Capitulo 36

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-Xamã-

As semanas passavam correndo, estávamos na nossa melhor fase, a Heloisa transmitia um brilho e uma energia surreal. Estávamos com 27 semanas, início do 7º mês, a barriguinha estava cada vez maior, e já não tinha como esconder de mais ninguém.

Entro no banheiro e vejo ela tomando um banho, ela parecia estar cada vez mais linda, abro uma fresta no box, e faço um bico e a mesma entende e me dá um selinho.

-Bom dia meu amor.- Digo fechando o box e indo até a pia e lavando meu rosto.

-Bom dia, Akasha já acordou?.- ela tira a espuma do corpo e fecha o registro do chuveiro.

-Ainda não, ta capotada.- Pego a escova para escovar os dentes e vejo seu reflexo de toalha atras de mim.

-A gente podia dar uma volta no calçadão hoje.- ela me abraça por trás e sinto apenas seu buchinho nas minhas costas e seu queixo no meu ombro.

-Claro minha vidinha, a gente só não pode demorar muito, os moleques vem prá cá hoje.- ela da um cheiro no meu cangote.

-Da tempo, é só você não enrolar, vou lá acordar a Akasha.- ela se descola do meu corpo e sai do banheiro.

-Heloisa-

Descemos e andamos até o calçadão, compro uma água de coco e sentamos em uma barraquinha. Suspiro cansada, a gravidez me trouxe um cansaço enorme.

-Tia Helo, o meu irmãozinho tava com vontade de tomar agua de coco?.-Akasha pergunta passando as pequenas mãozinhas no topo da minha barriga.

Ela estava mais empolgada do que todos nós, perguntava do irmãozinho em tudo que fazíamos, e sim, na cabeça dela é um menino, mesmo com a gente explicando diversas vezes que ainda não sabemos o sexo do bebe, porque todas as vezes que fizemos o ultrassom ele escondeu, ela insiste que é um irmãozinho, estamos torcendo para que de fato seja, pois ela está com altas expectativas, não queremos ver a pequena frustrada.

-Sim meu amor, estávamos morrendo de vontade.- sorrio e passo minha mão no seu rosto.
-Papai
-Oie minha princesa
-A gente pode ir molhar os pezinhos no mar?.- ela faz carinha de pidona.
-Essa é sereia mesmo, não vive sem água, só molhar os pezinhos ouviu? Porque já já os titios vão lá em casa e a gente precisa ir.- ele levanta e da a mão pra pequena.
-Vamo tia Helo.- ela segura na minha mão.
-Vou ficar olhando vocês daqui, a tia tá cansadinha e tenho que terminar minha água de coco.- sorrio.

-Xamã-

Caminhamos até a areia, que estava pelando de quente, pego a Akasha e coloco nos meus ombros, corro até o mar e desço ela. Sinto as ondas quebrarem e baterem na minha canela, ela está rindo e pulando de um lado pro outro.
Ela pega uma conchinha e coloca na palma da minha mão, depois de acharmos várias conchinhas lindas que guardamos no meu bolso, eu pego ela nos meus braços e suas pernas agarram meu tronco.
Estamos voltando, quando vejo uma movimentação na calçada, não vejo a Helo e saio correndo desesperado.

-O que foi com a tia Helo papai?.- escuto a voz de Akasha longe, quase ecoando na minha cabeça.

O mundo para por um segundo, corro até lá e vejo ela no chão, um círculo de pessoas a rodeavam, e tinha uma moça ajoelhada com ela. Sinto meu coração parar por um momento, meus lábios ficam secos e minha respiração pesa.

-Sai sai, licença.- digo empurrando algumas pessoas para que eu conseguisse chegar ao centro.- sai fora caralho, é minha mulher.- grito fazendo com que as pessoas me deixem passar.

Ajoelho perto dela, já fico mais calmo ao ver que ela tá bem, acordada, sem marca de nada. Só parece meio perdida.

-Tá tudo bem? O que que aconteceu? Fala pra mim.- digo desesperado.
-Moço calma acho que ela tá em um processo de choque.- a mulher que estava com ela me responde.
-Ele só levou meu celular, tá tudo bem...me ajuda a levantar.- ela diz com a voz fraca.
-Ele te bateu? Quem foi o desgraçado? Lembra do rosto?.- meu sangue esquenta e sinto ele na minha cabeça.
-Só levou meu celular e me empurrou, tá tudo bem.- ela levanta se sentando.

Tento levantar ela com delicadeza, e no meio do caminho escuto ela gemer de dor.

-Tá doendo o que? A gente tem que ir pro hospital agora.- digo pegando ela no colo com os dois braços.
-Senti uma dor muito forte aqui, tô preocupada com o nenê amor...- ela diz em um tom de desespero.
-Calma, respira!.- tento acalmar ela.

Sinto algo quente nos meu braço, parece escorrer, quando olho pro chão vejo sangue, ela estava sangrando.

-Alguém chama a emergência pelo amor de deus
-Rápido
-Alguém liga pra emergência.- grito diversas vezes e aí o desespero já me consumiu, as pessoas que estavam nos rodeando começam a pegar seus celulares.

Sento com ela em uma cadeira e tento fazer com que ela não perceba o sangue.
Akasha começa a chorar e puxo ela pro meu lado, dou um beijo rápido em sua testa e passo a mão em sua cabeça.

-Tá tudo bem minha filha, calma, respira.- dou outro beijo na testa dela.

Ela nunca tinha passado por nada parecido, o mutuado de gente em cima, a Helo fraca, chorando, sangrando...estava sem saber o que estava acontecendo.
Começamos a ouvir a sirene da ambulância lá do final da rua, e em poucos minutos ela já estava lá, colocaram ela na maca, peguei a Akasha no colo e sentei do seu lado, seguro sua mão e te dou um beijinho na testa.

-Vai ficar tudo bem vidinha.- limpo uma lágrima que cai dos teus olhos.
-Senhor, pode me relatar o que aconteceu?.- a moça de branco diz com uma prancheta.
-Eu não sei muito bem, não estava com ela no momento, mas ela me disse que um muleque foi assaltar ela, e ela deve ter tentando gritar, ou reagir, e ele empurrou ela no chão, ela tá com 26 semanas, assim que eu levantei ela, ela sentiu uma dor muito forte e ela tá com sangramento.
-Tem uma grande chance da placenta dela ter descolado, isso é muito comum em quedas, vamos medicar ela e assim que chegarmos no hospital, um especialista vai analisar direitinho, por que nesses casos temos algumas opções, depende de como está e o que aconteceu.

Ligo para o Lennon me encontrar no hospital, e assim que eu chego lá, ela é encaminhada pro consultório e eu vou à procura do Lennon que já havia chegado.

-O que que aconteceu? Ela tá bem? Aonde ela tá?.- ele diz num tom bem preocupado.
-Um filha da puta foi assaltar ela, e não sei o que rolou, ele empurrou ela no chão, o desgracado empurrou uma grávida no chão caralho.- digo passando a mão no cabelo.
-Para pô, que cuzao do caralho, ela tá bem? Tá tudo certo com o nenê? Vocês já prestaram um boletim?
-Ela tá consultando agora, preciso que você fique com a Akasha pra mim, eu posso pedir pra mãe dela buscar ela o mais rápido possível, mas seria só a noite porque ela tá trabalhando. E não a gente ainda não prestou queixa, ela ainda não me disse ao certo como foi, ou se lembra do rosto dele, mas assim q consegui resolver tudo aqui eu vou.
-Pode cre, é óbvio que eu fico com ela, me promete que vai dando notícias? E se precisar de qualquer coisa só ligar!.- ele me abraça.- Vai dar tudo certo maninho, fica tranquilo, Deus tá com a gente sempre!.- ele diz com um tom mais baixo no meu ouvido.
-Filhinha você vai passear com o tio Lennon um pouquinho tá bom? E o papai ou a mamãe vai te buscar mais tarde, tá? Se comporta minha sereia.- abaixo até ficar do seu tamanho.
-Tá bom papi, e a tia Helo?.- ela encosta a testa dela na minha.
-A tia Helo vai ficar bem meu amor, o doutor tá cuidando dela ne?.- dou um beijinho na bochecha dela.

Eles vão embora, e eu entro novamente pro consultório, o médico está acabando a análise dela, e se senta na mesa de frente ao computador.

-Por favor senhor, pode se sentar, a placenta dela descolou, pelo sangramento, a gente tem que correr, se não ela pode perder o bebê...

A Bela e a Fera// Xamã Onde histórias criam vida. Descubra agora