O Laboratório

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          A visão era simplesmente grotesca. Pervertida além do que eu poderia considerar possível. Em apenas uma noite, Brennus e Alanis haviam perdido quase que toda a sua aparência humana.

          — Vamos, não temos muito tempo.

          Sombra foi o primeiro a se mover, começando a dar a volta pelo corpo. Segui-o, mas então uma sensação tomou conta da minha mente, como da vez em que quase havia sido acertado por Resplendor.

          — Sombra, cuidado!

          Meu aviso foi em cima da hora. Em um movimento rápido, Sombra voltou com sua sombra para meu lado e trocou de lugar com ela. No lugar onde ele estava, a pata da criatura havia esmagado o chão. Correntes elétricas fracas corriam pelo seu corpo enquanto os músculos negros pareciam se contorcer.

          Olhando para cima, vi os tendões, que costumam ser o corpo de Brennus, levando os raios de sua cabeça até a criatura embaixo dele. Aquela deveria ter sido a experiência feita nele, usar a magia do mago para dar vida ao corpo criado com Miasma.

          — A... La... Nis...

          A voz dele soava rouca, como se estivesse se forçando para falar sem ar. Só o fato que ele conseguia falar sem pulmões indicava o quanto seu corpo foi distorcido.

          Carina caiu para trás, se arrastando até quase a beirada da escada, seu rosto contorcido em puro terror. Eu também sentia como se todo o meu corpo tivesse sido congelado pelo medo.

          — ALANIS!

          Com o grito rouco a criatura avançou na nossa direção. Sombra já esperava por isso e tinha posicionado sua sombra para a troca, eu tive que usar minha habilidade para me forçar a sair da direção a tempo.

          A massa negra pousou no local onde estávamos com um estrondo, os tendões que ligavam o corpo à cabeça se esticaram com o movimento. Talvez fosse possível parar o corpo se cortássemos os tendões, privando-o dos estímulos elétricos. Porém, era bem provável que só acabaríamos nos eletrocutando se encostássemos nossas lâminas neles.  

          Sem muitas escolhas, apertei meu punho em minha espada, avançando contra a parte traseira do corpo. A massa negra começou a virar-se para me encarar, mas, com meu tempo de reação aumentado, consegui cortá-lo antes que tivesse a chance de se virar totalmente.

          A sensação do corte não era nada parecida com a de um cortar um Resquício. Enquanto eles possuíam uma consistência de carne, esse corpo parecia ser feito de alguma espécie de gelatina. O risco de meu corte ficou visível no corpo, mas nenhum sangue saiu, e assim que as bordas se uniram, o corte se fechou.

          Cortar o corpo não ajudaria, então teríamos que tentar outras coisas. Sombra havia se movido para a outra lateral do corpo e atacou com suas foices, tentando arrancar pedaços do corpo. Porém, até mesmo isso se mostrou inútil, uma vez que o corte se regenerava rápido demais, no momento em que a lâmina alcançava o ponto de saída a entrada já estava fechada.

          Um urro da cabeça de Brennus fez com que Sombra e eu déssemos um salto para trás. Bem em cima da hora, pois correntes ainda mais intensas de eletricidade desceram pelo corpo da criatura e explodiram na região ao redor dela. Não só o Miasma havia distorcido o corpo de Brennus, ele realmente amplificara seus efeitos mágicos.

          — Nós temos que dar um jeito na cabeça — disse Sombra, trocando de lugar com sua sombra ao meu lado.

          — É, mas como vamos alcançar ela?

Estrela MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora