Capítulo 12

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Se alguém me dissesse que eu estaria lanchando junto com o pai lindo e misterioso que Fernanda vivia pra me fofocar no ouvido, não iria botar muita fé.

- É impossível manter uma relação profissional com você, sabia? Assim não dá! - mordi meu sanduíche, rindo.

- Olha só! Ela está me chamando de você, já é um progresso. - debochou ele, sorrindo de canto.

Nós estávamos em uma lanchonete simpática de beira de esquina, e eu o estava achando incrível pelo esforço que estava fazendo em me distrair com suas piadas ridículas. Que devo dizer, estavam cumprindo muito bem a função.

 Estive disposta a ir pra casa e só chorar como um bebê, como de costume. Porém, Renzo insistiu que não me deixaria ficar sozinha enquanto eu estivesse pálida daquele jeito. Claro que se utilizou do argumento da comida pra me fazer aceitar, muito esperto da sua parte, já que eu devorava meu sanduiche como uma esfomeada (ao contrário da maioria, eu costumava ter fome quando estava na merda) enquanto ele só pediu uma água com gás. 

Me preparava para abocanhar mais uma mordida quando sentir o telefone vibrar no bolso de trás. Era Fernanda.

- Bella? Pelo amor de Deus, me diz aonde você tá! Eu acabei de ver o carro daquele canalha saindo da sua garagem. Só não fui até lá porque a merda do horário já estava dando, me diz que ele não...

- Estou bem, Fernanda - a tranquilizei. - E ele foi lá sim, com Diego a tiracolo e tudo, mas, bem, é uma longa história. - revirei os olhos.

- Ele te machucou? Esse cara é um covarde pra entrar lá com você sozinha!

- Não se preocupe, Renzo estava comigo e ele...

- QUEM? 

Eu e minha boca.

- Ann... aquele pai que eu estava trabalhando como babá na casa dele... Lembra? - tentei disfarçar. Mas claro que minha prima não facilitaria as coisas.

- VOCÊ ESTÁ FALANDO DE RENZO GUTIERREZ? NO SEU APARTAMENTO?

- Pois é, né... Inclusive você podia tentar falar mais baixo, meio que ele está bem na minha frente agora, sabe? - alertei enquanto Renzo erguia uma sobrancelha inquisitora.

- Tá de sacanagem, Bella! Você tem a obrigação de me retratar como é ter essa visão! O que ele está fazendo ai?

- Ele só está sendo gentil em me dar uma carona, Nanda. A gente se fala depois, ok?

- Gentil é? Aproveita e pergunta o quanto ele cobra por uma gentileza numa cabine de mote... - Mas eu já havia desligado antes que ela completasse a frase que me fez querer me encolher. Fernanda as vezes não sabia ter limites.

- Conversar com sua prima parece ser bem interessante - ele se recostou na cadeira, bebendo sua água num sorriso divertido.

- Ah! Ela é bem animada, sabe? - guardei o aparelho enquanto tentava não corar.

- Eu adoraria conhecê-la melhor um dia.

- Tenho certeza que seria um encontro épico! - pra não dizer o sonho de princesa da minha prima se tornando realidade.

Ele não pareceu notar a piada interna e apenas tomou mais um gole da bebida borbulhante. Aproveitei o momento silencioso para introduzir o assunto que já evitava a tempo demais. - Eu sinto muito por tudo isso, não queria que você tivesse visto essa parte problemática da minha vida, muito menos como eu encaro tudo isso. 

Suas sobrancelhas franziram e me pegando de surpresa, ele se aproximou e com cuidado entrelaçou suas mãos na minha. Seu toque era firme, porém gentil. Não pude deixar de sentir um arrepio me inundar pelo calor que emanava de sua mão. - Você sente muito? Porque o que eu vi foi um cara sádico que sente prazer no sofrimento alheio, inclusive no da própria ex. Esse homem é doente, Bella! E digo no pior sentido da palavra. Então não vejo o porquê de você se desculpar. 

Mais uma vez ele me surpreendia com aquele lado nobre que eu ainda tentava desvendar. Na sua íris de um verde profundo, eu enxergava não pena, e sim um apoio sincero. Sem julgamentos. E talvez era tudo o que eu precisava naquele momento.

Abri a boca para tentar  falar, mas as palavras não vinham. só fiquei piscando na esperança de conter as lágrimas que começavam a brotar outra vez. Não podia correr o risco de desabar de novo.

Um zumbido de notificação ressoou pela mesa, e logo após, outro. Precisou chegar no terceiro toque para Renzo enfim soltar minha mão e ir na direção do celular.

Observei enquanto sua testa franzia ao ler a mensagem. Ele não parecia nem um pouco satisfeito com a interrupção enquanto digitava uma resposta rápida. Percebi que algo estava errado quando seus olhos se ergueram com culpa. - Desculpe, mas vamos ter que sair, surgiu um compromisso. Vou te deixar com a Cida e a Nick, tudo bem?

Assenti sem relutar, não estava mesmo afim de voltar ao meu apartamento por agora. Ele acenou pra garçonete que nos atendeu de pronto e pediu a conta. Procurei na bolsa até encontrar minha carteira e quando me virei com o dinheiro, Renzo já se encontrava de pé colocando os óculos escuros.  A garota só me olhou num gesto confuso.

 - Seu marido já pagou sua parte.

- O que? Ah sim! Mas ele não é o meu mari...

- Será que podemos ir? - Ele me cortou, impaciente. Me voltei pra garçonete e a mesma já se afastava. Só pude apanhar a bolsa e acompanhar seus passos largos meio embaraçada. Sua frieza retornara com tanta força que me perguntei se o homem amável com quem eu conversei minutos atrás sequer existiu mesmo.

***

Estávamos no carro. O telefone dele tocou num número que beirava o insuportável. Se nunca tive a oportunidade de ver seu trabalho em ação, agora pude ter um vislumbre bem claro. Engoli em seco só de pensar o que todos aqueles toques significavam.

Só pude ter paz assim que vislumbrei a portaria. Ele estacionou em frente ao prédio e não se deu o trabalho de desligar o motor. Antes que eu pudesse deslizar para fora, porém, Renzo agarrou o meu cotovelo me fazendo parar aonde estava - Ei - ele suspendeu os óculos pra que pudesse fixar seus olhos nos meus. - prometo que vamos consegui tirar a guarda do seu filho daquele babaca, ok? Saiba que essa luta agora não pertence só a você. - frisou. Não pude deixar de me aquecer por dentro.

- Eu nem sei o que dizer. Nunca vou agradecer o suficiente por tudo o que fez hoje!

- Apenas confie em mim e tente continuar com esse sorriso, tudo bem? - piscou, num gesto brincalhão.

Assenti e enfim  desci do carro. Apenas quando ele fechou a porta atrás de mim é que me dei conta de algo. - Espera! Você não vai trocar essa roupa? - me colei a janela.

ele desceu o vidro lentamente junto com os óculos que usava. Sei que o lado cafajeste tinha voltado no momento que ele abriu um sorriso largo - pra aonde vou, digamos que não preciso me preocupar com roupa, meu anjo.

E partiu. Me deixando sozinha no meio do passeio. Totalmente perplexa com suas palavras.

Admito. Eu pedi por isso!

Por Trás da luxúria (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora