Capítulo 13

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Renzo

Tentei manter meu corpo quieto enquanto observava a mulher em frente a minha filha, porém a preocupação desmedida estava me matando. Eu podia me controlar, mas não por tanto tempo. - Não acha que está demorando muito pra baixar? Não seria melhor levar ela a um hospital? - tentei pela quinta vez.

- Querido, ela tomou o antibiótico só a cinco minutos. Pode ser um bom remédio, mas não faz milagres. 

- E eu não vou pra o hospital! - minha filha exclamou, pra logo após ter um novo acesso de tosse.

- Eu tenho que ir - ela se levantou pegando a bolsa médica - logo ela estará melhor, não tem mas muita coisa que eu possa fazer, apenas se certifique que ela fique em repouso, sim?

- Ir embora?! - corri até a mulher que até então fora meu bote salva vidas. - E se a febre não baixar, Amanda? E se ela piorar?  Meu deus, e se a febre subir?

- Renzo, por favor! É só uma virose branda! Provavelmente não vai durar mais do que alguns dias.

- Eu sei, mas...

- Pai... - escutei ela gemer baixinho.

- Oi, minha linda.  - sentei com delicadeza na cama felpuda e acariciei seus cabelos suados - como está se sentindo?

Ela só soltou um leve grunhido e se voltou de lado abraçando o unicórnio de pelúcia. 

- Deixe ela descansar um pouco, Renzo. Responder suas perguntas só vai desgasta-la ainda mais.

- Não entendo como essa febre surgiu, ela estava tão bem...

Se eu pudesse odiar Vanessa por algo, seria por ter deixado essa herança maldita pra ela. Uma imunidade tão frágil.

- É normal com essa mudança de clima. Crianças costumam ser mais sensíveis. Por que não vamos lá pra fora um pouco? - ela ofertou, arreganhando a porta.

Observei minha pequena enquanto se remexia num sono conturbado. Apesar de me doer o coração, não tinha mais nada que eu podia fazer, minha presença ali só podia deixa-la mais agitada.

- Tudo bem - me levantei com hesitação.

Fomos para fora do quarto silenciosamente. Tranquei a porta devagar e me virei pra Amanda, minha amiga e algumas vezes cliente, mas que e podia contar em momentos de desespero como esse.

- Valeu por ter vindo, de verdade. Ela começou sem querer comer direito o dia todo, mas piorou quando deu a noite. Quanto eu preciso te pagar? - começei a retirar a carteira do bolso.

- Renzo, querido. Não ache que vou cobrar por atender um capricho seu. Sabe que ela ia melhorar com ou sem a minha vinda, agora quanto a recompensa... - ela se aproximou, deslizando a mão pelo meu tórax. - Estou aberta a discussões.

Desconfortável, retirei sua mão com delicadeza - Minha filha está com febre no cômodo ao lado, Amanda. - apontei - Não ache que eu tenha cabeça pra pensar nisso agora.

Vi o constrangimento inundar suas faces pálidas. - Claro. Não quis dizer agora, me desculpe - ela abaixou a cabeça, revelando um mínimo de bom senso. - Só espero que se lembre desse favorzinho no próximo final de semana, o Alex vai viajar no sábado - ela veio até meu rosto dando uma mordida nada discreta no meu lábio inferior. 

Claro que eu não podia esperar tanto bom senso assim...

- Veremos, está bem? melhor você ir - indiquei a porta.

- Melhoras pra você e pra sua pequena. - ela deu uma piscada com os longos cílios e saiu rebolando tranquilamente em direção a porta.

Nunca gostei muito de ver a interação entre minha vida pessoal e o que dizia respeito ao meu trabalho. Evitava a todo custo a não ser o estritamente necessário. Como nesses casos. Eu me perguntava se elas realmente se tocavam de que eu tinha uma filha e me preocupava, ou se pensavam que não passava de uma brincadeira pra pagar de bom pai. Em todo caso, por conta da profissão que eu acabei escolhendo seguir, era visto mais como objeto de luxúria do que como um ser humano.

Por Trás da luxúria (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora