Capítulo 36

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- Senhor, entenda, por favor, não estou aqui de serviço! - tagarelei já dentro do carro, só então me lembrando que ele não fala minha língua.

- I'm sorry but I'm not who you think! (Me desculpe, mas eu não sou quem você pensa!)

Meu inglês não era dos melhores, mas lembrava de algumas frases e esperava que aquele francês (ou árabe, nem sei dizer!) entendesse a minha súplica. Entretanto, quanto mais eu explicava, mas ele insistia em deslizar a mão asquerosa pela minha perna exposta até a altura do joelho, mesmo com meu recuamento constante.

Acabou que o carro parou não tão longe. Olhando de relance pelo vidro escuro, nós havíamos apenas dado a volta e parado numa ruela deserta atrás da festa.

Ótimo! eu seria morta! - deduzi ao sentir um arrepio correr pela espinha assim que me vi obrigada a descer. Eu estava na mão de um completo desconhecido, prestes a ser estuprada ou coisa pior, tudo por uma maldita ilusão de que o antigo Renzo ainda existia.

Chinguei a mim mesma enquanto era empurrada por uma porta estreita frente a uma escadaria suja e escura. Não sabia dizer a direção, mas pelo barulho de risadas e cheiro forte de substância, sabia que estava sendo carregada de volta ao bordel, dessa vez porém, tinha certeza que seria levada a um dos quartos particulares e de lá só deus sabe qual seria meu fim!

No meio de tanta gente naquele cubículo, percebi que pedir socorro seria inútil, a maioria já estava tão chapada que não ligaria nem se eu estivesse com uma melancia no pescoço.

A escuridão do lugar tornava sombrio as cores e as silhuetas ao redor, até que uma luz branca iluminou algo que achei ser um cabelo loiro, mas não pude ter certeza.

Sim, estreitei os olhos que já se acostumavam com a parca luz, e o contorno de um homem de cabelos claros com uma cerveja entre as mãos era realçado a cada luz que passava. Ele tinha uma mulher ao seu lado, pendurada e se ocupando de cada parte do homem que um dia foi meu. Gelei no momento em que a vi segurar seu queixo e guiá-lo até seus lábios que a beijou sem cerimônia, o toque dela ficando cada vez mais indecente à medida que descia pela camisa e Renzo não parecia ter a menor intenção de afastá-la.

Foi como ver o que restava de mim ser partido ao meio.

- Allons! (vamos!) - o cretino me empurrou e acabei tropeçando em uma mesinha que nem tinha visto a frente, derrubando alguma coisa que parecia ser uma garrafa de vidro vazia.

O baque surdo chamou a atenção dos dois no sofá. Renzo se virou para onde tinha ocorrido o incidente e assisti seus olhos irem da garrafa pra mim, e então se fixarem com horror assim que reconheceu meu rosto.

Não pude evitar corar com a vergonha de ter sido flagrada, sei que é loucura, mas no fundo eu preferia que ele não acompanhasse de camarote a humilhação que eu estava prestes a passar, do tamanho que estava a sua mágoa, com certeza veria a minha situação como um castigo bem feito depois do quanto o atormentei.

Procurei desviar o olhar, minha sina por pior que fosse, ainda era melhor que o peso daquelas íris verdes que com certeza não expressava nada além de desprezo em relação a mim. E eu não sei se estava pronta pra lidar com aquele novo Renzo.

Os dois homens me escoltaram corredor adentro em direção a outra cortina que pelo menos possuia lâmpadas do outro lado, entretanto meu alivio durou poucos instantes, até perceber que aquelas mesmas carreiras de luzes levavam á vários quartos de um corredor ainda maior, e os barulhos que ecoavam por trás das portas não pareciam de tortura, mas muito menos prazer!

Ok! Eu nunca quis nada disso, e não sei se era tão forte assim! Como diabos minha história foi parar num final tão trágico?

Fechei os olhos em desamparo no momento que recebi um tapa na bunda do abusado que se tornaria meu cliente, antecipando o que aconteceria assim que entrássemos na única porta aberta no final do corredor, que para meu lamento se aproximava a cada passo relutante.

Por Trás da luxúria (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora