O Corredor

39 6 0
                                    

25


          A confusão invadiu a minha mente conforme me dava conta que, de alguma forma, eu havia parado em um lugar completamente diferente do que estava apenas alguns instantes atrás. Tudo que eu havia feito era me virar no mesmo lugar, então como poderia ter parada em um corredor sem saída? Algo me dizia que o Núcleo era o responsável, mas como eu não sabia dizer.

          Levei minha mão até a parede atrás de mim, não parecia haver nada de errado com ela. A sensação de pedra coberta por uma camada umedecida era exatamente igual às outras no porão. Aproveitando a luz que ainda restava no frasco, decidi seguir o único caminho disponível: em frente:

          O corredor pareceu se estender pelo o que parecia uma eternidade. Não importava o quanto eu andava, as paredes sempre pareciam idênticas. Eu começava a achar que estava andando em círculos, de alguma forma, quando finalmente uma escada descendo na escuridão a minha frente. Eu tive tempo apenas para constatar que a descida era das longas antes da luz do frasco finalmente se apagar, a escuridão voltou a tomar conta do local. Decidindo que seria perigoso descer a escada agora que meus olhos haviam se desacostumado com a escuridão, tirei o segundo frasco do meu bolso e o sacudi, ascendendo-o.

          Respirando fundo, comecei minha decida, logo me arrependi, pois, a umidade no ar misturada com o que quer que estivesse cobrindo essas paredes fizeram o interior de meu nariz sentir uma leve queimação e um leve ataque de tosse. Incômodo, mas nada que impedisse minha descida.

          Depois daquela escada, havia mais um corredor seguindo em frente. E depois desse corredor uma escada subindo, e outro corredor, e outra escada subindo, e outro corredor, e então duas escadas descendo, e então um corredor. Eu continuei andando por horas, perdi a conta três vezes e tive que recomeçar. Minha barriga roncava e minhas pernas começavam a cansar. E mesmo assim, a única coisa à minha frente era a escuridão.

*

          Com um passo em falso, pulei o último degrau da escada, fazendo com que eu tivesse que me jogar contra a parede caso não quisesse cair de cara no chão. Eu estava cansado, podia sentir o suor grudando minha camisa ao meu peito. Tudo parecia desconfortável. Todos os meus pertences pareciam pesados demais para continuar os carregando. Eu só queria sentar e descansar, mas, toda vez que tentava, as trevas faziam com que a experiência fosse ainda mais cansativa do que andar.

          Com um ritmo descompassado, eu segui em frente. Quantas escadas eu havia visto desde que havia me separado de Tigresa? Vinte? Trinta? O quão fundo era aquele porão afinal de contas? Eu com certeza havia subido mais do que descido, então por que eu ainda não havia voltado para casa? Ah, isso era irritante. Pensar era irritante. Respirar era irritante.

          Mais uma escada subindo, e, mais uma vez, a cada degrau parecia que havia pesos pendurados em minhas pernas. Eu estava assado entre as pernas, suando ao ponto de encharcar minha camisa e ainda por cima o ambiente frio fazia com que meu corpo inteiro tremesse por causa disso. E nem estava mais bravo, apenas cansado. Tão cansado. Mas eu não podia descansar. Eu tinha que continuar subindo. Eu poderia descansar quando visse a luz do sol. Ou da lua. Qualquer luz. Qualquer uma serviria.

          No topo da escada, finalmente encontrei uma sala diferente. Ela era redonda, enquanto os corredores eram retangulares. Havia três saídas à minha frente. E também algo no chão, mas eu não conseguia enxergar no escuro, então usei meu penúltimo frasco.

          No centro da sala havia um prato com um pão e um copo com água. Ao vê-los, senti minha barriga roncando. Quem havia colocado aquilo ali? O Núcleo? Era óbvio que era uma armadilha, então continuei pela porta do meio, seguindo em frente. Porém dessa vez sabendo que eu estava com fome.

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora