele quando encontrarmos o Núcleo, no resto do tempo é melhor deixar seus olhos se acostumarem com o escuro.

          — Nunca vi uma coisa dessas antes. Achei que você fosse especializada em remédios e venenos.

           — Oh, a mistura dentro dos fracos é bem venenosa. Se encostar na sua pele, ela vai começar a corroê-la até você lavá-la.

          E isso explicava porque os frascos eram tão grossos. Mas era melhor ter um veneno brilhante do que nada, então os guardei dentro de um dos bolsos da calça.

          — Bem, se você estiver pronto, vamos andando. Eu quero ver que espécie de Núcleo uma casa de tortura conseguiu gerar.

          Tigresa estava tão animada que quase parecia uma criança vendo uma cidade grande pela primeira vez. E eu não tenho muita certeza de que isso era um bom sinal.

          Mas, no fim das contas, ela era mais experiente do que eu, e seria melhor que não me separasse dela. Descendo a escada, alguns passos atrás dela, as sombras do porão lentamente começaram a nos cobrir, a cada degrau ficava mais difícil de ver. Tigresa não parecia estar tendo dificuldades, mas eu tive que começar a manter uma mão na parede para não perder a noção do espaço quando nos aproximamos do fim da escada.

         — A escada acaba aqui, cuidado para não pisar em falso — avisou Tigresa.

         Não querendo começar a sessão de treinamento caindo em cima dela eu demorei um pouco mais para dar o último passo, só para ter certeza de que eu não acabaria pisando no vazio. Com ambos os pés ficado no chão tentei forçar minha visão para ver o corredor. Mas, pelo menos naquele momento, a única coisa que eu conseguia ver era a silhueta das costas de Tigresa.

         Percebendo que eu já estava atrás dela, Tigresa começou a andar novamente e eu a segui. Após alguns passos, senti uma sensação úmida na parede em que estava apoiando minha mão. Não sabia dizer se era simplesmente umidade ou alguma outra coisa, mas só para me precaver, achei melhor arriscar andar sem me apoiar nela.

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora