Capítulo 39

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Os dias que se seguiram pareciam como um repouso em meio ao caos. Pelo menos era assim que me sentia.

Ou talvez tivesse obrigado a ser assim, já que nos últimos dias tenho evitado qualquer ligação com o atual confronto, e com isso incluo as recorrentes ligações de Fernanda, que apesar de não aparecer no meu apartamento, ainda insiste em querer falar comigo através de mensagens que eu nunca respondia.

A verdade é que apesar da mágoa, meu coração já não guardava tanto ódio dela quanto achei que guardaria. Eu refleti bastante nos últimos dias e quase entendi o caminho que a fez cair na lábia ludibriosa do meu marido, foi a mesma que me seduziu para acreditar num conto de fadas que nunca existiu, e conforme enjoasse, ir em busca da sua próxima vítima, essa era a lógica de homens como Jeandro. Porém, essa lógica foi interrompida bruscamente ao descobrir da minha gravidez, e claro que Fernanda teria sido mais do que uma ótima distração. Ele não mediu forças para seduzi-la até conseguir o que queria.

Contudo, o fato do meu ex ser um monstro declarado não a isentava da culpa, e eu sentia que precisava daquele intervalo para conseguir digerir tudo. Talvez me priorizar um pouco, coisa que eu não fazia a muito tempo.

Renzo procurava vir me visitar todos os dias, ou pelo menos quando conseguia alternar entre o trabalho e a própria casa.

Ele ainda não havia contado a Nick sobre o meu retorno, até porque não sabíamos o que seria do meu futuro a partir dali, e nem mesmo o dele, que estava nas mãos de Fernanda. Mas procuramos viver um dia de cada vez.

- Oi. - Ele saudou com um beijo no canto dos lábios assim que abrir a porta.

- Oi.

- Dia de faxina? - notei seu deboche assim que se deparou com a bagunça. Seu conjunto de terno por baixo da calça de linho dizia que esteve num encontro há pouco tempo, algo que eu procurava não ir muito a fundo.

- Pois é. - dei de ombros. - aproveitei para dar uma organizada no apê.

Seus olhos astutos, como sempre, analisavam cada pequeno detalhe. Era engraçado observar seu corpo tão grande naquele apartamento pequeno, uma observação que Fernanda com certeza ia querer ouvir.

Suspirei ao me recordar dela mais uma vez, era realmente difícil cortar o contato com alguém que a gente conversava com tanta frequência.

- Você está bem? - Ele me encarou preocupado. Eu apenas meneei com a cabeça.

- Como você está lidando com tudo isso? - indaguei, sem aguentar mais evitar o assunto.

Ele finalmente se encostou na escrivaninha da sala e suspirou assim como eu.

- Não sei, Bel, realmente não sei. Por um lado, tenho medo do que aquele advogado possa fazer contra você, por outro, temo por minha filha que se tudo correr como eles querem, vai ficar um bom tempo sem mim.

- Você não tem medo de ser preso? Caso Fernanda colabore com a denúncia?

Ele me fixou com um sorriso triste nos lábios. - pra falar a verdade já passei por tanta merda que isso está na últimas das minhas preocupações. - ele refletiu. - só mais um pra conta.

- Não pode se entregar assim! - levantei de onde estava. - Sabe que se aqueles pilantras conseguirem o que querem, vou fazer de tudo para provar sua inocência, não sabe?

Quase pude ver pena no seu olhar - obrigado, linda, mas sei como a vida funciona, esse tipo de gente sempre leva a melhor, não importa muito qual lado esteja certo. - ele exalou alto. - Prefiro que você não se desgaste, além disso, se conseguir mesmo provar, Fernanda vai ser presa por falsa denúncia.

Por Trás da luxúria (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora