Take me home

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Quarta-feira - 16:00hrs
Flórida, Miami

Pov. Beca

" A vida é como um sonho, é o despertar que nos mata..." - Virgínia Woolf nunca fez tanto sentido...
Foi como ficar perdida em um sonho. Apagar. Ser envolvida, seduzida por um momento, um lugar, um ser... esquecer do mundo lá fora. Esquecer da vida de problemas e preocupações. Viver aquela noite. Aquelas horas. Sentir o tempo parar e tudo desaparecer. Ser levada. Guiada a uma "terra do nunca". Um lugar meu... e dela. Corpo, alma e coração em plena e pura vida. Era eu e ela, somente, naquele vasto e profundo sentimento. Navegando uma na outra. Sentindo toda a fluidez que habita entre nós duas. Sem fugas... sem trava... sem pensar. Então a realidade vem crua e amarga, e me trouxe de volta as preocupações e aos maus bocados. E ela quase me matou...
Desci das escadas em passos rápidos, quase correndo em direção a cozinha, e só parei quando vi Mary parada de frente ao balcão, preparando uma bandeja de alimentação - Mary era uma enfermeira que meu pai contratou para cuidar de minha mãe, em seu estado debilitado.
- Mary, ela está dormindo... acabou de pegar no sono.
A moça voltou seus olhos para mim. Parecia tranquila.

- Bom, então vou deixar a janta para mais tarde! - disse levando a bandeja para o forno. - Você está bem? Parece nervosa. - exclamou em seu tom de voz calmo. Transparecendo cumplicidade.
Eu a conheci assim que cheguei em casa a três dias, e isso foi tempo o suficiente para... criarmos uma aproximação, como uma espécie de cumplicidade maternal, apesar dela não aparentar passar dos trinta e cinco.

Eu estava nervosa?
- Não sei... só estou cansada. Pensando muito - respondi, recebendo um sorriso fechado gentil como resposta.
Ela sabia o quanto eu estava preocupada. O quanto estava ansiosa com tudo.- A quatro dias, quando recebi a notícia de que minha mãe tinha recaído, e o resultado da cirurgia não tinha sido como o esperado, eu senti muito medo. Senti um medo maior que qualquer outro medo em minha vida.
Eu não esperei nem uma hora, peguei um vôo de São Francisco direto para Flórida. Avisei o Alex e deixei tudo nas mãos dele. Nada mais importava, além da minha mãe!
Falei com a médica dela, e ela disse que houve uma complicação não esperada, algo que talvez comprometa a recuperação saudável que previamos - Ouvir aquilo me deixou muito assustada. Eu não sabia o que fazer ou pensar, a não ser nela, e na possibilidade de perder ela.

Mary sorriu fraco e antes de se retirar da cozinha, passou por mim, colocando a mão sobre meu ombro - Você vai ficar bem e ela também, ok?!

- Ok - concordei.
Ela saiu, me deixando sozinha. Eu caminhei até a sala, e me joguei no sofá, sentindo as coisas doendo.
Eu estava dormindo em uma poltrona, de frente a cama da mamãe, e mesmo meu pai insistindo que iria ficar de olhos nela, eu me recusei a sair dali. Consequências: sono e dores nas costas.
Retirei meu celular do bolso, desbloquiei a tela e me deparei com umas duzentas notificações.
Meu Deus, ser anônima era mais fácil!!!
Entre as mensagens, tinha uma recente de Chloe, onde ela dizia: "posso te ligar?" .
Por favor, me salva...
Entrei em seu contato e liguei. Obs: chamada de vídeo - que eu odeio, odeio, e odeio com todo meu ser.
Logo a vi. Ela estava em seu consultório, muito provavelmente organizando suas coisas para ir embora.Ela estava de jaleco branco, com uma blusa azul por dentro. Seu cabelo estava preso em um coque, deixando uma franja dividida, que nela ficava um charme.

- Oi becs... como você está ein? - ela perguntou, com um tom de voz meigo, e um sorriso fechado nos lábios.

- Oi Chlo. Eu estou... - suspirei fundo - estou preocupada, cansada, sem ânimo, com vontade de chorar...- cortei minha fala para evitar o drama.

Secret Love Song - Bechloe Onde histórias criam vida. Descubra agora